Por Germano Xavier
A morte comove os pássaros,
apaga o canto do quintal aceso
na tarde vermelha que cai.
A morte é o desacordo
entre o que vive
e o que teima.
A morte desacorda
a manhã ainda impraticada
dos meus soluços e pigarros.
Ainda persisto e ofego
em meus caminhos,
como quem busca a armadura
do silêncio azul, intransponível.
Ágil é a lida que passa,
este automóvel de ouro
que nos carrega corpos,
que nos carrega almas.
Morrer é também estar presente
na justiça dos catafalcos.
A morte é a importância
da vida,
a doação de um espaço criança,
que quereria brincar sorrisos,
derrubar os mais altos castelos
de pedra e inverdade.
Morro uma, duas,
até três vezes por dia...
Até a hora que já não suporto
mais o peso das desgraças,
e caio, em toneladas,
em campos de sono raso.
Toda palavra, todo poema,
tudo que de mim sai
em giros de carrossel,
acaba sendo porções de morte
que minha misantropia me faz
esconder em glórias egoístas.
E imaginar que a glória que sinto
não é de mais ninguém,
senão do arcanoso egotismo.
Ó morte minha diária,
dor do meu peito sempre aberto
a abarcar o mundo inteiro
e toda esta gente,
vêm e leva-me de vez
em teu carro de cortinas negras,
que eu não suporto mais
este meu estar vivo e morto
e sempre...
Que agonia!
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