quinta-feira, 3 de maio de 2012

Iraquara - Em memória de nós


Por Suzana Durães

Germano Viana Xavier é poeta, escritor, jornalista e professor. Dessas pessoas que a gente mal conhece e já admira profundamente. Há nele tal poder de se fazer amar. Com um instinto descobridor de essências dedilha versos-pensamentos-palavras entremeados de simbologias e estética surpreendentes. Sintaxe manejada com destreza e caos. Na mansidão voraz de sua lavra vamos ora embevecidos, ora agonizantes, fruindo, fluindo em suas formas-pensamentos com a absoluta certeza de que ficar sem elas já nos é impossível. E sem cautela nos embrenhamos em suas dilacerantes construções que mais se assemelham às agulhas de aragonita das grutas de Iraquara, donde saímos às vezes arranhados e descobertos, porém desejosos de retorno e deleites. Em seu livro-reportagem Iraquara: em memória de nós, 2009, Germano Xavier busca efetuar um resgate histórico-memorial de sua cidade através do gênero crônicas. Segundo o autor afirma, ainda não é um livro, é a parte de um que levará a vida inteira para ficar pronto porque é o livro de sua vida. Obra que por ser “inacabada” impressiona pelo traçado singular de suas narrativas. Consciência, verdade, amor são palavras que bem descrevem o lavrar dessa obra. “[...] Ao contrário do que possa parecer, Iraquara, só estou cuidando um pouco de ti. [...] Eu perdi minha cidade, cidade que nem só das grutas será, mas que a ela pertenço. Eternamente. Ternamente. [...]”. O sentimento de pertencimento e separação são sangrias abertas no coração do homem marcado por partidas e chegadas. Retratos da infância, aspectos dessa terra e de sua gente, não passaram despercebidos ao olhar atento desse viandante. Resquícios de alegrias e saudades transparecem nas histórias contadas por Cícero, na loucura sã de Fone, na beleza sensível de Maria Neta e nos tantos outros personagens-pessoas retirados com gentileza de sua memória. Crônicas apuradas revelam as sutilezas de um menino interiorano que viveu uma infância feliz. Na Ladeira de Maria o encontramos em descida desabalada com sua Monark BMX amarela, feito Ícaro, já alçando altos voos. Num misto de realismo e ficção, o autor exorciza a memória, revirando o baú ainda jovem das lembranças e com minúcias nos presenteia a história de Iraquara. Sua origem, singularidades, sítios e personagens. E no meio de tudo isso, uma linda história de amor. Não uma história comum, banal, entre um homem e uma mulher, mas o amor infinitamente traçado entre o homem e a máquina. Ela: uma Olivetti Lettera 25 portátil, de origem mexicana. Mas daí conhecer todo o teor dessa narrativa, só com a publicação da obra. Um livro que merece ser aguardado com a costumeira ansiedade de um leitor que prevê um bom enredo.

2 comentários:

Ana Lucia Sorrentino disse...

Preciso ler isso, Gê...

Jacqueline disse...
Este comentário foi removido pelo autor.