sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Rayuela num divertimento


Por Germano Xavier

para Luci Collin,
voz que diz


( gramática histórica para se chegar ao céu em poucos passos)

faço permutas e perguntas e “Por que acredito em minha cidade natal?” é uma delas.
no povo, a identidade, a formação.
toda essa escroqueria? tem certeza?
conheci um poeta que lutou
corpo e vida.
o jogo da Amarelinha com, assim mesmo, letras maiúsculas,
o jogo. Rayuela.
a moral universal de todos os homens
tragicômicos,
a soltura,
os males que se aqueixam,
exíguos são.
digo um “quem”?,
decimônico?

O soneto existencial que não quis escrever hoje tão de tão no chão que estou e me sinto. Meus subterfúgios não me auxiliam. Tomo um banho depois do leite. Eu estou branco.

Cheguei. De frente do fronteiro, atiro o caco quebrado da telha. Crianças eternizadas jogam comigo. Vai caindo a tarde.

Casa 1 - Penso no porquê de tudo isso. O bloco com a dedicatória da minha mãe que está longe demais pra ter algum sentido. Hoje fez um dia incrivelmente igual ao de ontem. Isso está me matando. A natureza. A canção. O canto imanente. As hostilidades iniciais das manhãs grávidas, selvagens. Uma mulher! Exclamei mesmo. Mas só abundosa, que é pra servir. Digamos, o feminino à mancheias. Quero a tartamudez depois do excesso. O balbucio. O Cio. O céu está distante daqui, mas não sei se é já ilusão o meu ver.

Casa 2 - A separação e a união. Há pronomes em mim, tanto singulares como plurais. Mais plurais. Hoje estou plural. Cismado, imbuído, endogâmico, tautológico, eu penso.

Casa 3 – Pode ser o fim, já adianto. Não continue. Piso com um só pé. Não sou Saci pra acreditar em tudo. Você leu sobronegrinho?

Casa 4 – Interpelar o leitmotiv. A Ana morreu de fé. Cartesianamente. Minada eivada frisada espúrio. Meu sentimento é de falência. Mas tudo passa. Ontem passou. Hoje também logo já se vai. Pensar me afunda. O pensamento mais afeito a elucidações. Suscetível. Castigo indizível. Miscelânea? Que reveses são alterados por mim mesmo ao sair de casa sem beijar minha porta? Sou audacioso demais, você acha? Mas você tem sempre esses achaques. Por que não se cala de uma vez?

a noite foi escura. insônia. livros e faltas e faltas e faltas. Basquiat também se afundou na lama. aí penso que sou feliz e vou ao leite outra vez. essa escroqueria toda, que inferno!

o maior impasse é se autodenominar crítico de tudo. deu na veneta o mundo é mesmo um moinho e as pessoas, ah, uma interjeição de dizer enfatizando, ahhhhhh as pessoas, as pessoas não sabem que “deus não joga dados”. ele, se assim o posso chamar, com minúsculas mesmo, ele poria extenuantes percursos na mais cândida travessia. aquilo a que costumo chamar de arraigamento. se não desvelasse o tempo, deus não seria nadica de nada. estaria atulhado e com remorso de tantas e tantas cotidianas redenções.

Casa 5 – mais longeva que a quatro, o equilíbrio treme. espocam tiros de dentro de mim. sou outros. você só pensa que me conhece. só há um alguém que me conhece assim, coitado. você é de usar mata-borrão? folhas de maculatura?

intervenientes quaisquer?
retortas?
eito?
me diz qual é a tua hercúlea vontade.
no ano de 1959 você foi empalado na Índia? não me diga...

embolia
aporias
guinadas
irremissivelmente niilista você é um crítico safado
um idiota que janta preciosismos

Casa 6 – ucasse político. deslanchei desperdiçando ingentes recursos.

Casa 7 – número ímpar não prefiro mais que o par. Perfil distintivo: Matizes rosas, alaranjadas, avermelhadas, pomo-de-adão, roxos, socos, amarelos, pretos, negros, moçambicanos, o português, a dona Geni, o conjunto gregário. vai, abole!

Casa 8 – entro trôpego e quase déspota.

Camarilhas.
Eu acho o teu anacronismo uma beleza de creuza.

mas creuza é uma tonta de feia. ela só sabe ser reduto, entende? ela se vende. é quitanda. o mundo é mesmo um moinho e me avisaram tarde demais. já beiro o céu azul. vão me dar um lugar no céu, meu pai!

Eu não mereço isso!
(Quanto castigo, esta lembrança emblemática e infantil).

Casa 9 – quarteladas e caudilhos. não escrevo literatura pujante. meu sonho é o precioso impreciso. meu sonho é o precioso impreciso. meu sonho é o precioso impreciso. meu sonho é o precioso impreciso. meu sonho é o precioso impreciso. meu sonho é o precioso impreciso. meu sonho é o precioso impreciso. meu sonho é o precioso impreciso. meu sonho é o precioso impreciso. meu sonho é o precioso impreciso. meu sonho é o precioso impreciso. meu sonho é o precioso impreciso. meu sonho é o precioso impreciso. meu sonho é o precioso impreciso. meu sonho é o precioso impreciso. meu sonho é o precioso impreciso.

Casa 10 – espero o gênio sair da lâmpada. o gênio não sai. posso fazer um último pedido, deus?

DEUS DIZ SIM

olho todo o percurso e o mundo é mesmo um moinho uma divina comédia humana de desumanidades

então que me mostre o inferno!
eu mato críticos, pois não

2 comentários:

Germano Viana Xavier disse...

Crédito da imagem;

"Black.Promise by *eintoern"
DEviantart

luiz gustavo disse...

na folhagem do céu



“ un lenguaje que corte el resuello “ –

octávi(d)o paz em seu “ blanco “
- transblanco de haroldo -
conduz à meditação:

uma lâmina desventra
- úmida de aço -
a crença

de que relâmpagos

d
e
s
c
e
m

seguidos de tambores -

o trovão
murmúrio de fonte
desarranja os céus ?!

por ali um odisseu
suscitaria o silêncio:

“ a invenção do corpo “

o olhar invertebrado
sob um céu
cercado de arcanos

uma chuva de crisântemos
por todos os lados
reticulam a pálpebra
de um fundo amarelo
de topázio pálido

a vida é perversa -

indecifrável
a vida
in(di)visível

uma linguagem
que corte o fôlego

- o orvalho do desfolhado olho -

secá-las - as folhas -
e pisá-las sob os pés
e ouvir o ruído de uma fogueira

( arder as palavras solitárias )

" la hora es transparente ":

a vida é invisível
desnuda constelação
de temporais de vidro...