Por Germano Xavier
Esta é a história de uma história que acontece. Não é história sobre o que aconteceu, mas sim uma narrativa sobre o presente presente mesmo ou sobre o futuro tão perto como incerto. Talvez seja esta historieta mais um conto mitológico encerrado na cadeia de vivências do ser humano ou, quem sabe, uma lenda sobre alguém que apenas pensou ter existido.
Segundo a mitologia baiana, Teseu era e sempre será o filho caçula de Carlos Egeu, rei de Iraquaratenas (Pote de Mel, em Tupi), e de Irlan Etra, filha do sábio João Piteu, rei de Canaranatrezena, onde morou na casa da avó por longos e inesquecíveis doze meses. Carlos Egeu, descendente de Eliseu Erictônio, reinava em Iraquaratenas e tinha, também, mais um possível herdeiro para o seu trono, o primogênito Gustavo de Iraquaratenas. Tinha, Teseu, desejos e sonhos que não cabiam na sua mochila, sempre rasa para a densidade de suas inquietações.
Nasceu menino, cresceu vigoroso e forte como um herói. Aos dezesseis anos seu vigor físico não era tão impressionante a ponto de assombrar ogros ou faunos malvados, porém capaz de erguer a enorme pedra antes movida por Carlos Egeu, recuperando a espada e as sandálias do pai, para logo depois dirigir-se à Iraquaratenas. Teseu passou por várias outras batalhas, perdendo umas e vencendo outras.
A história de Teseu começa na Chapada da Grécia Diamantina no ano de 1984, e não termina lá. Não termina na gigantesca cadeia montanhosa que serve de paredão para os lavradores de diamantes e garimpeiros dos mais diversos e cintilantes materiais preciosos. Não termina porque não começa lá, mas porque começa agora.
Teseu, hoje, tem 23 anos, usa óculos para descansar as vistas, não sabe voar, gostava de soltar pipas quando criança, não usa escudos e não sabe do seu destino. E quem suspeita destinos? Narciso não suspeitou sua morte, nem Frida o seu dragão. E acabaram morrendo, vítimas da dor maior de não saber. E o jovem Teseu não sabe que sabe e, por isso, é feliz e triste ao mesmo tempo. É feliz porque o Pessoa também não queria saber de nada, nem o Sócrates, e esses espelhos são para ele alívios na alma. É triste porque se ele não suspeita o seu destino, pode delongar mais alguns dias em nádegas esquentadas nas duras cadeiras da faculdade de Jornalismo que cursa. E alongar sua morte é simplesmente tudo aquilo que Teseu não deseja.
Todavia, no fundo, bem no fundo mesmo, onde não há como guardar luz alguma, Teseu pode até desconfiar que sabe do seu fim, do seu objetivo, de sua missão. Mas a incerteza ainda é tão grande que ele prefere dizer que não reconhece nenhum estímulo de caráter ideológico e inspirativo como sendo de todo válido e verdadeiro.
Talvez, também, esta miserável história não signifique nada para ninguém ou, por um motivo ou outro, termine sendo o reflexo de muitos estudantes que, como o Teseu, ainda se encontra perdido no Labirinto do TCC-Minotauro.
A história de Teseu e das aventuras fantástico-extraordinárias vividas por esse herói constitui algumas das mais desinteressantes páginas da Mitologia baiana, por ser uma história já muito conhecida nos ares e arredores acadêmicos de todo o mundo. Porém, até o insuperável Hércules disse ser ele um dos maiores exemplos de bravura.
Teseu, porém, não imitou os seus companheiros. Convencido de estar diante de um leão de verdade, um leão vivo, arrancou a clava que carregava consigo e marchou decidido em direção à fera. Não custava arriscar a luta, e a luta maior estava para ser iniciada.
Começou, então, para ele, uma fase de grandes aventuras. A primeira teve por cenário Irecê-Ática, que estava infestada por terríveis bandidos chefiados por homens de grande força e maior crueldade.
A cada ano, no território de Juazeiro-Creta, era certo a chegada de cerca de 50 rapazes e moças, escolhidos mediante um sorteio chamado vestibular, para alimentarem o famélico TCC-Minotauro – furioso animal, metade homem, metade touro – que vivia encerrado no Labirinto.
Esse labirinto, um dos caprichos do rei MINOS-UNEB, era um estranho templo com poucos e curtos corredores, escadas, caminhos e encruzilhadas, onde uma pessoa se perdia quanto mais os sementres iam passando, e de muito diícil encontrar a saída depois de transpor a sua entrada. Era aí que ficava encerrado o terrível TCC-Minotauro, que espumava e bramia, jamais se fartando da carne humana das idéias.
Havia mais de três anos que Teseu vinha se preparando para enfrentar o monstro, oferecendo sacrifícios aos deuses e indo consultar, por vezes, o oráculo de Delfos-Andréa ou de Delfos-Carla. Antes mais encorajado, principalmente nos dois primeiros semestres de treinamento, Teseu fez-se incluir entre os jovens que deveriam partir na próxima remessa de “carne para o TCC-Minotauro”. Ao chegar a Juazeiro-Creta, adquiriu a certeza de que sairia vitorioso, pois a profecia dos oráculos começou a ocorrer como sempre pensara.
E foi Teseu em busca de seu objetivo, ainda receoso e temendo mal maior. Empunhando poucas armas, Teseu apresentou à sua consciência seu esboço de tese. O esboço de tese de Teseu.
Vejamos:
Teseu quis construir uma análise de discurso que fosse capaz de apreender simbolicamente os elementos de caráter factual em alguma obra que utilizasse da poesia como canal maior de comunicação. A priori, numa curta e falha ação seletiva, Teseu tivera escolhido analisar o livro “Barulhos”, do poeta maranhense Ferreira Gullar. Escolha esta que, certamente, não dará cabo em continuar, posto que acha batido o autor, tantas vezes já discutido por ser um dos maiores construtores e difusores da poesia de caráter social no país.
Teseu tinha dado o seguinte título ao ensaio metodológico acerca de sua possível tese: A Análise de Discurso e a Apreensão Simbólica de Elementos de Caráter Factual na obra “Barulhos”, de Ferreira Gullar: Memória de um Tempo.
A análise de discurso fundamentaria a base do estudo, pois através da matéria simbólica, que sofre uma variação de sociedade para sociedade, terminaria formando um arcabouço sólido tanto para a geração de representações sociais quanto para a edificação coletiva da realidade, tendo em vista o recurso das atribuições de significados.
Teseu partiria do pressuposto de que o sujeito, para continuar participante no todo do organismo social, precisaria de uma ferramenta de sustentação, que é justamente a linguagem, far-se-ia de extrema necessidade a assimilação de redes de sinais, possibilitando o transformar do ator social, nesse caso o leitor, mais ativo e problematizador, o que o levaria em direção a uma maior interação com a sociedade. Por isso, seria de importância fundamental o estudo da semiologia, por achá-la necessária ao esclarecimento da construção social da realidade.
Em decorrência disso, o sujeito, em seus variados grupos sociais, através de universos de características simbólicas, agregações de cunho moral, acepções éticas de costume, canais culturais e políticos, acabaria por fazer com que todos esses fatores ordenassem, diante da totalidade do corpo social, a produção de uma realidade acordada com segmentações simbólicas e com a carga de todo o saber conquistado.
Não obstante, a linda Ariadne, filha do poderoso Minos-UNEB, apaixonou-se por Teseu e combinou com ele um meio de encontrar a saída do terrível labirinto. Um meio bastante simples: apenas um novelo de lã.
Ariadne ficaria à entrada do palácio, segurando o novelo que Teseu iria desenrolando a medida que fosse avançando pelo labirinto. Para voltar ao ponto de partida, teria, apenas, que ir seguindo o fio que Ariadne seguraria firmemente. Estava resolvido, pois, um dos mais graves problemas do mitológico ser e, resoluto, Teseu avançou.
Cheio de coragem penetrou nos sombrios corredores do soturno labirinto. A fera, mal pressentiu a chegada do moço. Avançou, furiosa, fazendo tremer todo o palácio com a sua cólera. Calmo e sereno, Teseu esperou a sua arremetida. E então, de um só golpe, decepou-lhe a cabeça.
Vitorioso, Teseu partiu de Juazeiro-Creta, levando em sua companhia a doce e linda Ariadne, regressando a Iraquaratenas, onde o aguardava a notícia da vitória de todos os outros companheiros de batalha.
(...)
“Escavações realizadas na ilha de Juazeiro-Creta, no início do século, revelaram a existência de um grande palácio provido de imensos corredores que lembravam um labirinto. Por outro lado, afirmam os especialistas que existem elementos que permitem dizer que os reis de Juazeiro-Creta usavam, em certas festas e cerimônias religiosas, máscaras representando cabeças de touros.”