sexta-feira, 18 de março de 2011

Tsis


Por Germano Xavier

Para o amigo Renê Salomão


Como diria o Max Nunes, este realmente seria um daqueles "tipos inesquecíveis". Sob o ponto de vista moral era, sem dúvidas, quase mais limpo que qualquer folha de papel em branco. De inteligência era tão redondo quanto as linhas de um velho fusquinha. Minucioso como um vendedor de imóveis talvez não fosse. Todavia, deveras seria ocupado como telefone de bicheiro.

O conheci embaixo de uma árvore, que já não existe mais. Não era um juazeiro, mas era uma árvore numa avenida de Juazeiro. Seria o primeiro dia de aula na faculdade de jornalismo. Percebi a sua chegada. Silenciosa chegada. Um de costas para o outro. O calor era muito. Ele levantou e veio até mim. Aproximou mais. Lembro que carregava uma garrafinha de água mineral em uma das mãos. Eu tinha acabado de ingerir duzentos mililitros de iogurte. Éramos dois sedentos. Com sede, certamente, de conhecimento. Senti que ele queria iniciar uma conversa comigo, e foi justamente isso que aconteceu.

"Boa tarde, tsi, tsi, tsi. Você também é calouro, tsi, tsi, tsi?"

Confesso que não entendi o código que ele usava sempre no final das suas falas. Imaginei que ele poderia ser um extraterrestre disfarçado de ser humano, e que estaria aqui para me levar para o planeta onde se falava a língua TSI. Perguntei, curioso com a situação:

"Como você se chama?"
"Bom, na verdade eu me chamo Renê".
...

A conversa começa a se desenrolar. Porém, eu ainda não conseguia decifrar o significado de um tsi nem de dois tsis, tampouco de três tsis. Disse que era de Salvador e também que estava procurando alguém para dividir as despesas de uma casa. O jeito dele de andar era meio que desconsertado, mas o rapaz (um possível extraterreno?), estava sempre feliz. Sorria e fazia os outros sorrirem. Imaginei que estivesse mentindo, e que o lugar de onde viera, na realidade, tivesse o nome de Sorriso.

"Tsi, tsi, tsi..."

2 comentários:

Germano Viana Xavier disse...

Crédito da imagem:

"Amizade by ~MrTiF"
Deviantart

Gustavo disse...

Oi Germano,

Sabe, parei de fumar charutos...
Abraço,

Gustavo