O Muco

Por Germano Xavier 

ou um ilhéu coroado em febre onde cabem todas as maravilhas

Parte II

promessas não são dívidas
promessas são coisas desgraçadas
(a ilusão também)
a primeira sempre pega
de um lado a dúvida em amar ou ser amado
(o que é mesmo tudo isso?)

tua bicicleta rosa dobrando o coreto
eu pensava em tuas coxas rosáceas
eu pensava que a carne era o real sentido do amor
te levaria para o abatedouro
comeria tuas porções
na verdade você não tinha nada de eterno
muito menos eu

eu
(fingia romantismo de Mal do Século)
por um monte de dias pensei ser você
que iria me tirar do ostracismo aplicado
no ocaso de mim mesmo
pensei ser você

pensei ser você que iria criar redoma
que iria andar caminho errado
que iria fazer comigo o que nem
pensei

nas missas eu olhava para as tuas nádegas
as duas polpas em genuflexão
(confesso que a tua imagem me lembrava a Simone do Bataille)
mas nos dávamos as mãos e ouvíamos estrelas
você tinha hora e sangue de barata
eu tinha um demônio dentro de mim

um dia viajei para te ver
26 horas num ônibus azul cortando cerrados
parei num posto de combustível deserto
alta madrugada
um cara com o mesmo nome meu que esperava um amigo
me deixou no centro
você e suas nádegas outras vez
precisei de apenas 26 horas para invadir você
iconoclastia
era dia religioso
gel vestidinho bala na boca uma boca de sexo

juramos o que jamais poderíamos
nada sabíamos sobre o Tempo
nem sei ainda
o que sei é que pensei ser você

no fim bebi por você
tombei na praça sem coreto
pátio imundo e minha boca com gosto de outras bocas
você precisa saber
que até hoje não sei como cheguei em casa naquele dia

acordei feliz
soube aquele dia que eu era mágico