quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

O caso no H.M.S. Beagle


Por Germano Xavier

No último episódio de sua saga, o inconceituável Napoleão Joujaumontx resolveu, depois de cautelosa e inteligente idéia de construção pensamental, colocar em prática um de seus planos estratégicos infalíveis de captura.

Pinóquio, mais conhecido como “O Traidor”, fugindo das impiedosas mãos do maior dos maiores, o mitológico Imperador Napoleão Joujaumontx, acabou deixando no chão vestígios de sua passagem pelos recantos e cantos do setor norte do Condado de Spitzbergen, onde toda a celeuma começou.

O som refletido nos ares do Condado ainda podia ser ouvido em alto e bom tom, devido mormente à representatividade e força que aquele susto houvera lhe proporcionado...

- U qui foi aquilu, meu deus? ... U qui foi aquilu, meu deus?... U qui foi a...

Como que de chofre, Napoleão Joujaumontx parou um segundo caprichoso bem dentro de si, e depois sussurrou...

- É chegadu u momentu, seu Pinóquio di uma figa! É chegada a sua vêis! Tenhu qui agí logu!

Sem pensar mais um segundo, o indestrutível Napoleão Joujaumontx largou todo o peso que carregava e também todo o apetrecho capaz de produzir barulho. Tudo muito estudado para que não ocorresse falhas em sua investida. Foi assim que Napoleão Joujaumontx iniciou sua busca em nome de sua honra...

- Eu não mi chamu Napoleão Joujaumontx, nem manterei a ordi dus cavalêrus bravius di “La Mancha”, a qual meu irmãu Quixote féis parti, si um dia eu não ti pegá na boca da butija, seu gatu safadu! Eu só pricisu di tempu! Eu só pricisu di tempu e paciênça!

O homem que Deus guarda, o insolúvel e indissolúvel homem incrível, o quase Deus e a bala que matou John Lennon, o marido da Luana Piovani, o ser que pinta de rosa a situação preta, o homem que dá rasteira no vento, ele, o próprio Napoleão Joujaumontx, agora caminha seus primeiros passos e percebe que o sucesso é apenas uma questão de tempo...

- Milhó luta é u lutá du deseju, Pinóquio! U lutá du deseju!

Com passadas largas e resolutas, e ainda seguindo a estrada construída com as supostas pegadas de Pinóquio, Napoleão Joujaumontx conhece pela primeira vez o pequeno porto do Condado de Spitzbergen, território pertencente ao seu Império do Ártico.

Napoleão jamais houvera pisado no porto de Spitzbergen. O destruidor das demagogias não precisava gastar energias observando a chegada e a partida de navios e saveiros que abasteciam todo o Condado com mantimentos de última necessidade. Havia um esquema de administração muito bem estruturado e que dava um bom rumo aos negócios do Império.

Nesse ínterim, Napoleão Joujaumontx percebe que as pegadas vão ficando cada vez mais desfiguradas, até perderem, em determinada coordenada geográfica, as suas formas mais visíveis. Um tanto que desorientado, Napoleão Joujaumontx não perdeu tempo. Começou a perguntar aos seus empregados sobre o possível destino trilhado por um ser que foge de alguém. E todos lhe apontavam o setor de embarque e desembarque do porto de Spitzbergen...

- Intãu é lá qui você si iscondi, não é! Intãu destá qui você vai vê cum quantus paus si fais uma canoa, seu Pinóquio disgraçadu! Destá!

Napoleão Joujaumontx, desviando-se de inúmeros baús e arcas repletas de alimentos e armas, finalmente consegue chegar ao setor de embarque e desembarque do porto de seu Condado no Ártico. Sem muito esforço, seus olhos denunciaram a presença de apenas um navio no atracadouro. Não era grande nem pequeno. No casco frontal havia uma inscrição:
H.M.S. Beagle – Inglaterra.

- Aqueli gatu salafráriu só podi tê carregadu u meu chinelu pra dentu daqueli naviu. Vô logu mi prontificá e encararei até uma viagi não pogramada si fô pricisu. Mas qui eu dô uma liçãu naqueli Pinóquio, eu dô! Ah, si dô!

Quando estava já subindo a rampa que dava acesso ao interior do navio, o maior viajante de todas as eras, o Marco Polo dos tempos modernos e contemporâneos e pós-modernos também, ele mesmo, e quem poderia ser?, o soldado dos soldados, Napoleão Joujaumontx, teve a nítida impressão de ter visto dois fiapos do bigode de Pinóquio em movimento de reconhecimento sensorial concernente à presença do seu amo, ali, atrás do barril de vinho, próximo ao mastro central.

Napoleão não titubeou. Acelerou suas passadas de forma a imprimir a si uma velocidade de ginete em trote considerável, quando foi abordado por um velho de calvície presente e barba branca de cerca de um palmo de comprimento.

- Saudações, Sir! Quão magnânima e honrada presença! Veio fazer uma visita ao nosso barco ou pretende conhecer os sete mares conosco? Informo ao Ilustríssimo Senhor General que dentro de 5 minutos partiremos para a nossa jornada. O que me diz, Sir?

Napoleão Joujaumontx, ainda aturdido e mais preocupado em averiguar se era mesmo Pinóquio o dono daqueles fiapos e se aqueles fiapos eram mesmo do bigode de Pinóquio, respondeu perguntando...

- Hum? Cuma? Quandu? Ondi? Hoji?

E arqueando o corpo em total reverência ao Imperador dos Imperadores, o homem de barbas compridas e alvas estendeu o braço ao General dos Generais, no intuito de auxiliar a entrada definitiva de Napoleão Joujaumontx ao interior do simpático Beagle...

Em poucas palavras, o homem do navio começou sua apresentação...

- Pode me chamar de Charles Robert Darwin, cientista e curioso inglês, natural de Shrewsbury. Será um prazer tê-lo em nossa companhia, Sir!

...

Não perca o próximo capítulo da saga de Napoleão Joujaumontx.
Você não perde por esperar...

Um comentário:

Germano Viana Xavier disse...

Crédito da imagem:

"Navio
by ~sollamy"
Deviantart