quinta-feira, 10 de março de 2011

Portaria 304, vende-se carne humana



Por Germano Xavier

"Aberto 24 horas por dia, inclusive nos fins de semana e feriados", dizia o letreiro já castigado pelas intempéries. Eis ali, sediado na rua Joaquim Nabuco, um modernoso e até revolucionário estabelecimento comercial:

AÇOUGUE HUMANO

Logo que foi inaugurado, as pessoas estranharam um pouco, mas depois de algum tempo toda a cidade se familiarizou com a novidade citadina. Um dia resolvi conhecer o dito frigorífico, que estampava em sua fachada a seguinte mensagem:

"CARNE HUMANA DE PRIMEIRA E DE SEGUNDA. PREÇOS COMPATÍVEIS COM O MERCADO BOVINO. FAZEMOS QUALQUER TIPO DE NEGÓCIO. CARNE FRESCA E HIGIENIZADA" .

Fiquei um tanto que receoso em minha primeira impressão. Todavia, resolvi levar um pedaço para experimentar em casa. Como não tinha muito dinheiro na hora, levei trezentos gramas da parte inferior da panturrilha de um afrodescendente. Era o que dava para comprar. Lembro que foi realmente uma ninharia e imaginei ter feito um ótimo investimento. Mandei a balconista embalar, e serelepemente retornei a minha casa. Contei tudo para minha mãe e ela logo interessou-se em preparar a fatia para a fritura, que parecia muito suculenta e apetitosa. Depois, sentei-me à mesa, ansioso pelo desconhecido sabor daquela protéica guloseima.

Era chegado o momento da degustação. Peguei do talher e do prato. Quis provar sem nenhum tipo de acompanhamento - afinal, aquela tenra carne negra era o prato principal. Cortei um bom tostão e levei-o à boca. Mastiguei compassadamente e logo fui surpreendido por todo aquele desgosto. Minha língua não conseguia discernir a originalidade do sabor.

2 comentários:

Germano Viana Xavier disse...

Crédito da imagem:

"habitaciones de carne humana
by ~eimsamkeit"
Deviantart

Alicia disse...

lembrou-me filme do Tim Burton.