domingo, 14 de abril de 2013

Literatura Infantil e Pedagogia: caos?


Por Germano Xavier

ZILBERMAN, Regina & MAGALHÃES, Lígia Cadermatori. Literatura infantil: autoritarismo e emancipação, 2 ed. São Paulo: Ática, 1984.


Todo e qualquer investimento do conhecimento humano no campo do trabalho/pesquisa pedagógico-linguístico necessita, antes de qualquer outra ação, de uma atitude bem posicionada com relação aos prováveis objetivos ou metas a que se destina a investigação. No que tange ao percurso tomado pela literatura classificada como sendo de caráter infantil, o cenário de observação não destoa de tudo isso. É justamente sobre esses e outros aspectos que o artigo escrito por Zilberman e Magalhães irá se enveredar.

A mera qualificação do tipo literário, neste caso o de "literatura infantil”, dá margens a uma observação muito mais abrangente acerca do modo como todos os conjuntos de valores socioculturais são geridos em nossa sociedade. Percebe-se, claramente, a dificuldade com que a não separação e organização conceitual de temáticas como essa podem interferir de modo negativo no andamento dos ensejos humanos, podendo causar assim um atraso para com o desenvolvimento das inúmeras faculdades do ser.

O processo de elaboração desta totalidade pedagógica, baseada na transmissão de uma linguagem harmônica ao indivíduo, principalmente ao infante, dotando-o de capacidades padrões para a efetiva reflexão e movimentação natural/plural dentro do meio ao qual a criança está inserida é, talvez, a mola propulsora dos principais embates teórico-práticos desse ramo da atividade científica. Para a pedagogia, o principal objetivo sempre foi o de possibilitar ao indivíduo uma formação humana que o faça ferramenta-modelo construtora de outros espaços de ação, ou seja, o de fomentar um indivíduo com habilidades para agir, sempre, e sob quaisquer circunstâncias.

Porém, o pragmatismo dessa atitude pedagógica fundamentada na formação de um sujeito basicamente consciente e com iguais instrumentos de ação, distanciado de sua parcela inconsciente e quase que mecanicamente instruído, tende a ser por demais questionável, à medida que priva o ser-criança de percorrer outros caminhos que não os “normais”, impedindo-o sobremaneira de descobrir-se e desbravar-se a si mesmo. A tomada desta posição por parte do ser é bastante dolorosa, já que por agir assim, indo de encontro ao natural espectro pedagógico, o indivíduo passa a ser, de modo instantâneo, considerado “marginal” e, por conseguinite, descaracterizado de suas funções naturais.

E é a língua, como fundadora de linguagens e enunciações possíveis, o objeto que faz atualmente a pedagogia preocupar-se tanto com o esticamento das distâncias existentes entre o fazer teórico de suas formulações e o fazer voltado à prática. Tudo isso no intuito de averiguar novas rotas para a melhor utilização da educação em todos os instantes da vida.

O trato com que a pedagogia tradicional destina ao objeto lingüístico faz com que o universo do sentido, presente em todo discurso e enunciado, direcionado ou não ao ser-criança, passe a ser aferido e trabalhado sem a magia das insinuações várias do material textual, olhado e tratado de modo seco, sem que se preste a devida atenção às nuances imaginatório-reflexivas do mesmo. A conseqüência mais evidente deste preparo irregular é a formação de um indivíduo metódico ao extremo, voltado apenas aos interesses diretos do mundo, com pouca relação com seus questionamentos ulteriores, fatores esses de extrema importância para o processo reflexivo-crítico do ser humano.

E sobre todo esse viés problemático, brota do fundo de um escuro túnel, a luz da literatura. Este “ente” que se utiliza do outro para fazer-se completo urge um som de possibilidades. Seja em que gênero ou tipologia estiver, em contos de fadas, paródias, provérbios, fábulas, narrativas curtas ou mais alongadas, o sujeito pedagógico, sabendo-se detentor desta arma formadora de uma humanidade vistosa, sem perdas exageradas nem ganhos descartáveis, pode iniciar a produção de um ser-ator-agente envolvido no espaço mais digno dentre todos: o da liberdade humana.

Um comentário:

Yvana disse...

Belissimo texto companheiro Germano Xavier.
Parafraseando Antunes (2004), uma pré-escola de verdade educa, ensina, transforma e modifica o ser humano e as primeiras experiências são as que marcam mais profundamente e, quando positivas, tendem a reforçar ao longo da vida as atitudes de autoconfiança, de cooperação, solidariedade e responsabilidade proporcionando melhor desenvolvimento para as aprendizagens posteriores. Ora, se a educadora infantil exerce influência sobre a personalidade de seus alunos, temos que considerar que essa influência pode culminar em resultados positivos ou negativos, dependendo da atuação do educador. Se, de um lado, com uma postura democrática e libertadora, ela pode contribuir significativamente para a formação de um cidadão consciente, crítico, independente e competente em suas ações, por outro, com uma postura autoritária e repressiva, que não desperta a auto-estima do educando, a educadora poderá deixar seqüelas para o resto da vida de uma criança que irão interferir em sua vida adulta. Não ignoramos o fato de que a criança continuará vivenciando diversas experiências no decorrer de sua vida que contribuirão para sua formação, já que somos seres em constantes transformações. Não podemos negar que a infância é uma fase marcante na vida de todos e que uma atitude de discriminação, humilhação, desprezo, etc. por parte do professor, em relação a uma criança, poderá deixar traumas que ela carregará por toda a vida. Entretanto, conhecimentos prévios quanto à educação infantil na nossa região deixam antever que a prática, pelo menos de alguns professores, não condiz com o que prevê a Resolução, e os motivos podem ser a formação inadequada das profissionais, além da falta de condições efetivas de trabalho, seja em função da má estrutura física dessas instituições, seja pela precariedade de materiais pedagógicos apropriados para essa faixa etária.
Para que possamos minimizar o caos em que se encontra a educação infantil é necessário:
a) para que a professora exerça o magistério na educação infantil deverá ter uma formação específica para esse nível de ensino;
b) garantir formação de qualidade;
c) exigir dos órgãos competentes, investimentosnas condições de trabalho.