segunda-feira, 22 de abril de 2013

Luz incendiária


 Por Germano Xavier

Acordei angustiado. E não era para menos. Noite passada tive um sonho esquisito. Algo aflitivo. Minha alcova úmida estava completamente. Mas, findado o susto, a cósmica e inebriante face da realidade. Ultimamente, venho forçando demasiado a minha capacidade de imaginar. Minha nova casa é ligeiramente confortável. Uma construção antiga, com pouca arquitetura e sem desperdícios - o mesmo não se aplica à descrição de sua fachada, que, apesar de ter sofrido com constantes retoques, ainda conserva traços que marcaram um costume arquitetônico bastante apreciável em decênios passados. Contíguo, ao flanco direito, há um açougue cujas peças comestíveis ficam expostas ao sol durante dois terços do dia. Nada muito higiênico e exemplar, porém, talvez, compatível com o grau de asseio desta humanidade pós-moderna. No canto esquerdo, um elevado de dois andares que parece estar desabitado - acredito que essa é uma conclusão, digamos, indevida. Diante dessa iniciada vivência, o melhor que posso fazer é, por ora, aguardar. Estou em meu quarto. E agora escuto vozes estranhas. Sinto calafrios. O chão parece estar úmido. O chão está úmido, coberto por uma espessa camada de água. Receio por levantar. Existem ratos. Eles sobem as paredes. Atrás da porta um com o rabo enorme e horrendo tenta identificar algum cheiro. Já outro, ali, sobre a estante repleta de livros. São muitos e estão por toda parte. Faço vigília ao redor da cama. Tento afastá-los a qualquer custo, mas só agora percebo que não tenho armas. Eu grito, "saiam!". Estão cada vez mais próximos e parecem não ouvir meu berros, altos e medrosos. Por dentro, a última coragem que me restou escorre como um suor caído - na verdade um compósito de vontade e fraqueza. Não entendo o que está acontecendo comigo. O que vivo, realidade ou ilusão?

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