domingo, 3 de junho de 2012

Medos intangíveis



Por Germano Xavier

Certa vez me perguntaram do que eu tinha medo na morte. Confesso que naquele momento não soube responder. Era, decerto, uma proposição um tanto quanto complicada para mim. Tinha lido muito pouco sobre a morte, e escrito menos ainda. Apesar de ser um jovem - ainda me considero um -, sei que deveria me preocupar com a morte e com suas respectivas intermitências. Já outro dia, um bom tempo depois, relembrando tal fato, acreditei saber deveras do que eu tinha medo na morte. Todas as "coisas" deste mundo são ou acontecem da mesma maneira que imaginamos ou do modo que queríamos que acontecessem, ou que fossem, e é justamente neste ponto que se encontra escondido o meu maior receio - convenhamos aqui que a pessoalidade não seja tão ofuscada pelo esforço do pensamento universal. A morte nem sempre vem como queríamos que ela viesse, e o pior, às vezes ela pára na esquina da vida e acaba se esquecendo de que todo mundo tem de morrer um dia. Destarte, devo dizer que deveras é nesta hora que a morte revela sua verdadeira face. Tudo se estabelece durante suas intermediações, suas pausas e suas interrupções. A sensação da dor que tarda e que não mais convém e toda a sua inoportuna presença, a sua sombra sendo refletida nas paredes brancas dos quartos últimos, a sua aura negra incrustada no velho e fedegoso redingote vagando ao redor do corpo que clama uma derradeira facada no peito que sangra e sangra até ver-se exangue... são esses os meus temores. Mas desconfio que o meu medo se resuma apenas ao que acabei de enumerar. Deve haver mais medos, mas é que a morte é tão misteriosa e discreta que acaba ficando impossível reconhecer nela nossos próprios pavores. Tenho medo do silêncio, apesar de conviver tão bem com ele durante toda a minha vida. É a hora em que a morte está mais próxima de mim. Sempre me bato com a fraqueza do meu coração. Não consigo entender como sou tão sensível. Um poeta deveria querer a morte, venerar a sua suposta última ventura... mas eu quero a morte, sim, e que ela venha calma, porém de súbito. Que ela pouse em mim como pousa o passarinho amarelo na janela do meu quarto, e que permita-me enxergar, por uma última vez, toda a beleza dos cânticos naturais mundanos. Enfim, que venha o pássaro da morte! O meu silêncio calar-te-á.

7 comentários:

Germano Viana Xavier disse...

Crédito da imagem:

"monster figure
by *appleplusskeleton"
Deviantart

Fabiana Alves disse...

Uma bela caracterização da morte!
Abraço!

eder ribeiro disse...

Este teu texto me pegou no âmago, apertou o peito, deu medo. Abçs.

Srtª Elis° disse...

ahah eu estou a beira da morte... isso me apavoraa......
Um xero seu blog e demais....

TE ADC NO MEU MSN... PRA GENTE TROCAR UMAS IDEIAS DE BLOGUE....

Hugo de Oliveira disse...

Fascinante!

abraço
de luz e paz

Letícia Palmeira disse...

Já tentei deixar umas palavras aqui, mas deu falha no sistema.

Repetindo:

Um poeta que leio bastante costumava dizer que andava com a morte no bolso (como se ao homem fosse dado o direito de permanecer vivo ou não). E ele também dizia que o pior da morte não é a morte em si. O pior é a forma como algumas pessoas vivem ou deixam de viver. Isso torna a morte mais trágica.

E eu concordo com o Cazuza: Morrer não dói. A forma como se morre, sim. Esta deve doer.

E destarte me faz lembrar descarte.

*Fedegoso redingote é muito para a língua falada. =|

Não estando aqui para dar nota ao seu escrito, deixo apenas minhas impressões de outras leituras que faço.

Câmbio.

Jullio Machado disse...

A morte é sempre um mote escabroso. Procuramos , sempre, ignorar as suas sombras sinistras que pairam no ar.
Mas convenhamos, a morte é o maior mistério que existe. Morreu , se acabou...
Prefiro acreditar que tudo que vivenciamos, até mesmo a morte, é um estado de "espírito". E como li certa vez: " o que é, sempre tornará a ser". Logo nó somos. Portanto sempre existiremos.
Assim seja!