Por Germano Xavier
para Ferreira Gullar
para Ferreira Gullar
Cabe no poema , poeta,
não o banal do banal,
mas o pôr-do-sol do banal,
seu crepúsculo em parafuso.
Cabe o que não pode
caber no perímetro mínimo
do poema - cabe o que couber -
o máximo do mínimo
e todo o dicionário amoroso
das contradições.
Cabe no poema o leite
do leite,
a carne da carne,
o doce do doce,
o pão do pão.
Cabe aquilo de que impreterivelmente
um silêncio não se lembra,
aquilo que uma sombra
não incorpora, o azeite
da vida – óleo e aguarrás -,
o crível incrível
e seus crivos.
No fim das contas, o poema fede
e cheira, poeta.
Fede a rosa-mundo,
Cheira a enxofre-homem.
E tudo não lhe cabe, cabendo.
2 comentários:
Interessante que outro dia eu pensei em quanto poema cabe na palavra "cabe"...
Tentei escrever algo com isso, mas não coube. Coube, belíssimo, aqui no seu espaço.
Beijo, Gé!
Cabe sim, e isso você fundamentou maravilhosamente! Gr. Bj.
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