terça-feira, 15 de maio de 2012

Maternal matéria



Por Germano Xavier

Do que é feito uma mãe? Quem de vocês, leitores, já fez tal pergunta? Por acaso, algum cientista norte-americano com diploma de alguma universidade britânica ou mesmo um antropólogo desses que vivem estudando fósseis pelos desertos mais longínquos nos quatro cantos do mundo, ou quem sabe um psicanalista importante e renomado que se diz apto a entrar nos porões e sótãos das pessoas, alguém de vocês saberia me responder de que é composta uma mãe? Não, por favor, não pensem que é um problema banal o que estou aqui levantando. Pelo contrário, estamos diante de uma dúvida crucial que, se solucionada, poderia evitar muitos males e intempéries, digamos, advindas de inconfundíveis e maternais matérias.

Penso que, se este não for o maior enigma da espécie humana, assim um dia ainda o será considerado. Claro, eis um milenar mistério. Coisa muito mais protegida que a receita daquele refrigerante preto que todo mundo no mundo toma e que alguns tentam imitar. Confesso que fico meio cabreiro quando ouço alguém dizer aquela frase típica de quem quis fazer algo sem seguir o aconselhamento da boa e velha madre e no final bateu a cara contra o muro: “Mãe é mãe, e pronto. Precisa ser levada a sério.” Não que eu não leve a minha mãe a sério, mas tem hora que pelo amor de Deus... é de não aguentar, e isso é mesmo realmente sério.

Venha cá, meu amigo, diga-me uma coisa: sua mãe também faz tempestade em copo d’água? Sua mãe te repreende pela mínima coisa fora do lugar? Sua mãe já te esperou na porta de casa numa madrugada fria só porque você tinha saído com alguém que não merecia ou não combinava com o filho ou a filha dela, ou seja, com você? Sua mãe ainda pensa que você tem doze anos de idade e que ainda precisa lhe mostrar o melhor caminho a seguir? Sua mãe já usou de ardis emocionais para te chantagear ou obter de volta algo momentaneamente perdido? Sua mãe costuma ficar comparando suas ações porventura fracassadas com as de algum parente distante seu e que, segundo ela, conseguiu se dar bem na vida? Sua mãe... chega, não? O questionário é quase infinito, mas se você respondeu sim para algum destes questionamentos, não se preocupe, estamos no mesmo barco e a maré ainda é uma incógnita invariável.

Por falar em Deus, o Todo Poderoso lá de cima (ou lá de baixo, vai saber...) quando decidiu fazer a mulher da costela do homem certamente disse: “Das costelas que ficam mais próximas à carne do pescoço do homem brotará o ser-mais-pleno-de-todo-o-Éden, a Mulher-Mãe”, assim mesmo, com toda a sua retórica característica. Mãe, quando quer, é osso duro de roer (desculpe meus excessos de ditados populares). E põe duro nisso! Porque se engana quem pensa que só existe o par Homem-Mulher, e totalmente! São três os gêneros humanos. O Homem, a Mulher, que são feitos de carne e osso, apenas, e a Mulher-Mãe, que é o nosso objeto de estudo aqui. Este último, um estágio superelevado da condição primeira e, portanto, original de ser “apenas” Mulher (reparem que as aspas aqui estão no sentido estritamente figurado).

Olha cá nossa pequenez diante de assunto tão fundamental. Estamos aqui há bons minutos travando um diálogo e nenhuma certeza ainda fora apontada ante nossas faces. Será que vou morrer sem saber de que era feito a minha mãe? Será que você irá morrer sem saber do que sua mãe era constituída? Porque se eu soubesse que aquela sua voz alterada em dias menstruativos fosse falta de algum mineral essencial de sua composição espírito-corporal, se soubesse que aquele olhar de decepção para você em dias não muito alegres fosse uma oxidaçãozinha pouca em suas pálpebras já por demais experientes, se eu soubesse que todas aquelas preocupações exageradas eram por motivo de falta de óleo lubrificante em suas juntas, todas estas aporrinhações pelas quais passamos com nossas mães poderiam ser exterminadas num rápido instante. Mas, não, quiseram-na Dona Suprema de todos os arcanos, a Cheia-de-Graça e ai de nós, seus filhos, seus pobres filhos, que nem mesmo suspeitam do que são feitos estes tantos vãos que um dia nos pariram...

7 comentários:

Germano Viana Xavier disse...

Crédito da imagem:

"Cold, Cold Heart
by *darkdex52"
Deviantart

Caca disse...

Eu sou defensor da idéia de que mãe deve ser elevada à categoria de instituição. Não estas fajutas que governam nossas vidas sociais e políticas. Mas uma instituição sagrada, com direito a panteão. Abraços, Germano! Paz e bem.

josé da silva disse...

Mãe - pelo menos a minha - com todas suas implicações, "arrume o quarto", "mande um currículo", "desliga o computador", é o amor concreto.

Um dia, na minha juventude, por exemplo, ela disse que o Kurt Cobain era uma má influência para minha geração (o (ab)uso de heroína, a "punheta" no hollywood rock, as guitarras quebradas, os saltos mortais em cima da bateria) ...

Um semana depois da declaração anti-nirvanística, cheguei em casa e tocava "in bloom" no talo.

Então, acrescento, mãe é o amor concreto paradoxal.

Abraços

SAM disse...

Germano,

sou Mulher-Mãe e tenho uma que não faz uma tempestade em copo d'água (faço eu!), mas um dilúvio! Então desde cedo passei a advertir minhas filhas para este típico comportamento maternal e hoje até me arrependo disso nas vezes que quero usar destes tais ardis emocionais rrsrs.


Beijos

Renata Fagundes disse...

mãe é feita de terra e céu
é bruxa que adivinha o que estamos pensando
é santa que nos espera de braços abertos
é cheiro de chá de cidreira, bolo de milho, comida caseira
é colo, cuidado
feita de grude que cola na gente e não larga

sou mãe e filha..graças a Deus
sou completa..repleta

amém

Seja bem vindo ao Cítrico Germano

já deu pra perceber que adorei tudo por aqui né?...rs

beijos cintilantes

Jhony disse...

Caro amigo. Ao longo de minha curta vida pude perceber do que é feita a mãe: ela é uma rajada de aporrinhações, pode até ser. Mas suas características instintivas maternais se sobrepõem a isso. Com a minha mãe aprendi que "mãe" é amor, mesmo quando tu fazes as piores e mais vergonhosas coisas... mãe é amizade, a pessoa em que se pode confiar. Mãe é afeto, amor incondicional, que te acaricia nas dores, e te dá um empurrão nos dias difíceis. Mãe é o exemplo de empatia.
Posso estar descrevendo a "minha" mãe, e não "as mães". Talvez eu não possa responder as tuas indagações. Mas agradeço todos os dias por ter uma mãe tão maravilhosa. A mulher da minha vida, que me deu a vida, e que seria capaz de dar a sua pela minha.

Ana Lucia Sorrentino disse...

Rsrsrs... muuuito bom...
Germano, qualquer dia te conto! ;)