quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Minhas margens marginais


Por Germano Xavier

armar é melhor que amar, marcos silva.
mas é armar de amor o que digo,
porque amar é verbo contra a guerra.
a gente se corta todo amando.
polari sabe disso.
e é amando
que farei vibrar o milagre,
o milagre não-econômico da humanidade.
poetasia.
meu inventário conta de pétalas
e de poemas que caem do alto
dos edifícios
para o centro dos corações.
só construo a fantasia com a ajuda do outro,
só.
e minha fantasia é mais
real que real.
vai ver eu esteja a exercitar minha armadura,
amolecendo minha arma dura de amar
e vai ver eu esteja certo sobre a poesia

- e o que mais mimeografa minha polisexualidade geradora
de diluições, de negros e brancos verdes anos,
de modernismos sei lá e de exorcismos démodés?

também ponho o mimeógrafo pra girar.
e minha gente hoje anda cuspindo e bocejando...
mato quem? di quem é a culpa, ana?
vou contigo, qualquer dia, destes sem lenços e sem babadores...
aí no inferno deve ser melhor, não tá dando mesmo.
deixei a geléia na geladeira, e a merda pegou geral.
difícil chover poesia, mas eusigotentando a dança.
porque eu também não discuto com a desgraça do destino, polaco.
vou indo

o dia é tropical
e eu capto o flagrante
xingo quem tiver de xingar, e gravo na árvore
minha crônica aos 23 anos

destampo a cabeça
atualizo aipins
tacopau em mim
e vou porque minha terra tem palmeira
tem internet e rua sem feira
e porque eu gosto de beijar a boca
da mulher que não diz asneira
piva asa sul
nassar generation
salomão é faraó
torquato thor
melin é linda
cacaso semcaso
souza sem cruz
navidoidademais
charles, o ronald
chacal cabal
behr martins schwarz ruiz câmara miccolis e outros
enfim
sem fim...

sou poesia, sou margem, marginal.
meu muito prazer, qorpo estranho!

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Pálido panóptico (a ordem do útil)


Por Germano Xavier

Eu vigio.
Tu punes.
Ele vê.


custa-me decidir
, mas o elogio pode ser
a crítica - estamos no sanatório de Denbigh?
, no colóquio, tua voz, ambígua
diz não e sim,
fala dos confins
, entroniza o nada no nada, afaga
noutras as disciplinas "psi" no Foucault
anti-édipo, que a loucura
também está no poder
inverso, no périplo
, no colégio da mente.

eu fico bonito entretantos
, frisson, nuançadas, repito
- você ainda está indeciso?
- , estamos presos,
estamos presos!
, quem virá nos ferir?

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Um não rímico experimentar


Por Germano Xavier

(...)
Nesse rio
as palavras sobrevoam
as abruptas margens do sentido.
(Ana Hatherly)

se não posso com a realidade
que foge
escrevo fantasia

minha nova consciência
é consciente
e demente

se sou não sei
se vou não sei
minha linguagem é o presente

recuso o uso do estabelecido
porque já fui e não sou mais
porque fui e vi minha mudança

e se não posso com a fantasia
de tal modo tão fugaz
condeno-me a mim mesmo e realizo meu inconsciente

sábado, 26 de outubro de 2013

Estampas tônicas de mim

Imagem: Deviantart
Por Germano Xavier
suturo pétalas que não foram cores
como quem aguarda a revoada.
sou só um homem de mil amores,
não quero nada nem posso nada.

se de querer me atrevo ora alegre,
viro mesa, sozinho, cubro e me aperto.
antigo traço em pés o orbital aberto
se de me ir me faço ser tão agreste.

uso a linguagem para causar espanto
em audiência duvidosa sob chuva fina.
amo sem destinação o corpo-pólis,

cidade-pátria de mim em goles,
que libo e como (eu tudo abraço),
pois no afã cego do fruto me desfaço.

A minha pátria

Imagem: Google
Por Germano Xavier

a minha pátria é qualquer coisa de se querer,
um sonho mudo e sem sal,
um algo muito esperado,

e não sei se já foi algum dia outra coisa qualquer
de se querer profundamente.
minha pátria, minha descarada emoção
sem face, mesa cheia de gafanhotos.

a minha pátria é uma lentidão de cabeças,
de pessoas ruins e de pessoas boas.
a minha pátria é uma sanha, uma ira por dentro,
um rumor de melhora, um altiplano pelo avesso.

pátria, mãe desquitada e esquecida,
mãos sem escolhas a fazer,
de valores em ruptura.

a minha pátria é coisa impensada de se ver,
um sono austral e pandemônico,
uma espera em atraso,

um eterno duvidar eterno.
minha pátria, minha foragida razão
sem dito, figura de minh'alma sem encantos.

Perguntas ao pó (nº3)


E a entrevistada de hoje é Lilian Farias, que escreve em Poesia na alma.


O EQUADOR DAS COISAS: Quem é você?

LILIAN FARIAS: Eu sou Lilian Farias: mulher, menina, companheira, educadora, poetisa e escritora!

OEC - Na literatura, quem é Deus?

LF - Eu não sei, pois não enxergo Deus dentro da literatura, não consigo ver Deus na literatura. O Deus que enxergo está no meu intimo!

OEC - O que é ser das Letras?

LF - Por um momento achei que ser das letras era fazer parte da ABL; Usar palavras bonitas e rebuscadas e um Pincenê. Hoje acredito que ser das letras é democratizar o acesso aos bens de cultura no país e no mundo. Aparentemente uma visão deveras utópica, mas considero uma tarefa árdua e complexa, que quem se pondera das Letras deve estar pronto para suportar!

OEC – Fale-nos sobre seu primeiro livro publicado recentemente pela editora Multifoco...

LF - Encontros para liberdade é um livro que fala da essência feminina e da busca por uma felicidade que a maioria das pessoas não enxerga: de dentro pra fora. Eu cresci observando muitos falarem que queriam ser felizes e acabavam por atribuir esta felicidade a terceiros, mas não paravam para refletir a complexidade do que proferiam.

OEC - Você professa?

LF - Costumo dizer que sou educadora, pois professar me remete a uma visão behaviorista.

OEC - Você, como o Piva, só acredita em escritor experimental que também tem vida experimental?

LF - Você já comeu chocolate? É bom ou ruim? E se não tivesse experimentado, como saberia se é bom ou ruim? Eu acredito que a vida foi feita pra ser vivida! Imagina uma virgem falando do gozo de uma transa que nunca viveu? Imagina um agressor falando da sensação de um soco que nunca levou?

OEC - E se o mundo acabasse amanhã?

LF - Eu só sei do agora! Todos os dias o mundo pode acabar pra alguém... O melhor, pra mim, é viver e pensar no agora!

OEC - O que andas lendo atualmente e do que se trata?

LF - Leio Mulheres que correm com os lobos: mitos histórias. De Clarissa Pinkola Estes. Que retrata os conflitos da mulher moderna com a mulher selvagem. Não é um livro feminista, porém bem feminino! Também estou lendo Parem de falar mal da rotina, de Elisa Lucinda. Gosto de ler novos autores brasileiros e o último foi O Oitavo Pecado, de Adriana Vargas.

OEC - Vale do São Francisco, que bicho é esse?

LF - O Vale do São Francisco é uma região rica e linda, com um grande potencial, mas esquecida pelo poder público! Quando olho para “Os grandes produtores” lembro-me do imperialismo! Rico em cultura, o Vale do São Francisco enche nossos olhos com o Rio, as histórias de trancoso, Samba de Véio (que amo dançar!), as lindas carrancas e os vinhos. É maravilhoso fazer um recital à beira do rio tomando vinho!

OEC - Fale-nos algo sobre o blog O Equador das Coisas...

LF - Costumo dizer que o Equador das Coisas é de uma pessoa inteligente para pessoas inteligentes.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Desnudo


Por Germano Xavier

na exata queda da hora
o que me cerca ascende-me,
com pés descalços, no ventre,
a aura luz da alma instaura
a loucura de ser.
onde ela mora nada fica,
vida, quando escuto a
eternidade.
crente, à mercê do calor que acalma,
insisto, cultivo, quieto, o grito:
viver!

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Uma elegíada para Camilo


Por Germano Xavier

Camilo,
nem que a noite soe passageira
e nem que os sinos do céu te descaminhem,
farei que vejas
o estímulo que dura
o atributo de ser,
bruta paisagem,
de ser humano.

Em troca, pedirei a parcela
transitante
das coisas que te tem.
E que me seja, ela,
a pele que abraça minha liquidez
sanguínea,
meu ergástulo
eterno, donde, vivo,
desatarei o sempre.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

A chave comum


Por Germano Xavier

adormecida quimicamente
deitada nua mulher
a infeliz das recordações secretas do dia azul
a porta da ridícula aventura aberta
entre as pernas
o descobrir-se
camélia perdendo as pétalas
brotando o gozo asqueroso de vergonha
complexo de nojos em recordações

terça-feira, 22 de outubro de 2013

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Mulheres filosóficas e bukowskyanas


Por Germano Xavier

falando de mulheres (adoramos barbarizar)
os homens falam de si (Freud, Nietzsche, Rilke e Paul Rée...),
enquanto que Lou Salomé se overdoseia em brevidades

domingo, 20 de outubro de 2013

Babel


Por Germano Xavier

Este ar que não me inspira verdade.
Gás venenoso em meus pulmões.
Um vagão de pessoas passando
-se dizem passando -,
silenciosas e desejosas.
Vitrinas as chamam.
Severos cordões que nos prendem
- a olharmos muitas vezes a ilusão.
Estas mentes dementes,
frias e suplicantes,
tão errantes e tão fúteis
ao verem o produto em promoção.

sábado, 19 de outubro de 2013

Branco


Por Germano Xavier

Hoje minha vida só não passou em branco porque tenho longe algum sentimento que não morre. Algo muito longe e muito perto que não sei bem explicar, nem quero. Estou aprendendo que é bem melhor não ficar dando explicações a toda hora. A Emiliana hoje me deu algumas dicas preciosas de como fazer para não me perder mais e mais em mim mesmo. No que concerne ao resto do dia, só mesmo uma ponte rotineira, alguns pensamentos na cabeça e muita vontade de seguir escrevendo. Muita vontade mesmo...

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Almas perenes


Por Germano Xavier

ao ler Andersen

Da janela do teu castelo, olha.
Ela, pássaro do mar, voa
a essência do sonho
- e qual a matéria da sombra?

Aguarda a aproximação final,
se azuis olhos do príncipe.

Já és, que não precisas provas. Imortal.

Para se tornar humano, não basta
um belo par de pernas.
Mas que lhe cai muito bem
um ostensivo par de óculos escuros

para a função singela de impedir
a clara
visão de uma nossa ridícula
mortalidade.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Menina tapando o sol com o braço


Por Germano Xavier

ângulo solar voltado à terra,
paz pueril (disfarçada)
nos olhos acobertados
pelo braço de ferro da juvenília castrada.

menina esfarrapada em roupa de algodão,
ovelha do campo:
não é doce este verão,
não é doce este serão.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Perguntas ao Pó (nº 2)


A entrevistada de hoje é Cláudia Lemos, que escreve em Controvento-desinventora.


O EQUADOR DAS COISAS - Quem é você?

CLÁUDIA LEMOS - Eu sou a conjunção de uma sexta-feira da paixão com uma terça-feira de carnaval. Defensora da liberdade. Força magma que escorre delicada, como uma lágrima inesperada diante de uma cena que gere em mim a indignidade. Sou o vento que despetala um campo de girassóis, preocupada em alimentar a fome de todos os Van Gogh(s), a fim de interferir na paisagem do mundo, construindo gente...sentindo-me humana. Eu sou o outro, sem deixar de ser eu mesma.

OEC – Por que você escreve?

CL - A escrita é o ar que respiro. Escrevo o tempo todo mentalmente sobre a paisagem em meus olhos, a cena intragável, a boca que beijo. Dentro de mim há textos que nunca escrevi, há uma estante vivida e, às vezes, versos submersos brotam poemas, parágrafos, contos... A verbalização é inusitada cabe em qualquer folha em branco, no blog, num papel de pão, na minha trincheira, que é a sala de aula, no quadro que já foi negro. Sou feita de palavras, que espalho ao vento.

OEC - O que é ser carioca?

CL - É um estado de espírito. Embora eu tenha nascido em Teresópolis (Região Serrana do Rio) pelo tempo que vivi na cidade “maravilhosa”, sinto-me carioca de alma e de gema. Há uma liberdade em Ser carioca, que transcende a violência, as dificuldades e o medo... Amo do Rio do Subúrbio do Trem ao Metrô da Zona Sul e não há quem resista a Rua do Lavradio, Pedra do Sal, Feijoada da Portela, Fla X Flu no Maraca, ensaio da Escravos da Mauá, Praia de Grumari, Restinga da Marambaia...Dá pra esquecer tiroteios, sequestro relâmpago, assaltos...apesar de tudo dá prá ser carioca. Além de tudo caminhar pelos textos de Machado de Assis, João do Rio, Heloísa Seixas...O rio é um livro aberto, em que o carioca pode ser personagem, leitor, escritor...

OEC - Ainda sonhas com algo que não realizou? Pode nos dizer?

CL - Sempre os sonhos, assim como a utopia eles nos movem. O mais louco é escrever poemas e trechos de textos, que fale do “ser humano” pelas ruas, viadutos, sinais de trânsito e que as pessoas em pelo se vestissem de poesia; o mais acadêmico seria ir à Itália fazer um curso com Umberto Eco...

OEC - O que é ser professor(a)?

CL - Um desafio em um país onde não se valoriza o profissional de educação, no entanto ainda defendo o espaço da sala de aula com autonomia, criatividade e amando o que faço, pois como já disse essa é a minha trincheira.

OEC - Dia D,de Drummond. Quem é Drummond para você?

CL - Um “gauche na vida” é o que Caetano define musicalmente como: “o avesso do avesso do avesso do avesso.” Um poeta à janela, observando o mundo parado, tendo convulsões poéticas e desejando sua Pasárgada-Itabira.

OEC - O que pensas sobre a violência no Brasil?

CL - Vivemos a violência evidente, mas todo tempo sofremos e cometemos a violência simbólica, usando, por exemplo, a falta de atitude, o desrespeito, imprimindo a desconfiança e desacreditando no ser humano. A violência começa em cada um de nós e só a partir de nós pode ser combatida.

OEC - O que anda lendo atualmente e do que se trata?

CL - Tenho a prática de leituras simultâneas e, neste momento, leio: “Instruções para Salvar o Mundo”, de Rosa Montero, uma fábula moderna, que insiste em provocar o leitor a responder: “Até onde você iria para recomeçar sua vida?” é um título que engana os desavisados, pois narra sobre dois homens muito diferentes entre si, que despertam toda noite de um mesmo pesadelo. O outro título que leio é “Eu Matei Sherazade: confissões de uma árabe enfurecida”, de Joumana Haddad, que este final de semana esteve no Rio e deu uma entrevista no Segundo Caderno do Globo sobre o livro em questão. A capa traz o seguinte comentário de Mario Vargas Llosa: “Um livro corajoso sobre uma mulher no mundo árabe. Ele abre nossos olhos, destrói preconceitos e é muito divertido”. Eu atesto que o que ele diz é verdade. Além destes, leio a biografia: “Clarice,”, escrita por Benjamim Moser, muito bem editado pela Cosacnaify, que mescla a biografia à bibliografia da adorável Clarice Lispector de maneira agradável, promovendo uma intimidade com a sua produção literária e revelando particularidades inéditas. Leio, também, as produções dos blogs que sigo, diariamente.

OEC- Astrologia funciona? Como?

CL - Como o astrolábio (instrumento astronômico) indicava o caminho aos navegantes e Fernando Pessoa diz: que “navegar é preciso”, para atravessar o mar da vida, escolhi o mapa astral, que revela o desenho do céu no momento em que nascemos. Se funciona? Não sei, mas acho extremamente poético: um poema feito de constelações.

OEC - Fale-nos algo sobre o blog O Equador das Coisas...

CL - É um blog que traduz o título: um ponto repleto de orbitais. É um diferencial pelas propostas, pelo talento do autor e pela versatilidade, que promove o movimento de todas “as coisas” nessa linha imaginária, equatorial e poética. Fico feliz em saber que existem escritores que escrevem com esta qualidade literária como você.

sábado, 12 de outubro de 2013

Distrito amante sem parada

Imagem: Deviantart
Por Germano Xavier


quando vamos ser? é uma pergunta banal, eu sei. mas precisamos ser, você sabe. há algo por acontecer. uma hecatombe austral. e isso pode mudar até a rota dos ventos. um choque entre dois ventos causa o quê? por que você não responde, vento? quando vamos ser aquilo que somos? quando vamos ser aquilo que somos juntos? não, não é uma pergunta banal, eu sei. precisamos ver, você sabe. há algo para viver. uma bomba nuclear exposta na avenida simples. e nada poderá nos deter, nem mesmo os guardas com seus olhos de prisão. uma chave entrando numa fechadura dá no quê? por que você é tão assim, vento? quando vamos fazer redemoinho? quando vamos nos endemoniar? sim, é uma pergunta apenas, eu sei. você nem precisa responder, você sabe. você só precisar estar ou vir ou deixar que tudo seja como nem imaginamos que. há algo de estrondoso por ecoar. um desastre de amor, talvez. um desastre de felicidade. e isso vai mudar qualquer peso que estiver em nossa frente. uma abertura. dois ventos invadindo o paraíso causa inferno? por que você não me transcende logo? até quando vamos ser quando?

Uma criança que perdeu as pétalas

Imagem: Deviantart
Por Germano Xavier

eu não sou mais criança
já vi rosto ruim de gente imunda
sei saber quando um sim diz não
vivi de margem em busca dum sentido
e a rua esconde até o que ainda não foi dito

encontrei foi nada
um de tudo vão
várzea em face dum mundo cão
perdi foi tudo

até a nostalgia
que é até mais que a esperança

eu não sou mais criança
sou um cais retido na imensidão
sem força
sem palavra
um feliz ano novo daqui a pouco
e muitos se sentirão alguém sem ser
sem nem ter sido

e o grão
nascido no oco da terra
raiz embebida em sol-vento
fará de mim
e explicará
um cada novo trovejo
a espatifar a luz partida
de cima de minha fé selvagem
sem solidez

com solidão

Precioso impreciso?


Por Germano Xavier

amar: arte maior da promessa?
quem jura o amor mente?
simula intrepidamente
na ânsia frouxa da pressa?

amar é dívida certa?
e sempre há de ser cobrada?
para que se cubra a dor alada
que se instala na ferida aberta?

e ainda que mal seja amar...
e que nos traga dores...
e que nos furte amores...

amar, é simplesmente amar?
palavra seca de sentido grande?
que nos faz rei, duque, infante?

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Potra em desgarre


Por Germano Xavier

É este teu filho!
Isto que emana
da varanda o álveo
branco do existir.

É esse teu filho!
Isso que sai de você
astro, nauta e o mar
- malina e música. Tuas ilhargas.

Seguinte, domingo verde.
O mantel que cobre
tua floresta: poema em beijos
que me ombreia o limo e o gozo.

Aro tua roça como a relha
o brinco do teu rego,
ardido em ar. Ah, mulher,
é esse teu filho que rebeijo, o sal, a sede...

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Portal


Por Germano Xavier

pensei em
meu estado falido

em meu lido egoísmo

e forcei a cerca
de vime
que recarregava o rego
dos silêncios

pratiquei a não-comunicação

e fiz surgir um curral
de pétalas
roxas
dentro de mim

e é isso o que vive!
e é justamente isso o que persiste!

em me encontrar...

o roxo!
o roxo das coisas.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Retumbante


Por Germano Xavier

o som da vida estala
indiferente
à minha espera
desesperada
tão inocente
que mesmo calado
num quase existir ausente
sinto um reboar de sons
tão eloqüente
vindo de dentro
deste meu reino tão distante

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Como quem vagueia


Por Germano Xavier

Vem, insignificância minha!
Vem de dentro para fora,
e traz consigo a hora,
a hora que já não é minha.

Que venha calma e serena
como nunca um dever.
Pois quero no pensamento ter
a certeza de que és pequena.

Somente em ti recaio agora
como se tu fosses a aurora,
a aurora de dias idos.

Pensar em ti é nada ser.
Pobre do homem que não quer ver,
no espelho, seu existir perdido.

domingo, 6 de outubro de 2013

Appropriation art


Por Germano Xavier

relevante painel artístico
levanta-se do cotidiano

circunda na linhagem
do pega-pega
um bando de rapinagem

há de se tomar de empréstimo
o que se lança em imagens
o fundamental imaginário
das pessoas
e suas publicidades

a poesia consegue uma distância
perturbadora – assim como carece –
do plastificado
e também se fotografa

sábado, 5 de outubro de 2013

Indiferença


Por Germano Xavier

o dia nasceu
o bule apitou
a sirene tocou
meio-dia chegou
o gás acabou
a tarde ruiu
a energia cessou
a água sumiu
a noite desceu
o silêncio imperou
a rua parou
o homem dormiu

E o Tempo?
- O Tempo nem.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Além do labirinto


Por Germano Xavier

a porta, Borges,
a porta nunca haverá.
a porta dos destinos de ferro,
a porta doa mares que morrerão,
a porta do que ainda será
não haverá.

e nisso me ponho consternado
porque tua voz forte é ouro
e reluz
amanhãs em clamores,
o tempo.

o tempo, Borges,
o tempo,
gêmeo e tal como a porta,
nunca haverá.
o tempo,
nessa ferrugem de tardes,
doura horas mortais.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Ponto


Por Germano Xavier

parou à frente de alguma coisa,
arrefeceu-se. o coração agora amainado,
sem a crueza do dérbi de outrora.
a alma amarelo-creme, com fiapos
de velhice à mostra escondendo o corpo
esguio e sem gordura de Augusto.
o coração gelatinoso escorrendo sua fórmula
intratada. seu olhar perdido, apenas perdido
o seu olhar, na frente de alguma coisa.
um inaceitável coração freado criminosamente.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Fluxo infame


Por Germano Xavier

não reside na matéria
a parte sutil do ser, descolunada,
sem concretos.
o que habita a face humana?
reside na alma o lençol mais íntimo
e solene
ou todo patrimônio denso e luzidio
e pujante do que gatilha

força aquilo que nos conduz?

onde a vida anda em bando rompe
a luz etérea, fértil bomba. nada de bom
se faz dilúvio
ou surto avesso do cor
ação?

então, o quê?