Por Germano Xavier
o inútil de cada um está
na hora patética está
n'aurora morta
da hora derrotada
seminal hora
o inútil de cada um está
no agora refugiado
no gado que somos
o fruto podre
a maçã vencida
o inútil de cada um está
no veludo impuro
da vaga seresta
na tristeza sofisticada
na boceta malamada
o inútil de cada um está
no quadro enquadrado
do choro frequente
na mente demente
no gozo guardado
o inútil de cada um está
no abuso do piano
da rua depravada
na rua sem alma
sem história e delicada
o inútil de cada um está
na cidade esnobe
na aristocracia amorosa
do casal esquecido
do amor impossível
o inútil de cada um está
na covarde boca
sem voz sem língua sem nada
de ferir de bombardear nada
absolutamente nada
o inútil de cada um está
na velha marafona que existe
na moça feliz com tão pouco
iludida bambina traída
pelas ilusões de cor
o inútil de cada um está
no embasbacamento alheio
de quem assiste sentado
de quem fica resfriado
de quem não sabe andar
o inútil de cada um está
na improvisação como fim
na guerra na luta de classes
nos classificados do jornal
na criança morta do nada
o inútil de cada um está
na impiedosa riqueza áspera
no falsete harmônico no canto
sem encanto jogado ao léu
no céu com véu sem mel
o inútil de cada um está
na província tão capital
no capital tão desigual
no mal sem sal das pessoas
na estação de tratamento do ideal
o inútil de cada um está
no incauto recém-chegado
no funcionário público
no público sempre alvo
do escatológico estado
o inútil de cada um está
no partidarismo sem lei
no condomínio cercado
no automóvel refrigerado
na cafonice das gravatas
o inútil de cada um está
na natureza doente
nas bengalas nas macas
fofas das salas de estar
do gordo homem magro
o inútil de cada um está
na pajelança imaginária
nos anexos nos apêndices
nas mordaças nos martírios
nos patrões nos empregados
o inútil de cada um está
no celibato no fanático
no padroeiro pra tudo
no tudo pra nada
no tudo pra nada
na vida pra morte
5 comentários:
Crédito da imagem:
"Hollow gasp
by ~Felilly"
Deviantart
Passando por aqui, deixando meu abraço, lendo...
O útil de cada pode estar, poderia estar, estaria?, quem sabe deveria estar... na mão...
a mão que se estende, a mão que não prende, a mão que escreve, o coração...
Abraço, amigo.
Eu bem-dito este poema. Desde sempre.
E gostei das mudanças. Soa mais humano, mais interativo e humano. Literário.
A orgia esta na vontade de cada um de ser util...
Há inutilidade em tudo - que útil se julga ser.
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