segunda-feira, 14 de maio de 2012

Umbilicus



Por Germano Xavier

em nossa fábrica
fabrica-se o ilógico pano das cortinas,
das cortinas plásticas, elásticas, fluxíveis, leves
como plumas, rijas como planos,
densas como brumas e você,
este puma,
animal arisco no teatro sem vista para o ser.

em ti me junto, emplastro, me uno,
me curvo me cubro me deixo
ir

que somos feitos na mesma fábrica
com grosseiros ingredientes de iguais
e não nos conservamos. não, vamos,
e indo nos deixamos nos anos e nos amamos
na praça da fábrica que fundamos
de amor líquido, de amor sólido,
de amor-gás

tão voláteis como nossos reencontros.

9 comentários:

Germano Viana Xavier disse...

Crédito da imagem:

".uump.
by ~TOK5"
Deviantart

Jan Góes disse...

Fabrica-se vida de ida e de vinda!

muito bom...as imagens construídas são belas.!


abrçs

Dauri Batisti disse...

O amor, uma fábrica, uma máquina, transforma, forma, informa: ir.

Carol Piva disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Carol Piva disse...

Apaguei, descuidada, e agora deixo de novo as palavras. Tinham que ter sido assim:

Fabrico de cá, na toada drummondiana, o meu próprio elefante. E me imagino Ninnhinha em rosa que visito sempre! Imagens da minha construção esbarram na sua, Germano. Elefante meu, sem intenção de drummondiar o que de ata se fez fábula intransponível, prevê rasgo-lançamento em direção à realidade com certo deste(a)mor - eis o que nos cabe, ainda que descabido pareça.

Ao meu elefante-ficção, que amo como a uma outra também enclausurada em mim, mas fora de eixo meu de todos os dias, temo gestos de desencanto, mas sigo. E não cesso. Fomos feitos em fábrica mesma, e você está no arrazoado dos versos. Fábricas-só, embora aqui-acolá incongruentes. Descabidas somos, eu e a outra que projeto lançando-a ao destemor do amor, das respostas obtidas, ou por obter, ou simplesmente ainda por tolher e instaurar choque brabo contra o muro-realidade. Eis o ciclo da vida, que não para!

Descompassados os três, criaturas e criadora (infinitamente imagens por desdobrar), na estreiteza de olhares que nos lançam(rão), que nos corrompem(rão), que nos cegam(rão) tão logo eu exponha as criaturas minhas à claridade fosca das ruas...

Que as ruas suas, nossas-de-todos-nós no fim das contas, se façam asfalto menos flutuante que não nos vá comendo as solas dos sapatos imaginários nesse lançamento-no-vão-das-coisas!

Gostei muito do poema-imagem seu de ontem que comento hoje. Se escrevo é porque, você sabe! Escreva escrevendo sempre, palavras suas nos deixam menos sem! Seis bosques da ficção sua planejo ainda hoje... Abraço-te de cá!

Mell Renault disse...

Olá meu caro amigo!

Venho porque neste poema me deito, sinto como cama de minha imensa forma que vai se desfazendo enquanto deixo nos outros a infinita fôrma de que fui feita. Sou eu e você, egocêntricamente. Não há jeito. Vou me transformando conforme os estados da matéria e me deixando ser, seja como for em ti, nos teus poemas, nas tuas palavras surdas e silênciosas.

Um enorme beijo de lua!!
Mell

controvento-desinventora disse...

Essa fábrica de poemas que é o amor, só funciona, quando há greve, porque na fábrica de ser não se é...parados engolindo estas palavras nos estasiamos em desejarmos ser, nessa febre fabril, o umbigo um do outro.

Urbano Gonçalo de Oliveira disse...

Voláteis mesmo amigo.
Gostei muito, muito interessante esse poema.
Abraço, boa semana, fica bem.

Daniela Delias disse...
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