Por Germano Xavier
Uma pessoa vive a sua poesia toda vez que acorda até a hora em que vai dormir. Digo isso por acreditar na poesia diária de todos, que é produzida à luz da vivência humana mais distraída. Cada pessoa vive a sua casa, o seu apartamento, o seu travesseiro, a quentura ou a frieza de seus lençóis, a sujeira do seu piso, a morbidez de suas noites, a angústia de certos momentos, a alegria de conquistas, a febre das paixões...
Cada vez que passamos o pente em nossos cabelos, toda vez que vestimos novas roupagens, que nos maquiamos, que saímos de casa para o trabalho, cada vez que conversamos com alguém – e os exemplos são inumeráveis - estamos redigindo nossa própria poesia. E essa poesia, simples e até faceira, é que faz o mundo girar. A maior razão para o constante mutar-girante do mundo é a certeza de que sempre haverá uma espécie de destruição e de linchamento existencial. Destarte, a vida deveria ser menos granulável.
A poesia de que falo é a marca da exuberância desta nossa passagem. Tudo se move e se distorce, e aí entra a participação da poesia que somos capazes de produzir no dia. O acabamento estético que se dá ao mundo demanda de um determinado esforço poético. A melhor arte, se é que podemos classificá-la assim, encontra-se nas apoteóticas passarelas humanas. As condições mais fortes para suportarmos a escuridão da pós-modernidade é a própria existência dessa manifestação tão irregular e dicotômica, mesmo que transparente e invisível.
Se pensarmos um mundo distante de tais expressões, forjaremos um espaço onde se entoa os cantos menos harmoniosos, muito destoantes e ruidosos. A esperança que se tem no futuro confunde-se com a improbabilidade e inconstâncias das certezas. A melhor administração que se pode fazer projeta uma esfera de ordem de manutenção das capacidades do indivíduo. A civilização e a universal instância do ser gera, a cada passo, uma dependência extraordinária condizente à imprevisibilidade dos acontecimentos e das ações. Por tudo isso é que nos importa, e muito, poetar – e bem – por todos os dias.
2 comentários:
Crédito da imagem:
"Going the distance
by *NeonLynxie"
Deviantart
Caracas,amo a forma como escreves,tua dialética me encanta e me faz querer ler sempre mais.
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