sexta-feira, 3 de agosto de 2012

O quarto poder


Por Germano Xavier

Um desafio para reconquistar o antigo posto na emissora KXBD, coloca o repórter Max Breckett numa situação bastante inusitada. Tudo isso para que pudesse ele retornar a exercer o seu ofício na cidade de Nova York. Do que seria capaz um jornalista decadente para recuperar o seu prestígio perdido? É justamente sobre esta temática que o filme O Quarto Poder, do diretor Costa Gravas, tenta dialogar. Com a incumbência de produzir uma matéria em um museu no centro da cidade, e que, dificilmente, chamaria a atenção da sociedade, Max parte para o local da reportagem, sem grandes expectativas e na companhia de uma estagiária. Todavia, ao chegar ao museu, depara-se com um segurança revoltado por ter sido demitido sem motivos aparentes. Pronto, o palco estava armado. Principalmente, quando o vigilante, com uma arma em punho, dispara um tiro em direção a um outro guarda que estava nas proximidades. E o que parecia ser uma matéria insípida, logo se transforma numa polêmica nacional. Tudo graças à malícia e à experiência de Breckett que, utilizando vários recursos sensacionalistas, consegue arrebatar uma audiência extraordinária, fazendo com que toda a população se voltasse para o fato. Depois do processo inicial, a imprensa revela sua face mais cruel. Percebe-se a fomentação de inverdades que vão de encontro à ética e à objetividade jornalísticas. Macula-se a verdadeira e mais digna faceta do trabalho de apuração dos argumentos, fazendo do aparelho de imprensa uma máquina manipuladora de opiniões. De coadjuvante à protagonista do espetáculo midiático, Max apresenta o outro lado do jornalismo, um retrato que, infelizmente, ainda insiste em permanecer sobre as mesas de inumeráveis redações de jornal. Todo um ritual de ordenamento moral que rege a "cartilha" da decência jornalística é rompida, a partir do instante em que o profissional se "desprofissionaliza", o que implica no emprego de metodologias que permeiam a individualidade, a parcialidade na efetivação da mensagem, ou seja, tudo que abarca os interesses particulares de quem está com essa "arma" em mãos. As consequências de tal procedimento, num meio onde deveria haver o predomínio pela busca e uso da objetividade - e aqui está incluído toda a engrenagem desta ciência, que vai desde a apuração até os modelos de veiculação midiática, passando pelo que intermedeia a relação emissor-receptor (princípio básico da comunicação) -, são de dimensões catastróficas. Uma população alienada, com os olhares viciados para o que há de corrupto, digere, embriagada, o jogo fantástico dos aparelhos comunicacionais. Com um enredo no mínimo interessante, o longa-metragem consegue pôr em discussão uma temática que, indiscutivelmente, como um fantasma, ronda o meio. E isso fica ainda mais evidente a partir do momento que pensamos que hoje o jornalismo é movido pelo combustível dos gigantescos conglomerados empresariais.

2 comentários:

Germano Viana Xavier disse...

Crédito da imagem:

"enrola-me
by ~deadorothy-diesagain"
Deviantart

Thiago Cavalcante disse...

Um ótimo 2011.

Abraço, Germano.