Por Germano Xavier
XLVI
Improváveis tempos onde me desconfiguro.
Hora de desfaçatez imberbe:
cabedal instantâneo de desmarcas...
XLVII
Suportas o delírio da vida?
Suportas?
És forte assim, fantasma convulso?
Inda não sou bem homem,
bem velho...
Inda me perco entre sonhos e sonhos...
E há sonhos?
Para que serve a poesia?
XLVIII
Vai e volta,
o vento,
desgovernado...
XLIX
Sobreposto ao costado
dos teus olhos,
minha juvenília
farandolando multidões.
L
Bate tum-tum
no coração...
bate torto,
e o som coagula
um eco estrondoso de fim.
LI
O teu filho nasce.
O teu filho cresce.
O teu filho cresce
e só depois nasce.
LII
Confundimos a própria vida,
esta imagem desfocada que carregas
no colo,
em teu ventre,
maduro?
LIII
A travessia
em flutuar,
em fluido ar
d’água.
A instância.
O instante.
A magnética
dor do rio
verdanil
A dor dele
nos que passam
em só passar,
em só passar...
árida travessia.
LIV
Que aquele garoto correu
a importância dos diantes.
E sumiu como azul de tardes...
LX
Papas na língua,
cobra criada.
Salta da boca
a fera indomada.
E o outro, ingênuo,
espanta-se do nada.
LXI
Zé contou uma,
duas, três vezes. Contou
e não entendi.
LXII
Uma porção de treva escondida
clareia o meu eu-quarto nu.
LXIII
Poética:
tipo
ético
de
política.
LXIV
Depois de todo aquele drama,
a atriz coadjuvante
abre os braços em liberdade,
no grande retângulo de paisagens aprisionadas.
LXV
Ela se esconde,
cobre o rosto por detrás do muro
de cinza.
Nestas horas,
uma dinamite
faria vazar poesia.
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