Por Germano Xavier
A Virgínia apareceu depois de um fim de semana de sumiço. Apareceu e me trouxe novidades. Pensei que ela ia me dizer que tinha acertado quinze números na loteria e tinha ficado milionária e que ia comprar uma casa na Toscana e que ia me levar com ela. Mas não foi nada disso e foi algo melhor. É que eu estou ficando conhecido. E como diria Autran Dourado, reconhecimento bom é aquele que a gente sente nas outras pessoas, sem forçar a barra. Foi um dia produtivo. Li muita coisa. Escrevi dois contos e três poemas. Li a terceira parte do livro do Gabo e Degaldina está amando o velho. Ela acaba de fazer quinze anos de idade, o mesmo número dos possíveis números da loteria. O velho tem noventa e um anos. Faça a conta. Noventa e um menos quinze é uma vida de anos. Mas sou daqueles que não acreditam na idade do amor. O amor é o próprio tempo e, como todos sabem, o tempo engole tudo. Meu time do coração perdeu mais uma no campeonato e agora a coisa ficou feia. Melhor nem comentar. Deixa rolar. Ainda deu tempo de dar uma volta pela cidade com a Anita (minha moto) e deixei de tirar uma foto lá na orla, próximo ao palco da festa do dia anterior que, talvez, seria a foto a foto do ano no mundo e talvez com ela eu conseguisse ficar milionário e comprar uma casa na Toscana e levar a Virgínia comigo. Mas ia ser muita injustiça e eu seria um desgraçado se conseguisse alguma coisa com a desgraça dos outros. Não estava com a máquina e pensei em meu agora debilitado espírito jornalístico. Dois meninos que quase não vi direito, de tão miúdos, pretos, um nu e um com um saco branco escondendo suas vergonhas ainda não vergonhas, agachados, do tamanho da calçada em maior relevo, juntos, comendo alguma coisa de resto de festa juntos e uma pequena poça de água parada, os dois ali, pequenos “cachorrinhos” e a imagem da extravagância humana em contraste, o gozo pós-prazer feito do coto dos que podem e da reaplicação pelos que não podem. Eu tinha visto o “bicho” do poeta Bandeira, ou melhor, os “bichos”, e desperdicei a chance de registrar aquilo para o mundo. De qualquer forma, a imagem está guardada em mim e me fez pensar em algumas coisas. Não consegui continuar o passeio e segui para casa. Fui escrever.
A Virgínia apareceu depois de um fim de semana de sumiço. Apareceu e me trouxe novidades. Pensei que ela ia me dizer que tinha acertado quinze números na loteria e tinha ficado milionária e que ia comprar uma casa na Toscana e que ia me levar com ela. Mas não foi nada disso e foi algo melhor. É que eu estou ficando conhecido. E como diria Autran Dourado, reconhecimento bom é aquele que a gente sente nas outras pessoas, sem forçar a barra. Foi um dia produtivo. Li muita coisa. Escrevi dois contos e três poemas. Li a terceira parte do livro do Gabo e Degaldina está amando o velho. Ela acaba de fazer quinze anos de idade, o mesmo número dos possíveis números da loteria. O velho tem noventa e um anos. Faça a conta. Noventa e um menos quinze é uma vida de anos. Mas sou daqueles que não acreditam na idade do amor. O amor é o próprio tempo e, como todos sabem, o tempo engole tudo. Meu time do coração perdeu mais uma no campeonato e agora a coisa ficou feia. Melhor nem comentar. Deixa rolar. Ainda deu tempo de dar uma volta pela cidade com a Anita (minha moto) e deixei de tirar uma foto lá na orla, próximo ao palco da festa do dia anterior que, talvez, seria a foto a foto do ano no mundo e talvez com ela eu conseguisse ficar milionário e comprar uma casa na Toscana e levar a Virgínia comigo. Mas ia ser muita injustiça e eu seria um desgraçado se conseguisse alguma coisa com a desgraça dos outros. Não estava com a máquina e pensei em meu agora debilitado espírito jornalístico. Dois meninos que quase não vi direito, de tão miúdos, pretos, um nu e um com um saco branco escondendo suas vergonhas ainda não vergonhas, agachados, do tamanho da calçada em maior relevo, juntos, comendo alguma coisa de resto de festa juntos e uma pequena poça de água parada, os dois ali, pequenos “cachorrinhos” e a imagem da extravagância humana em contraste, o gozo pós-prazer feito do coto dos que podem e da reaplicação pelos que não podem. Eu tinha visto o “bicho” do poeta Bandeira, ou melhor, os “bichos”, e desperdicei a chance de registrar aquilo para o mundo. De qualquer forma, a imagem está guardada em mim e me fez pensar em algumas coisas. Não consegui continuar o passeio e segui para casa. Fui escrever.
Um comentário:
Já perdi minha foto do ano. Era verão e eu estava caminhando pelo vilarejo onde minha avó mora, numa fazenda afastada. E alí passou por mim uma família faltando pedaço. Não haviam os pais naquela hora, mas haviam quatro irmãos, sendo três meninas e um menino, este menor, deveria ter os seus dois anos. Sujos, descalços, com os cabelos lisos endurecidos pelo suor e poeira daquele lugar de sol escaldante. Passava pelo grande "corredor" - é assim que chamam o lugar, aquela estrada de chão batido, com cerca de arame dos dois lados e lá no pé da ladeira há um grande pé de jatobá. Como é alto! sabe o baobá do Pequeno Principe? quando criança eu achava que aquele pé de Jatobá do corredor era o baobá... - e íam alegres, com aqueles rostinhos de fome, de pobreza, de simplicidade e de alegria. Roupinhas sujas, rasgadas, pés nus, e alegres. Tive vontade de perguntar para onde íam com toda aquela pressa e alegria, mas não o fiz. Naquele tempo eu não andava com câmera a tira colo como hoje, mas aquela foto nunca será apagada pelo tempo. Talvez aquela "foto" tenha reforçado o que costumo reafirmar sempre, sempre: é mesmo fácil ser feliz.
Beijo no coração, Poeta!
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