quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Um olhar sobre o livro Clube de Carteado


Ana Lúcia Sorrentino fala sobre meu primeiro livro, o Clube de Carteado (2006).

O que faz o poeta ser poeta? A necessidade de poetar. Ter natureza de poeta. Ver o mundo com olhos de poeta e sentir a vida com coração de poeta. Embora em 2006, aos 22 anos, Germano Viana Xavier afirmasse ser seu sonho um dia escrever um poema, em Clube de Carteado, do mesmo ano, sua escrita deixa claro: é poeta. No precisar traduzir em palavras tudo que vê, tudo que percebe, tudo que sente. Na maturidade precoce. No perceber-se velho, apesar da pouca idade. Uma velhice que vem do muito pensar, do muito questionar, do muito sentir. Com a mesma incoerência com que é poeta sem saber-se poeta, Germano diz não saber o que é o amor, e não saber falar do amor, mas tem no amor componente fundamental de sua poesia. Germano ama. Ama a vida, as palavras, a poesia, ama o Amor. E dele é capaz de falar lindamente, com uma só palavra – amor - e alguns sinais de pontuação, como faz em Poetrix. E como diz tudo dessa forma!

E – novamente a dualidade - embora afirme (e isso, cá entre nós, pois são conversas de bastidores) não ligar muito para a natureza, Germano ama a natureza. Talvez esse poeta nem tenha consciência do quanto há de natureza em seus escritos. Se tivesse nascido em Sampa, com certeza a literatura que produz seria outra. Mas nasceu em Iraquara, cidade da qual se orgulha (?) e que imprimiu em sua poesia essa marca, a presença constante da natureza. É assim que, percorrendo as páginas de Clube de Carteado, nos deparamos com a noite, a lua, nuvens, o mar, a água, peixinhos, cavalos, borboletas, andorinhas, trovões, pedras... e crianças. E uma compaixão, uma compaixão que vaza de Germano e chora no papel palavras tristes de um desalento prematuro.

Por tudo, é de se imaginar que o autor tenha tido uma infância feliz. Mas, pelo extenso vocabulário e pela destreza com que lida com as palavras, sendo tão jovem, é possível se especular que seus brinquedos preferidos, ainda na infância, provavelmente tenham sido as letras, as palavras e as infinitas possibilidades que elas lhe apresentavam. Adulto, vai brincar seriamente com elas, como faz em Drama, em que, apesar de falar de dores humanas, usa o recurso lúdico de só usar palavras iniciadas pela letra D. Ou como quando inventa suas próprias palavras, como a linda senhestrelas, que de tão bonita bem que merecia ser adicionada ao dicionário.

Amante de outros poetas, por ter o hábito de dialogar, em seus textos, com os autores que lê, Germano nos proporciona agradáveis encontros fortuitos com escritores de peso, o que acaba sendo um prazer adicional.

Questionador, há momentos em que suas poesias são perguntas:

Para que serve o eu
se não há “eu”
sem os outros?

E é então que, já prenunciando o que viriam a ser seus escritos mais maduros, encontramos não só poesia, mas também um germe de filosofia.

Enfim, lendo Dos Frutos me flagro enternecida com a auto-reflexão:

Para mim, poeta é fruto
verde:
amadurece...

Germano afirma ser Clube de Carteado uma arma contra as arbitrariedades e desrumos do homem no mundo. Mas também afirma que escrevê-lo foi como cometer um crime. Como leitora, posso dizer que, com certeza, tal crime já teve absolvição. Porque sua leitura, em muitos momentos, coloca, sim, um sorriso no rosto do leitor e em muitos outros cutuca doloridamente suas feridas. Se era dessa certeza de que precisava para sentir que valeu a pena, o que tenho a dizer é: valeu, Germano. Sinta-se compensado.

Ana Lucia Sorrentino
28/12/2011

3 comentários:

Dani Gama disse...

Esse "olhar" de Ana Lucia Sorrentino me fez ficar ainda com mais vontade de ler a obra.

Ana Lucia Sorrentino disse...

Dani, não posso crer que ainda não tenha lido! Você, que tem a sorte de conhecer pessoalmente esse Germano de hoje, mais maduro, vai se emocionar ao entrar em contato com um Germano mais menino... eu me emocionei. E, em muitos momentos, revisitei minha própria juventude. :)

Dani Gama disse...

Pois é, Ana. Incrível como são as coisas, hein. Estou com Germano pessoalmente sempre, agora em projetos em parceria, e ainda não li esse livro. Mas vou providenciar isso urgente. Do jeito com que você fala me faz ficar ainda mais cheia dessa necessidade. Beijo grande, querida.