Por Germano Xavier
nem a mais empírica mente conseguiria explicá-lo
da maneira que preencha todas as lacunas do significado.
nem o mais intrínseco raciocínio revelaria seus atônitos mistérios.
complexo sentimental que envaidece a razão humana.
até o mais leviano dos seres sentiu, na epiderme do coração,
o fogo que transcorre por entre as veias, produzindo sensações.
complexa ardência que permite à alma um renascimento perante a vida.
iracundo tormento que deixa sequelas a quem não sabe domá-lo.
às vezes cruel, derrama a cólera depois do desfecho.
às vezes singelo e perspicaz, perante o beijo e o afago.
o que trazes consigo, incrédulo e arcanoso ser?
por onde te escondes e qual o teu talhe visual?
és a fonte do despeito depois de uma rorejada insana ao passado.
és palavra grácil e acolhedora quando usada na primeira pessoa do plural.
nem o favo do mais doce mel é capaz de vencer sua doçura.
arte milenar com finalidades contrárias e confusas.
com ele, sonhos são vividos, paraísos descobertos...
ilusão da ganância, miragem num deserto...
onde os homens são máquinas, marionetes programadas.
onde a sede já não consegue ser saciada com água,
e o alimento não é mais combustível, mas sim a desgraça mundial.
ambição incontida de uma consciência em profunda degradação.
há quem diga que és o mais belo dos belos.
um lavabo onde só escorre o desejo e a paixão mais eloquente.
até que se inflama a rotina do dia que rapidamente se desfaz,
tragando os mais variados sentidos de toda a sua valoração.
confundido com o mais frágil dos antigos cristais.
és chamado de alicerce fundamental de uma construção,
que se torna vitalício ao toque do cuidadoso arquiteto.
carrossel a girar no submundo das emoções.
girassol a acompanhar o choro do sol clamando ficar.
janela aberta, que permite aos pássaros o canto mais aconchegante.
tu és o alvo máximo, o trajeto a ser seguido, o ponto final...
o fascinante brilho das estrelas no firmamento.
as primícias das estações que nutrem os corpos no cansaço.
um deslumbrante oásis em meio à terra desumificada.
o ósculo no átimo mais expressivo do prazer.
o exagero e o comedido, o testamento e o dever.
consequência natural para aquele que o incorpora.
a união familiar de organismos estranhos.
o tudo e o nada, a força e a fraqueza,
e a debilidade dos homens.
enfim, és tu o mais puro retrato da impureza da vida?
Salvador-ba, abril de 2002.
Um comentário:
Aqui eu deixo apenas meu silêncio, meus aplausos (em pé!) e a minha admiração. MARAVILHOSO!
Um beijo...
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