Por Germano Xavier
XVIII
Quanto tempo, meu bom homem! Nossa última conversa data do dia dois do finado ano, e este que já vai, assim sem freio, caminha já nos entornos do ano que em pouquinho acaba também. Como vai a vida? Pensei seriamente em desistir destes escritos, não sei se eles valem o tempo que perco para pensá-los e escrevê-los. Mas, depois de tudo, estou eu aqui novamente. É um vício, não sei descontinuar o que já me é feito carne, pele, coisa inteira de mim. Continuo a te chatear? É apenas um retorno, não se preocupe. Retornos foram feitos para serem triunfais, mas eu não passo de um estouvado, pseudestésico. E de um proxeneta. É assim que você deve pensar. Ou não? Ah, então esquece... Mas, a tua vida, como vai? Não me diga que estás a levar ela, assim sem jeito, sem gana, sem valor nenhum. Não me faça entrar em colapso de novo! Vou te contar um segredo. Todo este tempo que estive longe, passei-o numa clínica de reabilitação para drogados. Um nosocômio, é isto. Não gostei de lá. As pessoas parecem tão normais quando entram no recinto, mas depois de uma semana começam a agir como bestas. Não há loucos neste mundo. O que existe são pessoas despreparadas para conviver com as suas necessidades especiais, com suas faltas. Assim eu penso, e por isso fugi daquele lugar. Aqui me sinto melhor, mas ainda não posso sair para andar nas ruas. É muito perigoso. Se me descobrem, estou perdido. Mas é só deixar a poeira baixar que eu poderei caminhar estas esquinas. Mas, e então, como vai a vida? Não vai me responder? O que há com você, meu amigo? Alguém cortou a tua língua? Por que não fala alguma coisa? Vais ficar aí calado, esperando pela mamãe? Não, não me faça perder a cabeça novamente! Eu sei que não devo ficar atiçando tua dignidade de homem e tua honra, mas é o que há neste momento. Não há nada além. Eu só estou provocando. A vida não passa de uma cotidiana provocação, meu bom. A vida é somente isso! Não?
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