sábado, 28 de julho de 2012

André


Por Germano Xavier 

Ao amigo Jorge Ferreira dos Santos


Existiam dragões no ar. A técnica do sfumato fechava demais o tema. Teimou em continuar o trabalho, cabisbaixando-se. Ele sabia que era preciso mudar. Mudar na luz, mudar na sombra. Pensou em retirar o tom carvão, em parafuso consigo mesmo ficando. Pensou em investir mais no grafite. Diminuiu as mãos do verniz de madeira por sobre a tinta ainda fresca. O pincel entre o polegar e o indicador, apontado para a figura brotando, no escopo a liberdade. André era um homem cansado da perfeição aos 24 anos de idade. Sem pai, sem mãe, sem irmão, sem casa, sem mulher, sem amor, sem ódio, sem nada e em tudo absoluto.

- Não, perfectione! - rosnou André.

Queria a circunstância que tinha a variedade dos vazios, que tinha espaços incertos, que necessitava de borrões. André sabia que existiam dragões no ar. Tinha a nítida percepção de que ele mesmo os criara, qual um pastor cuida do seu gado, estação por estação, batendo contra o chão o bastão de direcionar caminhos, e que ele arrancara com ira os nós dos cadeados das gaiolas, descerradas agora numa fúria acessada em vinganças. André mataria a si próprio caso não efetuasse uma transformação. Ele tinha consciência disso. Todos tinham. Ter um propósito não era estar perto do que é completo. Nenhum trabalho ativo realizar-se-á perante o noturno dos olhos cegos. Nem todos conseguiam enxergar a realidade. O que ele via neste momento, senão a sua ânsia mais interna? Que representava sua dor, senão a agônica sepultura dos seus arrependimentos?

No ar, os dragões. Eles e uma fina nuvem de poeira envelhecida pousando sobre os móveis do ateliê. André acocorado, nádegas tocando o azulejo frio, mãos investidas contra o corpo da face, triste, triste. Um artista pensando sobre o progresso e nas unidades promotoras da harmonia, nas potências das tintas avermelhadas e em idéias para um alcance qualquer. Era André perdido no momento presente, aquele que vive e não tem passado, muito menos futuro. Era um André, o artista, encabeçado numa loucura disposta ao egocentrismo, um jovem orgulhoso, subjetivo, sentimental, um viciado atormentado pelos soltos e revoltos dragões domésticos, e indomados. Um André olhando para si, sem a fiel ilusão dos espelhos.

Observou a luz entrando em feixe na sala escura. A luminosidade tecendo um caminho alimentado pelas minúsculas partículas de pó, um caminho marrom-amarelado, denunciando um apenas pouco de vida naquela tarde desmoronando. Ainda com o quadro não colocado sobre o tripé, André riscou uma linha horizontal com o pincel embebido de um preto fosco. Rápido, nivelou o tom com um cinza-marmóreo, aplicando-lhe uma mão de verniz e agigantando um gradiente imperfeito de sensação angustiante. Buscou a variação brusca e a evidência na marcação das pinceladas. Queria deixar tudo às vistas. Retirar as vísceras da pintura. Pretendeu não esconder nada. Friccionou o punho sobre a margem azulada, construindo um imenso manto azul que lembrava o mar. André pensou no dia em que viu o mar pela primeira vez, na primavera dos seus 17 anos. Mas a lembrança veio-lhe cortante e André lembrou da última vez que desejou ver o mar.

Aprendeu com os olhos as matizes do templo de Netuno e guardou para um sempre hoje as fórmulas que o pai houvera lhe ensinado. Recostado sobre a mesa antiga, André idealizou um rosto emergindo, o movimento frenético das ondas produzido pela invasão do corpo na liquidez do elemento aquífero. Um semblante acavalado, galopando as vontades mais puras de André, fundamentando toda a profundidade dos abstratos moinhos da imaginação faiscante do artista. Sem esquecer, pôs a bandeira alvinegra no areal da praia, com um absurdo detalhamento e minúcia. Uma ou outra prova de anunciação e um respeito pelo sonho vencido pelo cansaço das tentativas. Aumentou a dor das rugas porque tinha agora como acreditar na efemeridade do tempo e elevou o quadro, colocando-o sobre o tripé.

Estava pronta a peça e não estava. André viu os dragões passearem por sua cabeça, num leque de asas arrefecendo suas labaredas. Aquele rosto lindo, velho e forte de um homem feito de água. Uma imagem transbordante digna de enigmas e postulados. E André viu o feixe de luz feito de poeira perder sua força e ir se apagando, pacientemente, como uma velhinha atravessando a avenida movimentada de novidades. E André viu o único espelho do ateliê ser obstruído pela penumbra já quase escuro. E sentiu o fomento no peito de uma lava que descia seus tubos e artérias lhe arrancando míseros e rasteiros ares. Respirou fraco, sôfrego, pulmões claudicando, orgãos em soluço entre a morte e a vida. Sem suportar-se em pé, André titubeou numa vertigem traiçoeira, segurando-se no quadro. Cambaleou para a esquerda, sem largar o quadro com os punhos em garra, foi para trás e num volteio caiu tombado para frente levando o quadro consigo. Agora, rosto contra rosto, ferido pela fraqueza instantânea, André fitou estupefato o cenho que lhe beijava as bochechas úmidas e azuis, dizendo:

- André, é você?

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Culpa da "dois tempos"


Uma homenagem ao 27 de Julho - Dia do Motociclista.

Por Germano Xavier 

pela memória de Steve Mcqueen,
ator que dispensava os dublês quando a cena era numa moto...
e também pela memória de Hermano Fernandes, 
amigo-irmão falecido em cima duma Shadow VT 600.

Na fogueira das vaidades mundo-humanas, desconheço aquele que ainda não se queimou. As marcas das queimaduras que permanecem abrem espaço para o nascimento de inúmeros sentimentos – ou pecados, diriam alguns. Se virtude ou vaidade, pouco importa, o homem quer sentir o que há para ser. E comigo não foi diferente. O assunto “carro” lá em casa sempre esteve na pauta do dia. Se me perguntam, hoje, sobre minhas primeiras influências no quesito leitura, digo logo que foram as revistas que versavam sobre automóveis e motos, presentes em toda a minha infância e principalmente adolescência, que desempenharam este papel, e bem. Era um evento quando eu ficava sabendo que a revista tinha chegado à agência dos Correios, na minha cidade natal Iraquara. Eu chegava de onde fosse e tomava um banho exclusivamente para saborear aquelas folhas cheirando a tinta fresca. Eu fazia uma leitura possessiva, sendo que ninguém lá em casa poderia ler a revista antes de mim. Quando a ordem por mim desejada era quebrada, eu ficava muito irritado – meu irmão mais velho que o diga. Mas aí se foi a infância, a voz foi logo engrossando, pêlos nasceram pelo rosto, e o que antes era apenas teoria foi aos poucos se tornando uma das mais deliciosas práticas. Meu pai tinha uma espingarda antiga, e também alguns cartuchos vermelhos presos a uma cinta de napa meio acinzentada, que nunca acreditei que seria usada por ele, homem pacífico que é. Certo dia meu pai resolveu trocar a carabina por um velho Fiat 147, o famoso “saboneteira”, primeiro carro da marca italiana produzido em série em território brasileiro – se não me engano, as primeiras unidades saíram da fábrica mineira de Betim ainda no ano de 1976. O carro pertencia a um mecânico da cidade e esteticamente até que não estava tão mal assim. Com os dias passando, o carro, que era de cor bege, foi apresentando seus primeiros problemas. Um dia não quis ligar, e meu pai mandou fazer uma ligação direta. O carrinho não precisava mais de chave para ser ligado. Era só apertar um botãozinho embaixo do volante e pronto, o motorzinho dava o ar da graça. Outro dia, chovendo muito, fomos eu e meu pai comprar pão na rua e no meio do caminho sentimos que o carro não era à prova d’água. O líquido do céu entrava pelas brechas das portas, devido às borrachas de vedação ressecadas e já muito boas de serem trocadas. Foi com o Fiatinho que meu pai ensinou a gente a dirigir – eu e meu irmão mais velho. Quase todo dia, depois que ele terminava o expediente, chamava a gente para ir ao engenho do velho Sinésio. Aquela hora estava se tornando o melhor momento do dia. Meu pai tirava o jaleco, vestia uma roupa leve e lá íamos nós, todos juntos no possante. Meu pai, na época, tinha um carro mais novo, e como que já suspeitando das possíveis barbeiragens e manobras perigosas, não quis deixar que o dirigíssemos. Ele tinha razão. Nos primeiros dias, foram muitos os pulos e estancamentos, marchas engatadas sem sincronia, finos tirados em buracos e cercas, até o dia que já conseguíamos sair direitinho e até colocar uma terceira na estrada de barro. Tirando as inúmeras oxidações da bateria, que impediam a partida, e a quebra do trambulador da caixa de câmbio já com o dia totalmente escuro e com a gente pra lá do engenho de cana-de-açúcar do velho Sinésio - problema crônico dos primeiros modelos da Fiat -, o carrinho serviu foi muito e acabou deixando saudade quando meu pai achou que era melhor passar ele pra frente. Depois de aprender a andar sobre quatro rodas, em cima de duas seria moleza, pensava. Iraquara sempre foi propícia para esses tipos de liberdade. Pouca vigilância, quase nenhuma preocupação das autoridades, e quase todo mundo que não fazia mais xixi na cama andando com seus dirigíveis pelas ruas da cidade. Um dia minha mãe incutiu que queria uma moto pra passear e ir à escola onde trabalhava, e foi aí que a primeira motocicleta aportou na garagem lá de casa. Na verdade, uma motoneta. Uma simpática Honda C100 Biz na cor preta que veio deitada no interior da Veraneio de João da Kombi - João ficou conhecido por transportar o povo de Iraquara na Kombi marrom dele, que vez ou outra pegava fogo na estrada, por isso a alcunha, apesar de agora estar com o Chevrolet símbolo da Ditadura (só lembrar do "Veraneio vascaína, vem dobrando a esquina", do grupo musical Aborto Elétrico) - oriunda da cidade de Irecê, onde depois viria a fazer todo o meu segundo grau escolar. Fui o primeiro a dar a partida nela e a ouvir o ronquinho fino e silencioso. Uma delícia aquele dia. De noite vieram meus primos e ficamos indo e voltando ao fim da rua, mil vezes sem nunca enjoar da atividade. Foi uma diversão. Minha mãe, a suposta proprietária da moto, deu alguns volteios pela rua, mas depois de alguns sustos e de algumas lombadas traiçoeiras, acabou percebendo que não era a sua praia. Meu pai bem que tentou também, mas nada. Foi com ela que aprendi aos poucos noções essenciais de mecânica. Fim de semana eu a desmontava por completo, mexia nos cabos, bulia nos caninhos, tirava praticamente tudo e colocava novamente, limpava e remontava. Minha mãe ficava sem saber como era que eu fazia aquilo, e eu brincando de quebra-cabeça. Foi também montado na “Halleybiz”, apelido que dei a ela, remetendo-me às famosas e potentes Halley-Davidson norte-americanas – oh, que ousadia! -, que tentei meus primeiros passos na arte de andar sobre uma roda apenas. Eu estava conseguindo ficar até um bom tempo empinado, mas um dia a moto quando desceu bateu seca no chão e quase tombei pro lado. Era o fim de minhas tentativas. Depois daquele dia, nunca mais fui tentado a empinar uma moto. Esse tipo de apresentação eu deixava pro pessoal dos “Motoqueiros a Pilha”, grupo lá de Iraquara que fazia estripulias maravilhosas em cima das magrelas – Gu, lembra daquele dia que o delegado novato de Iraquara correu atrás da gente feito perseguição de filme até a praça do São João, apontou até arma pra gente, sem saber que era o dia dos festejos juninos, cuja apresentação dos “Motoqueiros a pilha” era liberada, assim como qualquer modificação que fizéssemos na moto? Estava muito barulhenta mesmo, ele até que tinha razão. Nesta época, já tínhamos trocado a Bizinha por uma verdadeira "máquina": uma Honda CBX 200 Strada. Eu já morava na Capital do Feijão e um colega meu disse que estava querendo vender uma moto que tinha acabado de comprar na mão de um médico, que ia se mudar. O doutor comprou e deixou ela encostada num galpão. Tinha 16.000 quilômetros quando fizemos a troca na Biz, muito nova e linda. Roxa e com um escapamento Roncar Coyote RS1 que depois colocamos, ficou parecendo uma nave, como se diz por aí. Muita história pra contar em cima dessa “duzentas”. Viagens pra cidade de Presidente Dutra, passar o fim de semana na casa do meu colega Leandro “Manchinha” – o apelido vinha de um sinal enorme que tinha na bochecha. Lembro que o pai dele era apaixonado por motos, tinha na garagem uma Honda Sahara 350 e uma Yamaha XT 600 lindona, azul, cor clássica da marca nipônica. Ainda em Irecê, lembro do dia que fomos fazer a gravação do filme O Cabeleira na chácara do avô de “LB” – vulgo Leonardo da lanchonete, colega de classe. Era um trabalho que o professor de literatura Erik Machado tinha passado e o filme era baseado na obra de Franklin Távora, e eu fui o roteirista e o diretor-cinegrafista – até hoje tenho a fita. LB era Teodósio, Rafael – meu grande e melhor amigo Rafael fazia o papel do Joaquim, e "Manchinha" ficou sendo o próprio Cabeleira. Fomos todos em cima de motos, numa aventura boa a base de muito vento e sensação de liberdade. Como era fim de ano, tinha deixado a Strada em Iraquara. Pra lá fui pilotando a Kasinski GF125 F pretona de LB. Acostumado com a CBX, achei a moto do gordo muito amarrada, talvez uma metáfora para a nossa querida indústria nacional. Também nos fins de semana, às vezes, íamos ao aeroporto, em “comboio”, ver ou fazer manobras radicais. Eu, com as chuteiras penduradas precocemente, só fazia observar os artistas. Tinha um carinha que só faltava fazer chover em cima da XR 200 azul dele, nunca esqueço. Como era bom! Aí pra acabar de completar, um dia chego à casa da minha tia em Canarana-Ba, em dia de festa popular, e encontro parada na garagem uma verdadeira máquina: uma deslumbrante Suzuki GS500 E, azul, do marido dela, verdadeiro cavalo de aço. Endoideci, vidrado fiquei olhando, e daí veio Adaílson e me perguntou se não queria dar uma volta nela. Nem acreditei! Eu a bordo de uma “quinhentas”. Muito emocionante. Você, que chegou até aqui na leitura desse texto, deve estar me achando um idiota, eu sei, mas não me leve a mal. É uma vaidade sadia, um gosto bom, confesse. A gente chega fica fofo em cima de uma moto desse quilate. Gastei minhas economias todas colocando gasolina no tanque dela, mas valeu a pena. Nunca me esquecerei. E por falar nesse tom bastante nostálgico – alguns poucos teimarão em acreditar -, digo orgulhoso a vocês que já andei numa legítima “Viúva Negra” – apelido da histórica Yamaha RD 350, que por ter muitos de seus amantes mortos em acidentes quando pilotavam ela, recebera tal insígnia. Veja o que Júnior Faria, expert em história de motocicletas, escreveu sobre a “Viúva”: “Apesar de todos os nossos conflitos sociais e políticos, ganhávamos ainda, talvez com a influência da juventude transviada de James Dean, um grande prazer extra. Um vínculo entre a atitude e a morte. A Viúva Negra. Era assim chamada uma motocicleta que chegou aqui importada do Japão: a Yamaha RD 350. O mito. O absurdo. Seu peso/potência acima dos 5.000 giros tinham uma relação fora dos propósitos de segurança da época. A tecnologia usada em seu motor bi-cilíndrico superava qualquer sonho de piloto de corridas daqueles saudosos anos “dourados”. Eram exatamente 347cc, com 140 quilos de peso, câmbio de seis marchas e uma tremenda arrancada. Seus freios a tambor eram ineficientes para tanta força e velocidade. Um assombro. Seu ronco estridente ficou conhecido por muita gente, mesmo por aqueles que não tinham adoração por motocicletas, que o escutavam nas madrugadas, cortando o silêncio. Ela foi a responsável por inúmeros acidentes, muitos fatais, resultado de exageros daqueles que tentavam tirar o máximo de sua esportividade. Além daquele guidão Tomazelli (parte das customizações que eram feitas na época), que a deixavam com uma aparência agressiva, tinha também o charme de se dar a partida no pedal (elétrica nem pensar), esses e outros inúmeros detalhes faziam parte marcantes da cobiçada “Viúva Negra”. Verdadeiro “status” de coragem era pilotar esse mito, que até hoje causa saudades nos mais apaixonados por motocicletas e velocidade, quando se lembram daquele cheiro de óleo 2 tempos queimando e daquela fumaceira que saía do escapamento. As atitudes fazem os mitos”. A moto, branca com faixas vermelhas, era do meu colega Guto, cujo pai era mecânico e adorador das duas rodas. Lembro que ele tinha fechado um dos carburadores, pra não consumir muito, e a fumacinha estava saindo apenas por um lado. Maravilha da arte ciclística. Nada ainda que se compare em minha convivência com esses objetos alígeros. Depois disso andei em CG’s, Sahara, ML’s, DT's 180, Twister, Bros, Suzuki Boulevard M800, a moto de vender pão de Milton, etc e etc, cada qual com uma lembrancinha guardada na memória. Hoje minha companheira é uma Honda CBX 250 Twister (era no tempo em que escrevi este texto, hoje ando em sua sucessora, uma CB 300R na cor branca) - fruto de um 2004 de muito trabalho na cidade natal -, com quem cruzei várias vezes a Chapada Diamantina e o norte do estado da Bahia em viagens fantásticas. Vou terminando essas minhas reminiscências, sem antes deixar de recordar uma moto especial em minha vida, talvez a culpada de tudo: uma Yamaha TT azul-marinho. Eu ajudava meu pai, quando pequeno, nos afazeres cotidianos a um cirurgião dentista. Arrumava os alicates, preparava o cimento-resina que seria aplicado nos pacientes, isso e aquilo. Entre um paciente e outro, saía e olhava o corredor do posto de saúde. E lá estava ela, com aquele ar triste, como que implorando um punho avesso à monotonia de uma cidadezinha do interior, fazendo-me ficar apaixonado por tal coisinha de metal, tão tímida e faceira, apaixonado por um amor que a qualquer momento, sei eu, pode me passar uma dolorida ou até definitiva rasteira. 

O peregrino Equador


Olha só onde o Jornal de Literatura e Arte O EQUADOR DAS COISAS foi parar... na Livraria Alternativa, em Uberaba-MG. Uma equipe de detetives especializados em fugas literárias está tentando decifrar os mistérios desta peregrinação equatoriana... mas conta-se que O Equador das Coisas está muito feliz ao lado de seus companheiros das letras. 

Obrigado Iara Fernandes e todo o pessoal da Livraria Alternativa.



quinta-feira, 26 de julho de 2012

O fantasma de Wagner


Por Germano Xavier 

|A crisálida é uma doença.
|A vida borboleta-se.

no espelho reside o pó nosso (de cada dia)
deixado do avesso na sombra ou no adeus
marcando em compasso a hora morta de se anoitecer

objeto abjeto que escala uma dor e um ardil
- toda polêmica em estar do outro lado do vidro
quando estamos vivos no lado menos pálido

tu que acordas na manhã nascente
e que embrulhas a alma no sol vestibular
sedes o verso de refletir abusos e tais

afane tua cena no que ainda há de desconstruído
memorize tua agilidade em ser logo cedo
vença a concórdia de uma olhadela interna
e sucumba ao teu primeiro golpe
do teu primeiro crime
slogan excêntrico-existencial

terça-feira, 24 de julho de 2012

Literatura em pílulas Domit


Por Germano Xavier 

Sobre o livro Colcha de Retalhos, de Rodrigo Domit

não pare de tomar a pílula literária
não pare de sofrer pela literatura
não pare de morrer literariamente
não pare de pilular-se, Homem
não pare de literalizar-se, Homem
tome as pílulas Colcha de Retalhos
(do laboratório Domit) e cubra mais os pés

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Teoria Gramatical: Implícita e Explícita


 Por Germano Xavier

Questões para a educação atual

Em nenhuma ocasião devemos, na importância de pesquisadores e estudiosos da língua materna, desprezar a essencial e vivaz existência de uma gramática dita implícita, internalizada nos indivíduos, intrínseca à natureza da sabedoria humana desde os instantes primeiros da vida. É dessa forma que, no excerto Teoria gramatical: implícita e explícita – A teoria gramatical interior da criança, o filólogo e linguista Celso Pedro Luft abre a discussão sobre as características e valores dessas duas teorias do universo da gramática, confrontando suas qualidades, relevâncias e usos.

Tão fundamental quanto acatar essa ideia é aceitar todo o mecanismo processual através do qual a gramática internalizada adquire legitimidade, desde o seu nascedouro até a sua prática/uso. Definida como sendo o universo de regras dominadas pelos indivíduos falantes, a teoria gramatical interior da criança, segundo Luft, brota na mentalidade do ser quando ainda apresenta-se na idade de mais ou menos 3 anos, sendo que por volta dos 4, 5 ou 6 anos o indivíduo operador de fala já desenvolve essa ação sem embaraço.

Pode-se dizer que a gramática natural ou internalizada é, indubitavelmente e diferente do que muita gente acredita, a real gramática da língua, sendo que é justamente dela que se originam as demais gramáticas livrescas, inclusive a explícita, esta considerada um produto e ensinada na escola. A gramática implícita completa-se através dela própria e também por meio dos indivíduos que jamais foram à escola, preconizando a ideia de que o simples fato de ser um analfabeto o impeça de se comunicar de maneira clara e objetiva por meio da língua. Este modelo gramatical está inteiramente relacionado com os conhecimentos prévios interiores dos falantes.

A todo instante, Luft escancara a grandeza da teoria gramatical implícita e faz inúmeros questionamentos acerca de como seria possível uma criança, independente de qualquer base intelectual ou habilidade, pode saber utilizar com tamanha maestria o objeto língua, debate com afinco as prováveis hipóteses que as crianças, mesmo em idade parca, utilizam e organizam em suas mentes para efetuar a elaboração de frases ou sequências de palavras, de uma maneira que esses ordenamentos sequenciados e frasais sejam compreendidos e vistos como pertencentes a uma determinada língua materna. A conquista da linguagem pelo infante se dá de maneira inconsciente. A criança verifica e analisa diversificadas hipóteses, escuta e apaga as falhas, arquivando as hipóteses que ela julga serem corretas em sua mente. Após isso, a criança, capacitada para falar e construir frases, faz uso ilimitado da sua teoria internalizada gramatical.

Destarte, a gramática interna da língua pode ser considerada uma sistematização de regras flexíveis para a fala, fazendo com que as pessoas, sem nenhum tipo de restrição, possam variar a fabricação da fala no que depender da situação e do lugar em que se encontram. Respeitando para isso, todavia, a noção de que a língua é mutante, variando dependendo da classe social, da faixa etária, do nível educacional, da localização geográfica, entre outros aspectos. Por assim acreditar, é verdade a afirmação de que não existe uma língua correta, o que existe na realidade são variedades linguísticas.

No final do texto, Luft deixa claro a sua posição de discordância acerca da necessidade do ensino da língua em ambiente escolar, mostrando-se muito insatisfeito com o problema. Diante de todo esse imbróglio, e trazendo a discussão para um âmbito mais aproximado do contexto dos educadores e futuros educadores brasileiros, é de total responsabilidade do educador perceber o iniciante no estudo linguístico como um ser que já conhece e já é fluente na sua língua. Fica óbvio que a prática do ensino da língua materna precisa urgentemente de uma reformulação.

O ensino deve aumentar gradativamente a habilidade de comunicação do aprendiz, manejar a língua de modo que essa labuta auxilie o mesmo a ir aperfeiçoando o uso do material linguístico de que dispõe por meio das ferramentas da fala e da escrita, olhando para as dificuldades dos alunos como mais uma proposta de superação e resolução de problemas, pois mexer com os “erros” do alunado é deveras uma ação instrutiva indispensável. O verdadeiro profissional da educação necessita estar lúcido para suspeitar que o fundamental não é o estudante interpretar frases, tampouco julgá-las analiticamente, mas sim guiar seus alunos na direção do uso de uma fala e de uma escrita sem embaraço em quaisquer situações de suas vidas. Ter em mente, sempre que for preciso, que o ensinamento de uma língua nada mais é que o aprender de uma linguagem. Nesse caso, o único e verdadeiro ensino é justamente aquele capaz de formar indivíduos seguros na prática expressiva de suas ideias, estejam elas na forma oral ou escrita. Mas como nem tudo são flores neste ambiente intelectual, há ainda os tradicionalistas que, por via de regra, aceitam apenas a norma dita culta, fato que transformam as outras variedades da língua em situações extremamente equivocadas.

domingo, 22 de julho de 2012

A EJA e a Educação


 Por Germano Xavier

Resumo descritivo do texto “Níveis e modalidades da Educação e de Ensino”.

LIBÂNEO, José Carlos; OLIVEIRA, João Ferreira de; TOSCHI, Mirza Seabra. Educação Escolar: políticas, estrutura e organização. 5.ed. São Paulo: Cortez, 2007.

Tomando como pressupostos as indicações legais oriundas tanto de textos presentes na Constituição Federal de 1988 quanto na Lei de Diretrizes e Bases de 1996, os autores fazem uma espécie de delimitação dos perfis dos diferentes territórios abarcados pela educação escolar brasileira, que, em primeira instância, divide-se em dois níveis: educação básica e superior. A primeira, que tem seu ciclo completo no percurso que vai da educação infantil até o ensino médio, é constituída de três fases e objetiva a formação geral do indivíduo, apresentando ferramentas indispensáveis para sua inserção do mesmo nos mais diversos segmentos da sociedade. Durante a fase da educação infantil (primeira etapa da educação básica), a instituição educacional funciona de modo a complementar as ações da família e da comunidade a qual o educando pertence. A educação infantil é dever do Estado, mas sua manutenção por parte dos municípios arca nos dias atuais com uma série de entraves de ordem financeira, o que impossibilita seu bom funcionamento. A educação infantil é um nível educacional menos entronizado no quesito dos resultados, sendo de caráter apenas observador-formador da criança até a idade de seis anos. E para sua melhor gestão, conta ainda com o norteamento das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs). Já na segunda fase da educação básica, ou seja, no ensino fundamental, o ensino pretende atender a todos, sem exceção, que não foram atendidos devidamente nos anos anteriores. São visíveis as irregularidade na oferta de vagas ou em seu funcionamento propriamente dito quando analisada na esfera educativa nacional. Configura-se como parcela essencial no desenvolvimento intelectual do indivíduo, pois é aqui onde se dá a apreciação mais aprofundada da leitura, escrita e, por conseguinte, a iniciação da consciência crítica. Para melhor organizar este período, legou-se dividi-lo em ciclos, o que também oportunizou maior e melhor distribuição dos recursos por parte dos municípios. É obrigatório e sua jornada tem por característica ser variável, podendo suceder durante o tempo mínimo de quatro horas ou ir em extensão até tempo integral, o que demanda maiores recursos para a sua manutenção. Segundo dados oficiais, cerca de 36 milhões de alunos matricularam-se no ensino fundamental no ano de 1998 na tentativa de efetuar a melhoria e construção de princípios requeridos para uma cidadania plena, enveredando-se por um currículo amplo e diversificado. A terceira fase da educação básica é a que denominamos de ensino médio. Apresenta-se ainda muito deficitária no atendimento aos indivíduos que estão na faixa etária apta, porém vem revelando nos últimos anos índices mais animadores. O ensino médio não tem caráter obrigatório e tem duração de, no mínimo, três anos. Segundo a nova LDB, é o momento de consolidação dos conhecimentos, preparação para o trabalho, autonomia intelectual e maior correlação entre a teoria e a prática. Colocado sob prismas diferentes, o ensino médio tanto pode funcionar como uma porta de passagem para o ensino superior, como também levar o aluno diretamente para o campo de trabalho ou, numa última e mais complexa acepção, levá-lo a combinar os dois aspectos – propedêutico e técnico ao mesmo tempo. Os pilares norteadores do currículo do ensino médio vão desde a identidade, passando por diversidade e autonomia, e indo até os quesitos ligados aos termos interdisciplinaridade e contextualização, cada um deles interferindo de forma positiva na produção do pensamento e na prática social. O segundo nível da educação escolar brasileira atende pela denominação de educação superior. É justamente aqui onde se dá a formação profissional em variados setores do saber, assim como a maior parte da produção de cunho científico-cultural e tecnológico de nosso país. Cursos seqüenciais, de graduação, de pós-graduação e de extensão formam o aparato de ferramentas educacionais constituintes do ensino superior, sendo que cada um dos instrumentos visam a atender parcelas com necessidades intrínsecas e múltiplas. A LDB regulamenta a operacionalização destes recursos em universidades, centros universitários, faculdades integradas, faculdades e escolas superiores. O acesso ao ensino superior ocorre através de inúmeros tipos de processos seletivos, não só acontecendo por meio do vestibular, modelo de seleção de candidatos mais tradicional no Brasil. Partindo para as modalidades de educação, pode-se fazer a devida separação: educação de jovens e adultos, educação profissional e educação especial. A EJA é uma modalidade que pretende suprir as pendências de quem não pôde ter acesso ou não concluiu o ensino fundamental e médio na idade correta. Tem caráter obrigatório diante do texto constitucional e apresenta-se como um direito público subjetivo, de aplicabilidade imediata. A educação profissional dialoga com segmentos vários, mas tem como base proporcionar capacitação para a produção. Envereda-se pelo ensino dito regular e atende quase a totalidade de tipos de alunado, esteja em que nível de ensino estiver. Subdivide-se em três níveis: básico, técnico e tecnológico. A educação especial também é dever do Estado e vem, através dos anos, sofrendo significativas melhorias. É entendida no âmbito do ensino regular, num processo conhecido por inclusão. É obrigação de toda e qualquer escola acolher o portador de necessidades especiais, alicerçando assim o conceito de integração, tão caro à história da educação. É um processo que demanda adaptação por parte do professorado e das instituições, para que as aptidões sejam trabalhadas de forma a tornar mais opacas as incapacidades do deficiente. O texto cita a Declaração de Salamanca, que expõe a precariedade com que este setor do ensino é encarado em diversas nações, incluindo o Brasil. Por fim, tem-se a educação a distância (EAD) que, mesmo reconhecendo o papel fundante da escola, objetiva ser mais uma extensão para a educação, o que faz com que possamos desmistificar a noção arcaica de que é a instituição escolar a única fonte para o saber e desenvolvimento do homem enquanto ser construtor de saberes.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

O muco


Por Germano Xavier 

ou um ilhéu coroado em febre onde cabem todas as maravilhas

Parte III


estive contigo na dor quando perdi
ou quando deixei de ganhar você esteve comigo
não quis ver meu rosto se espatifar no chão
por tanta tristeza de amor acontecida
havia sido o meu primeiro amor e você era das poucas que sabia
que naquele instante abria-se uma fenda em mim
tal qual uma rachadura causada no solo após um bruto terremoto

você não precisava estar comigo ao sol
nem andar comigo no caminho para a faculdade
ver comigo a falta de árvores para se fazer sombra em nós dois
você não estava obrigada a me gostar assim

depois a cabeça com aqueles voleios
o tamanho dos teus seios aumentando para cima de meus olhos
dois tamanhos diferentes (eu me lembro bem)
a branqueza de tua pele roçando na minha de leve
no cineminha ao ar livre vimos o que nem todos viram
era um filme que se iniciava e sem fim

um dia você veio e descansou tua tarde em meu colo de pernas
(aquilo foi tão maravilhoso)
tua tarde caída em nós quando você perfumou minha cama com o teu cheiro

deitamos e nos amamos sem amor

até que um dia surgiu um beijo no meio de um desafio e algumas panelas
o selo na cozinha
o amor endereçado ao coração da eternidade de cada um
que não queria mais o outro
personagem maior que nós juntos
uma celebração moderna do consumo das vis sacralidades

Frederico


 Por Germano Xavier

Frederico é o nome de um livro que ganhei recentemente. Na verdade, Frederico é o nome de um livrinho-livrão, sabe - eu nunca duvidei de que escrever para crianças é também escrever para velhos seres humanos. Frederico é um ratinho de uma família de ratinhos que vive num muro gélido de pedra. No inverno, enquanto todos saiam para pegar coisas de comer para armazenar durante o frio, Frederico saia para colher sol, cores e palavras. Todo mundo questionava ele, mas o que ninguém sabia direito era que Frederico era poeta. E ser poeta em momentos adversos é possuir uma grande arma de sobrevivência. Frederico é o nome de um livro do holandês Leo Lionni. Sim, Frederico é o nome de um livro que você deveria ler.

A prática da literatura em sala de aula



 Por Germano Xavier

INTRODUÇÃO


A arte da Literatura já existe há alguns milênios. Ela é uma imitação da realidade, ou seja, uma invenção. O autor cria uma realidade imaginária, fictícia, mas o universo da ficção mantém uma relação viva com o mundo real. Um dos seus primeiros efeitos benéficos é a linguagem, uma sociedade sem Literatura escrita, se exprime com menos precisão, clareza, correção e criticidade. A palavra tem poder e seu poder ultrapassa os limites da simples significação, chegando aos limites da construção do real, a possibilidade da realidade.

Esta pesquisa se destinou com a finalidade de detectar como é vivenciada a prática do ensino de Literatura em sala de aula no 1º ano do Ensino Médio em uma escola pública estadual da cidade de Petrolina – PE. Tal pesquisa realizou-se com sucesso. Detectou-se a concepção do ensino de Literatura na série pesquisada, a satisfação dos educadores em ministrar a citada disciplina, bem como a satisfação dos alunos quanto a vivência da prática da Literatura em sala de aula. Identificou-se também possíveis erros e/ou contradições na metodologia empregada pelos professores.

Baseando-se em respostas tidas por meio de questionários compostos por indagações objetivas e subjetivas pertinentes ao ensino de Literatura, aplicados aos docentes e aos discentes, da série mencionada, e, utilizando-se do método de observação, a finalidade desta pesquisa foi captar subsídios para o maior êxito da mesma.

Assim, com este intuito, estabelecemos como objetivos específicos:

a) Identificar a concepção do ensino de Literatura no 1º ano do Ensino Médio;

b) Focalizar o nível de satisfação dos educadores em ministrar tal disciplina;

c) Detectar as satisfações tidas pelos discentes a respeito de suas vivências em sala de aula no que tange a Literatura;

d) Identificar possíveis erros e contradições na metodologia empregada pelos professores de Literatura no colégio pesquisado.

Ressaltamos que os resultados desta pesquisa não têm o propósito de definir metodologias e políticas definitivas da prática do ensino de Literatura na escola pesquisada, no entanto, podem contribuir para uma discussão do modo como vem ocorrendo a referida prática em sala de aula.

Assim, no primeiro capítulo deste relatório, está contida uma breve abordagem histórica sobre o objeto de estudo do mesmo. No segundo capítulo, o referencial teórico no qual nos baseamos, orientamos nossa pesquisa. O terceiro capítulo apresenta a metodologia, que, mencionará os instrumentos utilizados na pesquisa, bem como os procedimentos realizados nesta. Já o quarto capítulo mostra o desenvolvimento, constando a análise crítica das experiências vivenciadas e a enunciação dos resultados obtidos. O quinto capítulo trata das considerações finais.


CAP. I – ABORDAGEM HISTÓRICA


No seu contexto histórico, a língua passa por várias representações na forma de expressão escrita. A Literatura, em suas divisões de época, reflete essas mudanças que se originam entre os vínculos sociais estabelecidos pelos indivíduos ao longo de sua convivência. Foi assim no Classicismo, no Barroco e tem-se mostrado cada vez mais acentuada tal característica, tanto quanto se aproxima dos movimentos literários contemporâneos.

A língua enquanto instrumento de manifestação humana em seu espaço físico serve, em contrapartida com a Literatura, de instrumento de registro e de reprodução de costumes. A semelhança de tal afirmação é mais clara quando se observa a relação entre língua e classe social ou, na língua, entre seus neologismos e os lugares-comuns em que esses se inserem. A Literatura termina por refletir a plasticidade expressiva da linguagem.

A pesquisa prima pela abordagem do ensino da Literatura nas salas de aula do primeiro ano do Ensino Médio no contexto didático do professor em sua relação diária com o aluno, assim como também se busca verificar as características do material didático abordado na pesquisa. A análise da didática é importante no contexto da atividade, porque, assim como o objeto de estudo, a didática também é merecidamente alvo de evolução constante, o que, conseqüentemente, atinge também a linha teórica a que formula os materiais complementares à prática do docente.

O livro, a didática, a prática do professor evoluíram na sua caminhada histórica em complemento das práticas sociais vigentes em cada momento histórico compartilhado pelos seus agentes em sala de aula. A dinâmica dos contextos históricos viabilizou tal abertura na medida em que ambos aspectos mantiveram-se complementados na sala de aula.

A língua é utilizada como instrumento de comunicação e, nesse sentido, esta não distancia-se da finalidade da Literatura. Embora circunscrita num contexto histórico mais recente, a Literatura mantém suas relações comunicativas entre os indivíduos que a compõe de maneira diversa da que comumente se relacionam estes com a língua. De fato, é impossível conceber Literatura sem a língua, mas é inegável a atemporalidade de certas manifestações literárias.

As lutas, as críticas aos sistemas ideológicos vigentes e a construção de modelos de comportamento e de estética estrutural são alguns dos resquícios de influência exercida pela sociedade que, conseqüentemente terminam por espelhar as obras em cada momento da evolução da Literatura ao longo dos momentos históricos determinantes das dinâmicas sociais.

A Literatura, assim como a História mantém-se companheira das inovações e, para que existam novos papéis a serem desempenhados pelos atores sociais, é necessário que estes estejam conscientes da criticidade do instrumento de trabalho, daí a necessidade do trabalho crítico sobre o ensino e a didática da Literatura no contexto das escolas públicas.


CAP. II – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA


Quando nós falamos da necessidade de se promover a difusão da leitura, em especial de gêneros literários, devemos nos permitir questionar, e responder satisfatoriamente, se queremos fazer nossa sociedade capacitada para se fazer uma autocrítica, se queremos fazer de nossos cidadãos seres humanos capazes de verem o mundo ao seu redor com um olhar de criticidade, e serem capazes de modificá-lo, fazendo, deste mundo, um ambiente democrático, de respeito, onde haja espaço para as convivências pacíficas, democráticas, de múltiplos pensamentos, diversas opiniões, como bem requer a atual sociedade moderna, globalizada; ou se queremos apenas satisfazer mais um capricho do sistema capitalista, onde este pouco se preocupa com o crescimento intelectual do ser humano, vendo as pessoas apenas como consumidores em potencial, se não os são, ficam descartados, marginalizados.

Visto que,

Estes fatos contradizem e, simultaneamente, denunciam a maneira como é compreendida a popularização da leitura na sociedade capitalista, quando se confunde com ampliação de mercado consumidor, ou seja, com a penetração de grande número de livros em diferentes camadas sociais. (Zilberman, 1988, p. 32).


Vale ressaltar que a literatura popular preexistia da mercadológica, já que, esta passou a vigorar com o advento das produções em larga escala, onde passou a haver a necessidade do capital para a sua devida obtenção. E, a primeira, a literatura popular, era produzida por pessoas do povo e transmitida para o povo de forma oral, sem a existência de atravessadores, editoras, entre o artista e o seu público, não consumidor, mas saboreador de sua literatura.

Hoje vemos um fenômeno que chega a ser de verdadeira repulsa entre a literatura difundida pelas grandes editoras e o público de leitores em potencial. Principalmente pelo fato dos leitores não se identificarem com o que é divulgado, produzido, colocado no mercado como literatura. Há inúmeras políticas públicas e privadas de incentivo à leitura; ONGs, grandes empresas, os governos federal, estaduais e municipais compram grandes acervos de livros das grandes editoras, e acessibilizam a escolas, bibliotecas populares, associação de moradores, livros que não despertam o interesse dos possíveis leitores.

Ainda citando Zilberman(1988, p. 53),

Os programas mais recentes, na medida em que não endossam a tese de valor duvidoso de que popularizar a cultura (no caso, a literatura) significa tão-somente reproduzir a cultura popular entre seus produtores e adeptos, insistindo numa segmentação que continua afastando os setores inferiorizados da sociedade do conjunto dos bens culturais, podem constituir num fator efetivo de democratização do saber. E, portanto, de rompimento com a tradição secular de manter a maior quantidade possível de pessoas alienadas da cultura, que, por conseqüência, se desfila, perde a vitalidade e torna-se dependente de influências externas.

Assim, chega de achar que a população mais pobre deste país é incapaz de escolher, e de opinar, na produção e compra de livros que lhes são oportunizados para a leitura. A elite econômica deste país não pode ditar o que é melhor para as classes mais populares lerem, visto que, vivemos numa democracia, e esta democracia deve também ser demonstrada na opinião da compra de livros que os pobres querem ler.

É muito dinheiro gasto na popularização da leitura neste país, onde as legítimas beneficiadas são as grandes editoras, estas pertencentes à classe dominante, que não tem nenhum interesse de procurar saber o que querem ler as classes populares, pois, se estas quiserem ler obras produzidas por escritores de seu próprio meio, haverá, naturalmente, uma ruptura com os interesses das grandes beneficiadas, as editoras, já que estas protegem seus “bons escritores”.

Percebe-se que, em decorrência desses aspectos, a leitura não está constituída somente a partir de uma idéia, com o poder de um sistema ideológico. Nela está contida, também, uma sistemática estruturalizante muito mais concreta, que pretende e sabe assumir contornos de imagem, confeccionada por modos de representação característicos, manifestações próprias e atitudes intrínsecas. Faz parte dessa ambientação representativa a alusão a resultados de ordem prática, e de caráter progressistas. E tudo isso também deve ser vislumbrado pelas camadas mais desfavorecidas de toda a sociedade.

A leitura se concretiza como uma prática que só existe se houver a sua profunda difusão material, que se exerce de maneira individual ou coletiva, mas que resulta da concepção que a sociedade formula para as classes e as pessoas que a compõem. A prática de leitura é inteiramente dependente de forças impulsionadoras, sejam elas governamentais ou em menores âmbitos. Eis a razão para sempre nos depararmos com políticas destinadas à leitura – por vezes propostas por grupos, por profissionais categorizados, pelo próprio governo – bastante aptas a revelar toda a dimensão assumida pelas representações atribuídas ao seu papel social formador de consciência crítica e de cidadania.

Sobre isso, Zilberman(2008) atesta:

Políticas de leitura não deixam de valorizar a leitura como idéia; mas seu sucesso depende de a leitura ser igualmente prezada enquanto negócio. Um importante ramo da sociedade capitalista é constituído pela indústria de livros, para não se falar das fábricas dos maquinários para impressão, nem do hoje importante segmento dado pela produção de hardwares, softwares e periféricos que fazem a alegria das feiras de informática. Não ler é ficar de fora desse mundo, o que talvez signifique ficar de fora do mundo.

Já se tornou lugar comum dizer que o povo brasileiro não lê. Pesquisas revelam que lemos apenas l,8 livros por ano. Se compararmos esse dado com informações de outros países, que alcançam 5, 7, 10 e até 15 livros por ano, a noção de deficiência logo se escancara e mostra falhas enormes em todo o arcabouço educacional-cultural nacional. O Brasil lê pouco, principalmente, pelo grande contingente de analfabetos. Passamos pelo século XX, entramos no XXI com uma grande quantidade de analfabetos puros, pessoas que não sabem ler nem escrever, e também com os chamados analfabetos funcionais, grupo que esteve na escola, chegou a aprender a ler e a escrever, mas não é capaz de entender o que lê, por conseguinte, não consegue escrever um texto simples.

Entre os problemas mais proeminentes de nossa cultura, a leitura exerce um papel essencial e decisivo para o salto perante a civilidade e a cidadania que o Brasil vem realizando. Não pode haver nação desenvolvida que não seja uma nação construída e sedimentada pela figura do leitor. Do operário que necessita ler manuais até o advogado que precisa decifrar o "juridiquês", passando pelo estudante prestes a realizar os exames de seleção profissional, além do cidadão que enfrenta as urnas em época eleitoral, à dona de casa que rege a educação de sua família, ao jornalista que enfrenta sua papelada, todos os partícipes de uma sociedade civilizada são quase que obrigados a utilizar várias maneiras de leitura e interpretação de livros, jornais, revistas, relatórios, documentos, textos, resumos, tabelas, computadores, cartas, cálculos e uma multidão de outras formas escritas.

Se esta situação não for bem trabalhada, o futuro do país pode não ser feliz. Pois, como diz Fiore(2008):

Esta situação é uma ameaça latente e permanente para o nosso desenvolvimento social, econômico e político. É fundamental para o futuro da democracia brasileira estabelecer condições para que, da multidão de jovens pobres que habita as periferias, possa emergir uma massa significativa de pessoas educadas que se integrem nas nossas futuras elites. E para que isto se realize é essencial que esta massa de jovens tenha familiaridade com a leitura. Sem esta familiaridade, sua ascensão social será frustrada, nossa democracia continuará a perigo e nossa sociedade continuará pobre. Este é um fato muito pouco discutido na mídia, [...]. Mas é um problema que os políticos, jornalistas, cidadãos e empresários conscientes devem colocar na pauta de nossas prioridades estratégicas. O Estado, a sociedade e as empresas têm obrigação de compreender o problema, dimensioná-lo, identificar seus fatores críticos e estabelecer programas realistas para resolvê-lo.

Do contrário, este país continuará um gigante adormecido para o mundo globalizado, que prima cada vez mais pela tecnologia de ponta, pelo cidadão multiletrado, este capaz de entender e transformar as informações e descobertas que se proliferam a todo instante, de forma tão rápida que chega impressionar.

CAP. III – METODOLOGIA


3.1 – TIPO DE PESQUISA

Esta pesquisa foi do tipo descritiva, onde se desenvolveu numa abordagem qualitativa, analisando a prática da Literatura de Língua Portuguesa no 1o ano do Ensino Médio de um colégio público estadual do município de Petrolina – PE.

3.1.2 – SUJEITOS DA PESQUISA

Professores e alunos de Literatura de Língua Portuguesa do 1o ano do Ensino Médio de um colégio público estadual da cidade de Petrolina – PE. Foi entrevistada cada professora que ministra aula de Literatura, bem como 3 (três) alunos de cada uma das 3 (três) turmas da série pesquisada.

Os sujeitos desta pesquisa foram escolhidos por fazerem parte da rede de ensino mais ampla e complexa - a rede estadual de ensino -, esta dotada de maiores estruturas físicas, material humano e recursos orçamentários.


3.2 – INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS

3.2.1 – DESCRIÇÃO DOS INSTRUMENTOS

Foram elaborados questionários constituídos por indagações objetivas e subjetivas pertinentes ao ensino de Literatura de Língua Portuguesa. Tais questionários foram respondidos por professoras e alunos que fizeram parte desta pesquisa e serviram para fornecer subsídios que permitiram verificar a prática do ensino de Literatura de Língua Portuguesa no 1o ano do Ensino Médio do colégio pesquisado.

3.2.2 – APLICAÇÃO DOS INSTRUMENTOS

Os questionários foram respondidos de forma escrita pelos pesquisados, e os pesquisadores utilizaram-se do método da observação, objetivando captar subsídios que pudessem contribuir para um melhor êxito da pesquisa.

3.3 – LEVANTAMENTO DOS DADOS

As respostas dadas pelos pesquisados foram analisadas pelos pesquisadores e transcritas de forma direta ou parafraseada no capítulo 4 deste relatório.

3.3.1 – TRATAMENTO DOS DADOS

Os dados obtidos por meio dos questionários, respondidos por cada pesquisado, deram margem a interpretações concernentes à prática do ensino de Literatura tida em sala de aula do 1o ano do Ensino Médio de um colégio público estadual da cidade de Petrolina – PE no ano letivo de 2008. Os questionamentos foram feitos para que demonstrassem a verdadeira prática do ensino de Literatura de Língua Portuguesa no 1o ano do Ensino Médio do colégio pesquisado.


3.4 – MÉTODO DE PESQUISA

Esta pesquisa foi realizada utilizando-se o método dedutivo. Com 100% (cem por cento) das professoras de Literatura de Língua Portuguesa, além de 3 (três) alunos de cada uma das 3 (três) turmas do 1o ano do Ensino Médio do colégio pesquisado, fazendo-se a combinação dos dados levantados em sentido interpretativo, isto é, por meio da dedução, caminhando do geral para o particular.


CAP. IV – APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS


Neste momento, temos como prioridade fazer a apresentação e a análise dos dados colhidos na pesquisa O Ensino de Literatura no 1ºano do Ensino Médio de um colégio da rede pública estadual da cidade de Petrolina – PE no ano letivo de 2008. Num primeiro momento, relataremos todo o ocorrido nos processos de preparação e de pesquisa propriamente dita. Feito isso, seguiremos com a descrição do questionário destinado aos entrevistados, seguida de uma explicação do porquê de cada pergunta, para depois apresentarmos e analisarmos as respostas colhidas no desenrolar da pesquisa. Por fim, numa conclusão bem sintetizada, relataremos acerca de tudo que foi relatado.


4.1 – CAMINHO PERCORRIDO PARA A REALIZAÇÃO DA PESQUISA

Na segunda-feira, 26 de maio de 2008, dirigimo-nos à escola escolhida para o desenvolvimento da pesquisa, com o objetivo de apresentarmos à direção da mesma o Projeto de Pesquisa e pedirmos autorização para a aplicação dos questionários. Nesta ocasião, pela manhã, foi realizada a pesquisa junto ao alunado. Fomos cordialmente recebidos pela coordenação pedagógica, que deu a devida permissão para a realização da pesquisa, além de dar informações pertinentes aos professores do quadro da escola que ministram aulas de Literatura Portuguesa. Os alunos não se opuseram a colaborar na resolução do questionário, sendo que todo o processo, incluindo aplicação e recebimento do material, deu-se em poucos minutos.

Para a confecção e obtenção dos dados necessários, fez-se necessário irmos à escola no curso dos três turnos: matutino, vespertino e noturno. Em todas as ocasiões de visita, preocupamo-nos em procurar cada professor de Literatura Portuguesa presente nos respectivos turnos. Ao todo, formaram a lista de professores pesquisados 3(três) professores de Literatura Portuguesa, que ministram aula de Literatura na escola pesquisada e dão aulas um em cada turno do dia, respectivamente. Destes, todos aceitaram participar da pesquisa. Contudo, pediram para responder ao questionário somente no momento do intervalo entre as aulas, pois os alunos se mantinham muito inquietos enquanto os professores tentavam responder às perguntas.

No período da manhã estivemos nas dependências da escola pesquisada entre 9h40min e 10h40min.

Retornamos no período da tarde, onde entrevistamos mais 1(um) professor. Este último pesquisado respondeu ao questionário entre 10h e 10h15min e nos atendeu com muito boa vontade.

Dos 3 (três) professores que fizeram parte da pesquisa, os 3 (três) são do sexo feminino. Cada professora pesquisada só ministra aulas na referida escola durante os turnos em que foram lá encontradas. A pesquisa no turno vespertino foi feita entre 13h40min e 14h. já a pesquisa no turno noturno foi realizada entre 18h50min e 19h10min, do dia 27 de maio de 2008.

A cada professor entrevistado dirigimo-nos com muita cordialidade e respeito. Agradecemos a eles por terem aceitado participar da pesquisa, fizemos uma apresentação pessoal e do projeto e pedimos para todos assinarem o protocolo de ética, este foi explicado e dado para todos lerem o seu conteúdo. Faz-se necessário destacar que, com a professora do turno vespertino, tivemos mais dificuldade em conseguir as informações, devido à perceptível impaciência para com os pesquisadores. Fato esse que não se repetiu nos outros períodos.


4.2 – DESCRIÇÃO DO QUESTIONÁRIO E JUSTIFICATIVA DAS QUESTÕES

Dois questionários foram produzidos para ajudar na efetivação da pesquisa: um destinado ao alunado e outro para ser aplicado junto aos professores. O questionário direcionado aos alunos foi composto de 5 (cinco) questões abertas. Todas as questões foram respondidas espontaneamente e as respostas foram escritas de próprio punho pelos pesquisados.

A primeira questão contida no questionário respondido pelos alunos teve como objetivo detectar a sensação produzida diante de um texto literário. A segunda questão prestou-se a averiguar se existe, nos textos trabalhados em sala de aula, uma identificação por parte do alunado. A terceira proposição objetivou saber se há o hábito de leitura fora do ambiente escolar. A quarta pergunta procurou ver se os alunos gostam das aulas de literatura e do modo como elas são ministradas. Ainda nesse mesmo quesito, perguntamos se eles, os alunos, mudariam alguma coisa na maneira como a aula de literatura é administrada em sala. E, por fim, na quinta pergunta pedimos para que eles descrevessem como se dá uma aula de literatura na escola onde estudam, servindo como um meio de preencher qualquer lacuna que, porventura, pudesse vir a permacer obscura e sem coerência.

As questões direcionadas aos professores foram no número de 6 (seis), com um espaço para observações no final. Do mesmo modo que aconteceu com o alunado, todas as proposições foram respondidas espontaneamente e as respostas foram escritas de próprio punho pelos pesquisados.

A primeira pergunta do questionário direcionado aos docentes em Literatura de Língua Portuguesa da escola pesquisada pretendeu captar a informação acerca do tempo de experiência de cada professor no trabalho com a citada disciplina em sala de aula. O segundo questionamento averiguou a formação do professorado, o local de sua graduação e suas especializações. A terceira proposição procurou saber se o professor via no livro didático um empecilho perante o prazer de ler, se o livro didático atravanca o aluno e se cativa ou não o aluno. A quarta questão buscou extrair do professor uma crítica acerca da idéia de que a literatura só vem sendo trabalhada em sala de aula por meio de fragmentos de obras literárias, e não no seu todo. A quinta pergunta quis observar no professor que ele avalia como positiva ou negativa a metodologia empregada em suas próprias aulas de literatura. Na última questão, deixamos livre o espaço para que os professores descrevessem como são ministradas as suas respectivas aulas para que, durante análise, pudéssemos chocar as informações obtidas também com os alunos e, assim, formar uma melhor e mais ampla perspectiva acerca do propósito de nossa pesquisa.


4.3 – MATERIAL COLHIDO DOS SUJEITOS DA PESQUISA

Em resposta ao primeiro questionamento, destinado aos alunos envolvidos na pesquisa, dos nove pesquisados, um respondeu: “Mais um texto para ler e interpretar”. Outro respondeu: “Aprender um pouco mais sobre arte”. Um outro dos pesquisados respondeu: “Ler logo para ver qual é o assunto”. Uma outra resposta dada foi a seguinte: “É um jornal ou uma notícia”. Outra resposta foi: “Várias coisas a interpretar”. Seguiu-se com as seguintes respostas: “Muita atenção para conseguir entendê-lo”; “Um texto bom de ler, porque ele é poético”; “Raiva em ver aquele texto horrível na minha frente, tenho vontade de queimá-lo”; “Que tenho que ler com atenção para conseguir interpretá-lo”.

Em resposta ao segundo questionamento, dos nove pesquisados, um respondeu: “Sim. É sempre interessante aprender um pouco mais e ver que temos algo a ver com os livros”; um outro deu como resposta: “Não porque eu detesto literatura. Outro respondeu: “Sim, porque neles há poesia”; um outro deu como resposta: “Sim, na maioria das vezes”; e os outros restantes responderam: “Sim, pois nos faz refletir sobre várias coisas”; “Não, nem todas as vezes”; “Às vezes sim”; “Algumas vezes sim”; “Identifico, às vezes”.

Ao terceiro questionamento um respondeu: “Sim, algumas vezes”; outro: “Sim, muito pouco”; um outro: “Não, porque eu não gosto de ler”; outro respondeu: “Sempre que eu tenho uma folga eu gosto de ler revistas, jornais, livros, etc”. E cinco entre os nove pesquisados responderam apenas “Sim”.

À quarta questão um respondeu: “Sim. Não, minha professora consegue passar o assunto de uma forma clara”; outro: “Sim, para mim pela maneira como estão sendo dadas. Estão ótimas”; outro respondeu: “Sim, não mudava nada”; dois responderam: “Sim, gosto”; um outro respondeu: “Sim. Não”; outro respondeu: “Não. Eu não gosto de aula que fala de emoções porque eu não gosto de falar de emoções porque isso é perda de tempo. A mudança seria não ter aula de literatura”; um outro deu como resposta: “Sim, porque a professora ajuda nós entendê-lo e não mudaria nada ”; outro respondeu: “Não. Poderia ser mais divertidas de se estudar”.

Em relação ao quinto quesito, um respondeu: “Além da professora explicar, ela faz debates entre nós alunos”; outro respondeu: “As aulas de literatura são muito boas, pois na sala de aula (leitura) lemos bastante, e as aulas são bem diferentes, aprendemos muitas coisas sobre a leitura”; um outro: “Foi dado o assunto, (palavra indecifrável) feito trabalho, atividade e encerrado”; outro respondeu: “De forma bem explicativa e com comparações entre literária e não-literária”; e um outro: “Normal. Chata, mas normal”. As quatro últimas respostas foram: “Conhecendo bem o texto. A professora explica muito bem para que não fiquem dúvidas”; “Com leitura de livros e vários textos literários, exercícios e produções de textos”; Nós trabalhamos de uma forma bem diversificada, como trabalho em grupo, interpretações, etc”; “Com as leituras de exercícios, textos, produções, roda de leitura (em que o aluno pode ler a quantidade de livros que quiser e explicar).


4.4 – RESPOSTAS DADAS PELAS PROFESSORAS PESQUISADAS

Em reposta ao primeiro questionamento, apresentado às pesquisadas, a primeira professora a responder disse ter dez anos de experiência como professora de Literatura de Língua Portuguesa. A segunda professora afirmou ter quinze anos. E a terceira pesquisada disse ministrar aulas de Literatura de Língua Portuguesa há vinte anos.

Quanto ao segundo questionamento, todas as professoras perguntadas disseram ser graduadas em Letras pela Universidade de Pernambuco. Destas duas têm especialização em Língua Portuguesa e uma terceira está fazendo especialização em Lingüística e o Ensino de Português.

Quanto ao terceiro questionamento, dirigido às professoras pesquisadas, a primeira pesquisada disse: “Alguns autores são muito prolixos, isto distancia os alunos do prazer de ler. Outros tratam de temas que não desperta o prazer da leitura nos alunos”. A Segunda afirmou: “Creio que, se os professores se apegam exclusivamente aos livros didáticos este distanciamento poderá ocorrer, entretanto se realiza outras atividades como: vivência de projetos de leitura, este prazer poderá ser vivenciado e, claro não atingirá 100%, mas terá boa participação. A terceira sentenciou: ”Nunca, isso só ocorrerá, quando o alunado não quer aprender, quer, apenas, o diploma. A leitura interpretativa é raciocínio lógico.”

Em resposta ao quarto questionamento dirigido às professoras pesquisadas, a primeira disse: “Não se pode generalizar. Algumas obras são lidas integralmente. (Com algumas dificuldades)”. A segunda respondeu: “Sou favorável à leitura da obra completa, contudo nosso aluno na grande maioria das vezes se esquiva a esta leitura, mas continuo propondo ao menos 2 por ano, não para prova mas análise da obra e do autor.” A terceira entrevistada deu como resposta: “Literatura está muito além do que a análises de fragmentos de obras literárias.

A quinta pergunta, dirigida às pesquisadas, foi respondida assim pela primeira: “Não, está muito defasada. As aulas têm de ser mais dinâmicas talvez, ou é quase que certo, a mudança das estratégias utilizadas em busca do aprendizado, em se tratando de literatura, ser efetivada”. A segunda respondeu que, “Não totalmente, pois os recursos audio-visuais e bibliográficos são insuficientes, prejudicando assim uma maior diversidade metodológica.” E a terceira pesquisada disse que, “É satisfatória, mas poderia ser melhor com uma biblioteca e/ou mini-biblioteca na sala de aula, onde o aluno tivesse livre acesso.”

Em relação ao sexto questionamento, uma das pesquisadas respondeu que, “Exposição de conteúdos, aulas dialógicas, estudos dirigidos, leitura e análise literária, pesquisa e trabalho em grupo”. Outra disse: “Proponho leitura e análise de obras literárias, realizo rodas de leitura e escolha do campeão de leitura, pesquisas e apresentações de trabalhos sobre as escolas literárias”. E a terceira deu como resposta: “Iniciamos com o contexto histórico e político dos movimentos, explanamos sobre as suas características, enveredamos na biografia dos autores, porque achamos que ela já nos trará informações importantes para que entendamos suas obras. Finalmente, analisamos os fragmentos das obras literárias.”

No espaço colocado ao final do questionário das professoras pesquisadas, com o objetivo de tornar o questionário mais democrático, apenas uma professora fez uso dele, dizendo que: “Solicitamos, sempre que possível, ampliação de conhecimento por parte dos alunos, através de sínteses, quando estamos trabalhando com a literatura.”


4.5 – ANÁLISE DOS DADOS COLHIDOS DE PROFESSORAS E ALUNOS


Das respostas dadas pelas professoras envolvidas na pesquisa, quanto ao primeiro questionamento, dirigido a elas, percebemos que as mesmas possuem vasta experiência na prática educativa de Literatura de Língua Portuguesa, em média 15 (quinze) anos.

Quanto ao segundo questionamento, pudemos concluir que a formação das mesmas é muito boa, pois todas têm formação superior, em Letras, e, destas 2 (duas) possuem especialização concluída e 1 (uma) com a especialização em curso.

Quanto ao terceiro questionamento, 2 (duas) das 3 (três) pesquisadas não responderam à pergunta satisfatoriamente, onde 1 (uma) colocou a possibilidade de alunos que não encontram prazer de ler, devido ao distanciamento provocado pela base dos livros didáticos, em professores que se utilizam apenas destes, 1 (uma) outra defende os livros didáticos, contudo, contraditoriamente, culpa os autores por serem os causadores do (des)prazer de ler dos alunos. Enquanto que 1 (uma) única pesquisada é clara em sua resposta, ao afirmar que o livro didático não é causador do distanciamento do prazer de ler dos alunos.

Em relação ao quarto questionamento, observa-se que as pesquisadas, mais uma vez se esquivaram da pergunta, talvez porque são utilitárias de fragmentos de textos literários na prática de suas aulas de Literatura.

Quanto ao quinto questionamento, 1 (uma) não está satisfeita com a metodologia empregada pela escola em que atuam, no que tange o ensino de literatura, 1 (uma) outra está satisfeita, e 1 (uma) terceira não está totalmente satisfeita. Observa-se nas respostas que todas as entrevistadas colocam a culpa do não bom andamento das aulas em pontos indiferentes a si.

As pesquisadas responderam ao sexto questionamento, denunciando que todas agem de forma tradicionalista na prática de suas aulas de Literatura; não apresentaram nada de inovador em suas práticas pedagógicas.

Para os alunos, ao responder à primeira pergunta, proposta a eles, a grande maioria, 7 (sete) alunos, não se disseram ter uma boa impressão ao receber em sala de aula um texto literário. Apenas 2 (dois) disseram o contrário.

Quanto ao segundo questionamento, proposto aos alunos, 4 (quatro) destes se disseram identificados com os textos literários disponibilizados em sala de aula, 3 (três) afirmaram que nem sempre, e 2 (dois) disseram que não se identificam. Assim, 5 (cinco) encontram insatisfação em relação aos textos literários trabalhados em sala de aula.

Em resposta ao terceiro questionamento, dirigido aos alunos pesquisados, apenas 1 (um) disse não ter o hábito de ler fora da escola, enquanto que 8 (oito) afirmaram ler fora da escola. Essa maioria confirma que por mais que os alunos não se identifiquem com os textos trabalhados em sala de aula, não deixam, porém, de ter o hábito de ler.

No quarto questionamento, a grande maioria, 7 (sete) dos pesquisados, se dizem gostar das aulas de Literatura na forma como são dadas e que não fariam nenhuma mudança na maneira de como estão sendo ministradas. Apenas 2 (dois) pesquisados se disseram insatisfeitos com as aulas de Literatura e propuseram mudanças na forma como as mesmas estão sendo ministradas.

As respostas dadas ao quinto quesito descreveram a forma tradicional de se trabalhar literatura em sala de aula, sem demonstrar nada de novo quanto aos métodos. Tais respostas confirmam as afirmações dadas pelas professoras pesquisadas em relação ao sexto quesito proposto no questionário destinado a estas.


CAP. V – CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Literatura descreve um mundo imaginário; contudo, não deixa de recriar o mundo real, não deixa de reconstruir a realidade. Assim, a Literatura não tem apenas o papel informador dos nossos alunos, ela assume sobremaneira, a função formadora de nossas gerações mais novas. Ela proporciona, ou não, o desenvolvimento da e/ou das linguagens de nossos discentes em relação ao mundo que lhes está em volta, criando um olhar crítico, uma ânsia de mudança, um senso de pertença à sociedade da qual faz parte. Por isso, o ensino da Literatura é também ideológico. A escolha do livro é ideológica, o proceder do professor também assume uma posição ideológica. Freire (2007, p. 125), diz que os educadores precisam saber que tão fundamental quanto a prática educacional é a força da ideologia.

Assim, foi com o intuito de detectar como era vivenciada a prática do ensino de Literatura no 1o ano do Ensino Médio de um colégio estadual da cidade de Petrolina – PE no ano letivo de 2008 que desenvolvemos esta pesquisa.

Na qual concluímos que:

a) A concepção e metodologia do ensino de Literatura são fortemente tradicionalistas;

b) O nível de satisfação dos educadores pesquisados é baixo, principalmente por causa da infra-estrutura física e por deficiência de materiais pedagógicos;

c) Os alunos pesquisados não têm uma boa impressão ao receber um texto literário em sala de aula, embora se identifiquem na maioria das vezes com os mesmos, além de terem o hábito de ler fora da escola e de gostarem das aulas de Literatura.


REFERÊNCIAS


FIORE, Otaviano de. O papel da leitura no desenvolvimento social, econômico e político da nação. Disponível em: http//www.ebookcult.com.br/ebookzone/livrobibliotecaeleituranobrasil.html
Acesso em 20 abr.2008.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. 35. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2007.

PRESTES, Maria Luci de Mesquita. A pesquisa e a construção do conhecimento científico: do planejamento aos textos, da escola à academia. 3. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Rêspel, 2005.

UNICAMP. Universidade de Campinas. A Leitura no Brasil: sua história e suas instituições. Disponível em:
http//www.unicamp.br/iel/memória/ensaios/Regina.html
Acesso em 20 abr.2008.

ZILBERMAN, Regina. A Leitura e o Ensino da Literatura. 1. ed. São Paulo: Contexto, 1988.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

A janela que não fecha



 Por Germano Xavier

a janela não fecha e eu estou dentro
a janela não fecha e meu coração pode explodir
o medo pode invadir o quarto
(quinto andar) seguro
mas não paro de olhar para ela
para a janela que não fecha

todo este tormento porque nesta madrugada tive um pesadelo
algum monstro me levava e me batia com uma barra de ferro
e esta janela que não fecha

acordei com uma impressão de realidade
alguma coisa em minha profundeza me dizia
que algum monstro me levaria e me bateria com uma barra de ferro
e que faria isso quando eu abrisse a porta
a porta do quarto onde estou agora
de onde vejo a janela que não fecha

a janela não fecha e eu estou fora
a janela não fecha e o meu medo pode me implodir
(até posso ver toda aquela poeira de mim
como uma nuvem passando) pois que
a janela não fecha e um vento antigo sopra

Duas colunas, vários pilares


Caros leitores do blogue O Equador das Coisas, colegas e amigos,

sou o mais novo colunista do portal de cultura Entrementes. Agora vocês poderão entrar em contato com minhas idéias num espaço mais amplo de debate e construção de conhecimento. À editora Elizabeth de Souza, agradeço pelos créditos depositados em meu trabalho como escritor.

Meu cartão de visitas já está no ar!


Acesse, conheça, leia:

Entrementes

Abraço a todos!

Também estou no Página Cultural

sábado, 14 de julho de 2012

2ª Edição do Jornal O Equador das Coisas


 Por Germano Xavier

Extra! Extra!

Quem diria, heim?! Um blog que nasceu de uma atividade na faculdade de Jornalismo, hoje já com mais de 5 anos de existência recém-completados e agora com uma versão impressa, ganhando novos leitores e amantes da boa literatura pelo mundo agora-afora. É com muito prazer que apresento a Edição Nº 2 do Jornal Impresso de Literatura e Arte O EQUADOR DAS COISAS, recém-saída do forno e pronta para ser degustada, lida, colecionada, reverberada por todos os iraquarenses, chapadenses-chapadeiros, brasileiros e cosmomundiais. Meus agradecimentos sinceros aos poetas, escritores e artistas em geral que enviaram seus textos para a seleção da edição segunda. Os publicados desta vez foram: MIKI TURNER, RICARDO ROTHER, TATIANA CARLOTTI, CLÁUDIA LEMOS, UIANATAN ALECRIM, LISA ALVES, IARA FERNANDES, ANA LÚCIA SORRENTINO, MIKE MERAZ e SARA RAUCH, sempre na monitoração de GERMANO XAVIER (idealizador e coordenador editorial), CAROL B. PIVA (projetista gráfica e diagramadora), KARIME LIMON (nossa correspondente internacional, da Califórnia-EUA). As pessoas/textos que não foram publicadas(os) nesta edição, continuarão sendo analisados para a terceira edição. Agradecimentos especiais aos nossos patrocinadores, que acreditam no projeto e não fizeram cerimônia: MOLOTOV PRODUÇÕES DESIGNER, Site O BULE, MEGA SOM, CASA DE BISCOITOS QUIXABA, MARILZA - BRINQUEDOS E VARIEDADES, ELETROGIL, COOI ODONTOLOGIA, MERCADO CHAPADA, CONECT - EVOLUÇÃO EM TECNOLOGIA E COLÉGIO FRANCISCO DE ASSIS . Novamente, meus agradecimentos especiais vão todos para Carol B. Piva, menina-mineira-super-e-estrela-cadente-da-minha-vida, que vem dando o tom de todo o jornal com o maior amor. Um brinde, Carol! Os exemplares já estão circulando por aí ao preço de 2 reais por unidade. O jornal tem 10 páginas em formato tablóide. Informo que também enviamos pelos Correios para todo o Brasil, sendo cobrado também a taxa de envio postal. Quem tiver interesse, basta me procurar ou ir à clínica COII - ODONTOLOGIA, em Iraquara-BA para adquirir o seu. Já estamos preparando a terceira edição. Tenham uma boa leitura!

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