Por Germano Xavier
Aparentemente, e tão displicentemente,
morre o personagem simulado e morro eu.
Sem a rotina, desatinado, um corpo
de esforço fabrica um poema
não aplaudido.
A metade, o retrato partido ao meio,
o tema de um abismo,
uma música em bagatela mínima,
um império de células de produção
arregimentando sequências mortas
quando um mar de adiantos é a tenra verdade
dentro do grande público que é o peito.
Porque minha palavra existe
ao menos em mim e corro o risco
da chateação múltipla, o milagre-mor.
Porque se não fosse assim,
ou com pouca existência a pedra parada,
ou sem um tanto de desastre pessoal,
não romperia em ascese perfeita
a monotonia do meu bem e do meu mal.
Há de insultar minha parte mais nobre
em silêncio - a que justamente nada diz
ou pode. Há de ser lesada a água excessiva
que combato com penas e delícias,
porque tenho e não tenho o que penso:
um deserto sempre mostrado de outro jeito.
Todo corpo que construo nos sobretudos do dia
é um nunca visto feio e bonito, sorvido nos esqueços
que têm meus afundos e mercês.
3 comentários:
Crédito da imagem:
"Blue memories
by *duchesse-2-Guermante"
Deviantart
Polissemia bendita, que confere a seu texto mil faces...além da sua (face), aquela que justamente nada diz ou nada pode...
amei o texto,gostei da coerência.
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