sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Justo, justíssimo



Por Germano Xavier

"Mas por que não criar o projeto, o destino?", balbuciou o homem esquelético que vestia um paletó de brim já em frangalhos. Eu tinha acabado de pegar o ônibus para a estação da Lapa. De Brotas até lá, por todo o percurso dediquei-me a ouvir o homem. "Passei várias noites sem dormir direito, levantando angustiado e aos sustos. A vida é tão curta, sabe. Tão traiçoeira! O rapaz tão novo, estudado. Bem de vida já, casado. Era engenheiro elétrico da Continental e na honestidade devia ganhar 7 mangos todo mês. Tinha uma filha bonita, saudável, uma mulher zelosa. Sabe, eu fico me perguntando o porquê?"

"É mesmo assim. Quando Deus quer, nada atrapalha. Não adianta. Deus é sempre justo, justíssimo!", disse a senhora que dividia o banco com ele. Quando eu ouvi aquilo, fiquei encabulado. Qual a palavra que poderia definir Deus? Seria "Justiça"? Ou "Amor"? Qual? Quem poderia me responder isso? Alguém? Mas, há mesmo Deus? Quem é? Fiquei todo torto na cadeira, sem jeito, como sempre fico quando algo me perturba. "Mas que justiça injusta essa, não?", pensei comigo. Levar assim, tão jovem moço, para o abisso do desconhecido. Deixar órfã uma linda menina de 11 anos. Enviuvar uma dama no auge da idade, idade balzaquiana.

"Que justiça é essa, meu Deus?", alinhavei. E desde quando acredito tanto em Deus pra render culto assim, pedir explicações em momento tão embaraçoso? E por que estou escrevendo a palavra "Deus" assim, com letra maiúscula? Algum temor perante justiça tão cruel? "O que está acontecendo comigo? O que aconteceu comigo?", vociferei com meus botões, arrefecidamente. Senti o ar abafado. Sinais de fumaça, muita. Estávamos na Estação da Lapa. Umidade fumacenta entrando pelos pulmões e poros. Comecei a suar, andando. Sou um sujeito imprestável suado. Não consigo me concentrar. E eu tentando matutar mais sobre o ocorrido dentro do ônibus. "Quem me censurava? Por que não conseguia continuar a reflexão sobre aquela conversa?", gritei internamente, inquirindo-me. As pessoas me atropelavam, esbarravam em mim. Depois lembrei da frase proferida pela senhora de saia e batom escarlate: "É mesmo assim. Quando Deus quer, nada atrapalha. Não adianta. Deus é sempre justo, justíssimo!"
...

Continuei caminhando. Na lanchonete mais próxima, pedi uma água mineral bem gelada. Muito desgaste para um dia que apenas começava.

4 comentários:

Germano Viana Xavier disse...

Crédito da imagem:

"Ice jewel
by *thordi"
Deviantart

Marcia disse...

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palavrasdeumnovomundo disse...

Parabéns! Gostei muito do blog e dos textos que passei os olhos rapidamente, mas com certeza voltarei para apreciar com mais calma já que agora estou lhe seguindo. Se quiser conhecer minha página fique a vontade só que sou iniciante, amadora e tenho muito o que aprender com pessoas como você. Abraço fraterno, feliz Natal e ótimo 2011. Rosa
http://palavrasdeumnovomundo.blogspot.com

docerachel disse...

É isso, quando Deus quer nada atrapalha. Ele bem que podia fazer o encontro dessa balzaquiana e desse estrupisio empoeirado, não?

Li ouvindo essa canção:
http://www.youtube.com/watch?v=YjO_VXHxsRw&NR=1