sábado, 31 de dezembro de 2011

Poema de sangue no supermercado


Por Germano Xavier

O mercado está sangrando.
(na primeira página, o menino inicia a leitura)
Há um rastro vermelho
maculando o chão por onde
cobras e hienas passam.
É um supermercado.

Peguei a fila.
E percebi que a cada passo que dava
o fio mais espesso ficava.
E cada vez mais,
cada vez mais...
(página dois)
Ouvia-se um burburinho,
vozes de espanto e preocupação.

A notícia correu solta por dentro do estabelecimento comercial.
O gerente de vendas foi ver o que era.
O gerente de publicidade foi ver o que era.
O gerente-geral foi ver o que era.
Ligaram 190.
Ligaram 192.
Ligaram para o Jardim da Saudade.
Os alto-falantes desmaiaram numa baixa fala de medo.
Até o Cosme, o funcionário do mês, foi ver o que era.

Quem sangrava?
(eis o narrador)
Poderia a morte visitar lugar tão iluminado?
... depois de alguns minutos.
(esta fala está dentro de um balãozinho de um gibi qualquer)
Existiu um silêncio perturbador, depois de alguns minutos.
Muita apreensão. As cobras e as hienas sentiam-se sufocadas.
Do caixa, uma boneca, nos trinques, gritou:
“Foi só um extrato! Foi só um extrato!”

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