quinta-feira, 18 de julho de 2013

Há vagas


Por Germano Xavier

para Ferreira Gullar

Cabe no poema , poeta,
não o banal do banal,
mas o pôr-do-sol do banal,
seu crepúsculo em parafuso.

Cabe o que não pode
caber no perímetro mínimo
do poema - cabe o que couber -
o máximo do mínimo
e todo o dicionário amoroso
das contradições.

Cabe no poema o leite
do leite,
a carne da carne,
o doce do doce,
o pão do pão.

Cabe aquilo de que impreterivelmente
um silêncio não se lembra,
aquilo que uma sombra
não incorpora, o azeite
da vida – óleo e aguarrás -,
o crível incrível
e seus crivos.

No fim das contas, o poema fede
e cheira, poeta.
Fede a rosa-mundo,
Cheira a enxofre-homem.
E tudo não lhe cabe, cabendo.

2 comentários:

Rebeca dos Anjos disse...

Interessante que outro dia eu pensei em quanto poema cabe na palavra "cabe"...

Tentei escrever algo com isso, mas não coube. Coube, belíssimo, aqui no seu espaço.

Beijo, Gé!

Cris Campos disse...

Cabe sim, e isso você fundamentou maravilhosamente! Gr. Bj.