quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Luz de corrimão, de correr mão


Por Germano Xavier

Veio de vestido, aparentando bucolidades de pureza. Mas ela não me engana, pensei na hora, não..., mulher varrida. Subiu os degraus, passo a passo, eu pressentindo internidades outras. Olhar para baixo, sorriso escondido no queixo, perdidinha. Vou fazer festa, vou rumar para longe, paraíso ou Patagônia – tanto faz, um lugar longe. Flores no vestido, cores no vestido, a aparência nua. Imaginei a temperatura de seu sexo quando cruzou as pernas junto a mim, Saara!, Saara!, seara. Sentamos, quase unidos, fui professando. Aqui é assim, ali é daquele jeito. Não descuide, vá com calma. Tudo pode acontecer, tudo pode ser, o acaso existe ou não, vale tudo. Espera anoitecer, por que não fica aqui esta noite? Há camas vazias como há noites sem nada dentro da noite. Eu sou a noite e você pode ser a noite. Não toque em mim, você não sabe o que faz. Me aperta a mão, sou hiena, sou lobo, rio e uivo. Oh, menina, são teus dedos enluarados, e tão febris. Culpa toda tua, não pedi para subir. Tem água fria, tem água quente. Vais beber? Você não pensa em mim, você é simples. Você só pensa, não faz cantiga. Não tem conversa, mas tem querer. Você se engana, eu estou certo. A formula é que... Pode ir, não tenho pressa. Eu sei que você volta. Ninguém agüenta, todo mundo é fraco, todo mundo é forte. Você pode ficar, e não estar. Vai assim do mesmo jeito. Pode dormir, e acordar, nascer amor-perfeito. Você diz paixão, eu não. Não sou assim. Sou assim. Assim. Vou ler meu livro predileto e você vai duvidar do meu verso. Se você quiser, se não quiser vai ser o fim. Você volta e pode ser que não, pode ser que... não é a vida? O que temer, por que fugir? Nesta festa, o que impera é, imperra-te? Você mansa, amansa-me, mas sou tigroso. Aquele animal preso e com fome do conto de Stockton, que surge da escolha, da porta quista, de abraço ou de morte. Poema epitalâmico ou elegia. Você descobre tudo se não descer. Senão um pulo, janela aberta, eu pulo. Você vai me fazer pular? Você me acha estranho? Tanhar-te, retrocesso algoz, melhor um beijo. Vai-te embora, peste, mas me deixe um peixe de aquário, respirando em mim, para eu fingir alegria. Ninguém suporta tristeza pura. Ao menos um volteio de cor, um golpe com teu vestido, que é para eu lembrar. Um tiro do teu olhar, para eu cair, na sanha da minha cama noturna. Ou um rasgo de unha, na pele, tatoo, de tu, está tudo bem? Pisa de leve em mim, anima-me de dor, não vivo assim, sem. Ao menos o ardor, o calor, a mentira do amor - pois já não é amor? Que hora mais rude para um degrau, tu me iludes ou não sei que horas são.

4 comentários:

Germano Viana Xavier disse...

Crédito da imagem:

"handrail by ~BodyLemon"
DEviantart

josé carolina disse...

... Eu não consigo atentar para o dizível. Não aqui. Nunca aqui.

Rosangela Neri disse...

Mais uma vez sua postagem me seduziu.

Um cheiro especial.

Artes e escritas disse...

Um conto onde nenhuma das partes corre o risco de se emocionar, ou, "não sei que horas são". Bastante atual. Yayá.