sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Ofício


 Por Germano Xavier

Quanta angústia ao ver a folha em branco.
No seu quarto, sozinho, ele sonha.
Quantos desejos, e um lápis na mão.
Numa noite, inspirado, ele chora.
Chora ao ver seu personagem morrer.
As lágrimas refletem o seu espírito.
Compenetrado em seu ofício, o tempo
passa. Passa, lentamente, o tempo.
O homem não é mais o poeta.
Tem os seus relatos em linhas imaginárias.
Submisso às palavras, ele agora
sente florescer uma alegria e uma dor.
O silêncio faz-se companheiro.
A lua, da janela, os olhares...
Produzindo versos sobre um assunto,
ele repara, apaga e retece.
Num momento, obstante, ele refuga.
O poeta respira, profundamente,
e da morte vai e se entrega,
quando de longe não mais se envaidece.
O poeta é mais uma criança,
a casa que abriga, a todos.
O poeta não é mais que uma mãe,
quando, do colo, vê seu filho nascer.

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