sábado, 16 de junho de 2012

Ele: Ariano Suassuna



 Por Germano Xavier

Abaixo vocês lerão o editorial do segundo número (esse escrito por mim, posto que a escrita deste excerto se dava em revezamento contínuo) da Revista Visões - antiga publicação "marginal" elaborada por um determinado grupo de alunos no início do curso de Jornalismo da Universidade do Estado da Bahia e, também, uma rápida entrevista com o escritor Ariano Suassuna, realizada no saguão do Hotel JB, em Petrolina-PE.

Editorial

Saudações, caros leitores!

É com grande orgulho e satisfação, para nós integrantes da Visões, o afloramento de mais uma edição de nossa revista. Depois de horas de debate e planejamento, decidimos tornar o projeto "materializante de ideias" num processo mensal. É isso mesmo! A sua mais nova fonte de conhecimento e de leitura construtiva vai estar todo mês esperando por você. O sucesso cativante e a repercussão positiva, concernentes aos textos que fizeram parte da primeira edição, impulsionaram-nos enormemente em direção ao movimento de prosseguimento do trabalho que iniciamos. E aqui está o resultado de mais um esforço coletivo, baseado na superação individual e na harmonia de um conjunto interessado na construção de um caminho mais libertário, mais humano e consciente, onde o desafio da vida é o combustível gerador de toda a nossa manifestação. O objetivo está mais transparente e límpido. Os alvos que almejamos estão menos distantes de serem atingidos, pois a cada frase escrita, a cada texto criado e a cada suor derramado ecoa em nossos corações o fascinante desejo de continuidade em busca de uma vitória. Faça parte deste mundo visionário, você também! Leia! Discuta! Abra as janelas para uma nova visão e leve adiante essa ideia.

Por Germano Xavier.

Entrevista
(Por Luís Osete, com apoio de Ayala Lopes e Germano Xavier)

A chama eterna do Imortal

Alguém me cutuca:
- Encosta o gravador na boca dele!
Gravador em punho, as pernas de Ariano já estão cruzadas e seus olhos pedem. Viemos, vimos, e agora é chegada a hora de entrevistarmos. Mas antes ele tem uma dúvida:
- Vocês são daqui mesmo de Petrolina?
- Não, nós somos de Juazeiro.
- Juazeiro, sim.
O pigarro veio como um aviso. É necessário começar:

Revista Visões - O senhor, no discurso de posse na Academia Brasileira de Letras (ABL), afirmou que "a força da tradição verdadeira é aquela na qual não limitamos a cultuar as cinzas dos antepassados, mas tentamos, sim, levar adiante a chama imortal que os animava". Então, qual é a chama imortal que te anima?

Ariano Suassuna - Bom, eu citaria como os mestres, aqueles que estabelecem uma tradição na qual procuro seguir, escritores como [o novelista espanhol] Cervantes (1547-1616), [o comediógrafo, diretor e ator francês] Molière (1622-1673), [o romancista, teatrólogo e contista russo] Gógol (1809-1852), os grandes clássicos gregos, como [o dramaturgo] Sófocles (496-399 a.C.) e [o poeta épico] Homero (séc IX-VIII a. C.). E, no Brasil, procuraria seguir muito de perto o meu mestre [engenheiro e jornalista] Euclides da Cunha (1866-1909), [o poeta satírico e lírico] Gregório de Matos (1633?-1696), o dramaturgo Antônio José da Silva, o Judeu (1705-1739 e [o romancista e contista] Lima Barreto (1881-1922). São os mestres que me tocam mais de perto.

Visões - A aula-espetáculo, como o senhor mesmo afirma, "é um espaço criado para deflagrar uma discussão sobre a cultura brasileira", e sua primeira aula foi aos 19 anos...

Ariano - Aos 19 anos, apresentando 3 cantadores [os irmãos Batista-Dimas, Otacílio e Lourival] e um poeta popular [Manuel de Lira Flores], no teatro Santa Isabel, Recife. No dia 26 de setembro (dia desta entrevista) de 1946.

Visões - O que mudou de relevante no modo de se estar pensando a cultura brasileira?

Ariano - Eu tenho uma visão, como você mesmo acaba de citar reportando-se ao meu discurso, de uma espécie de continuidade da cultura brasileira, e mais recentemente, procuro me manter na linha traçada pela Escola do Recife, do [crítico, historiador da literatura e polemista] sergipano Sílvio Romero (1851-1914). O romance de 30, o folheto de cordel e os espetáculos populares brasileiros também exerceram uma influência fundamental na minha formação. Agora, quando disse esta frase [no discurso de posse da ABL] eu estava vendo que a situação da cultura brasileira se encontrava pior do que está atualmente, quer dizer, acho que hoje já está mudando alguma coisa. Você veja, por exemplo, a Rede Globo hoje está procurando se aliar a nós que defendemos a cultura brasileira. Antes havia uma espécie de indiferença ou hostilidade, hoje você vê na Rede Globo, num programa visto como é o Jornal Nacional, um quadro chamado de Identidade Brasil, ou seja, a Globo está começando a se preocupar com a identidade cultural brasileira.

Visões - Quando surgiu a preocupação de proteger a cultura popular do lixo produzido pela indústria cultural de massa?

Ariano - Ah, isto foi muito cedo, eu era talvez da sua idade quando comecei a me preocupar com isto. Entrei na faculdade de Direito com 18 anos e me juntei ao movimento do Teatro do Estudante de Pernambuco (TEP), sob a liderança do [romancista, dramaturgo e ensaísta] Hermilo Borba Filho (1917, PE - 1976), um escritor que desempenhou um papel muito importante na minha formação. O TEP já tinha esta preocupação de preservar a nossa cultura e lutar contra o processo de descaracterização e de vulgarização da cultura brasileira, processo este que estava em curso já com os meios de comunicação naquela época e que se agravou daí em diante. Realmente, agora, estou notando por parte da juventude uma coisa que me deixa muito animado, os jovens hoje, da sua idade, estão mais preocupados com isto do que as pessoas de meia-idade, dos velhos como eu... alguns têm esta preocupação.

Visões - No dia 7 de outubro o senhor completa 60 anos de vida literária...

Ariano - Publiquei pela primeira vez um poema [Noturno] no dia 7 de outubro de 1945, no Jornal do Commercio, de Pernambuco.

Visões - O senhor poderia enumerar alguns méritos e equívocos que marcaram sua trajetória literária?

Ariano - Eu me preocupo muito com aquilo que fiz quando escrevi minha primeira peça, Uma Mulher Vestida de Sol (1947), tinha 20 anos de idade. Aos 30 reescrevi-a, já preocupado porque estava achando que tinha faltado alguma coisa. Uns 30 anos depois tive um pedido do meu amigo [cineasta e diretor de televisão] Luís Fernando Carvalho para que eu permitisse ser adaptada à televisão, aí fiz uma terceira versão, e acredito que ainda vou fazer uma quarta.

Visões - Quem são os artistas atuais que melhor representam o espírito do Movimento Armorial [surgido no dia 18 de outubro de 1970, com o objetivo de criar uma arte brasileira erudita, baseada nas raízes populares da nossa cultura]?

Ariano - Olha, nós temos um grande artista plástico [gravador, pintor, desenhista e professor] chamado Gilvan Samico (1928, PE -), que eu considero o maior gravador brasileiro de todos os tempos. Agora, nós já estamos na quarta geração de Armoriais. O movimento começou com 4 artistas; dois músicos: [o compositor, arranjador, violonista e regente] Guerra Peixe (1914, RJ - 1933) e [o compositor e instrumentalista] Capiba (1904, PE - 1997), Gilvan Samico e eu. Então esta foi a primeira geração de artistas armoriais. Depois veio uma segunda geração, integrada por músicos como Clóvis Pereira (1932, PE-) e Jarbas Maciel. A terceira geração teve pelo menos dois grandes artistas: o multiartista Antônio Nóbrega (1952, PE-) e o compositor Antônio Madureira (1949, PE-). E a quarta geração [geração que consolidou as manifestações da estética armorial nas artes plásticas], onde estão meu filho Manuel Dantas Suassuna, Alexandre Nóbrega [assessor de Ariano], o ensaísta, romancista e poeta Carlos Newton Júnior e Guilherme da Fonte (genro de Ariano).

4 comentários:

Germano Viana Xavier disse...

Crédito da imagem:

"+Ariano Suassuna+
by ~Yo-tan"
Deviantart

Dani Gama disse...

Maravilhoso!!! Muito bonita e rica a sua idéia desse novo canto da "casa", onde muitos poderão conhecer mais sobre outros e sobre si mesmos. Falar de si próprio não é lá uma tarefa muito fácil! Parabéns, Poeta!

Estou compartilhando...

controvento-desinventora disse...

Sempre cheio de idéias e memórias.Que bom o resultado de tudo isso!Adorei essa proposta. Digo que sofri algo parecido, em algumas vezes em minha vida, diante de escritores geniais, como: João Cabral, Drummond ( seu queridíssimo), Leandro Konder, Roberto Da Matta,Milton Santos, Eduardo Galeano,mas nenhuma emoção tomou conta de mim, como quando pude tocar a máquina de escrever de Clarice Lispector.

Anônimo disse...

Prazer imenso encontrar em seu blog, memórias do meu conterrãneo escritor e poeta Ariano Suassuna, bem como outros personagens nordestino, inclusive a Ana das Carrancas... trabalho lindo!Abçs!