quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Visão 2011

Por Germano Xavier 


"no exílio onde padeço angústia os muros invadem minha memória
atirada no Abismo e meus olhos meus manuscritos meus amores
pulam no Caos"

(Roberto Piva, in Paranóia)


as mentes não sonhavam mais a imaginação mesclada em óleo comestível
untando mais que uma mão no coração oco da cidade
Cidade do Nada
a noite parada como uma água morta infestada de larvas de mosquitos
que não leram Gregor Samsa
mosquitos contaminados como zumbis de filmes norte-americanos
que não leram o processo de ler que nos desfalca humanidades quando não
facção sem feitos
homens e mulheres insetos sem asa
tanajuras sem juras e injúrias jurando
paralelepípedos amorfos que estancavam os meninos e as meninas que desciam
rápidos para a morte das infâncias sem mais as ladeiras de sem fim
de uma loucura com lei

interior de um mundo imundo sem mundo
mudo e muda articulação
com artrose e artrite sem possibilidade de caminho nem ninho
minha casa na rua mendigando um muro
de se esconder
eu ensinando o quê ninguém nem nada nos ensina
viver é quem
não se pode não se deve melhor mudar melhorar ninguém
mudar alguém
mudar mu-dar
mudar de ares ir ver mares morrer netunianamente tal Quincas Berro D’água
virar alga porque nesse mar de terra preta não vai nascer nem a flor com náusea
que solidão é esta presa em mim que não me sabe fuga?

tudo errado estou fazendo poesia sem luxo nem lixo
meu lixo eu quero reverter sempre é hora
mas os pais serpentes me envenenam e os pais dos outros me jiboiam
eu quero ver
esta cegueira alucinada sem droga nem canção
meu violão que ainda não comprei mina
minha música amputada
coro velado
couro minha pele sem casca defendendo-me dos ataques dos Homens sem Kafka
pede uma coca-cola meu pai vamos nos embriagar de açúcar sem teatro
bad sugar

as meninas ruborizadas em base francesa falsa e ruge sem pedigree
trocavam seus calçados nas festas de 9 anos
pais sorridentes vendo o cu das filhas serem arregaçados na pré-escola
alfabetização
não entendo os moldes de beleza dos Homens sem Kafka
ninguém se permite a lavoura da alma
plantações sementes de plástico pingos quentes derretidos
mel de vela o inferno
imaginavam que estes seres preparassem o fogo do Quinto
na voz amargosa com fé na vida comum
o bar está aceso e os Homens sem Kafka são imperadores momentâneos das madrugadas
engolem tragam e mexem com a bunda imunda da puta criança sem peito com leite

uma ordem
“arte culinária ensinada nos apopléticos vagões da seriedade por
quinze mil perdidas almas sem rosto destrinçando barrigas
adolescentes numa apoteose de intestinos”

Piva com licença eu preciso morrer
meteram pau-marco na fossa e viram e está ainda na metade da merda
vai demorar meio século para haver o entupimento das artérias
o coração trabalhará em marcha íngreme por sobre o frio dos meses de junho
e nenhum engenhoso fidalgo sairá das tocas e dos moinhos
o medo é um pavilhão sem nome no meio de minha rua
meus amigos hoje são bandidos sem sucesso
tocam negócios de quinta serventia
casaram com doces meninas que não leram Gregor Samsa
Ah que nóia que jóia tem o ouro sem quilate?

mas eu sou o rude
minha família sofre minhas causas desordenadas
meu irmão comprou mármores para a pia
vendo tudo que não tenho para uma noite com Ela longe
lua estrela cigarro um passeio na noite que tropeçamos
depois dizem que o amor é uma falsa artimanha
e não

jamais sibilarão os vôos que faço em minha mente
porque adoto a asa como parte de um sonho perto
ancorado pé ante pé em bye bye, contra qualquer barulho

Um comentário:

Germano Viana Xavier disse...

Crédito da imagem:

"Ghosts of the City by *Zaraman"
Deviantart