quarta-feira, 8 de agosto de 2012

O que vi na FLIP 2012


 Por Germano Xavier

Há exatos 30 dias, estava eu em terras cariocas, mais precisamente pisando em solos históricos da pacata e belíssima Paraty (ou Parati, como preferir). Havia uma curiosidade em mim muito grande por conhecer não só a cidade, mas principalmente aquela que, senão for a maior "feira literária" do país, é decerto a mais pomposa e sofisticada de todas. Espera aí, eu disse "pomposa"? Sim, eu disse, justamente. Mas... "pompa" me parece um termo não muito combinativo para com o termo "feira"- quem concorda, levante o dedo! -, não? O certo é que a expectativa que levei comigo não foi de todo correspondida, digo hoje, assim, sem o calor das vistas na hora de minha ancoragem por lá. Estar lá, imiscuído a tudo aquilo feito e arregimentado em prol da difusão da palavra, é indubitavelmente viver uma experiência muito particular. Claro, não faltam organização e cuidado com os detalhes, mas falta mais literatura e falta mais "feira" na Feira Literária Internacional de Paraty. Quem sou eu para estar criticando um evento com já 10 anos de existência e que é referência de encontro sobre literatura no Brasil? Ninguém, certamente, mas quem foi e viu percebeu logo que a brincadeira era mais pra lá do que pra cá. Traduzindo, tudo para gente endinheirada e uma pequena elite leitora (ou que se diz leitora, sabe-se lá...) ver e usufruir. Cidade afastada, circuito de debates fechado para pagantes, hospedagem muito cara, alimentação assim, transporte assado, etc e tal e tudo aquilo mais que todo mundo já deve estar pensando ou sabe de cor. O melhor da FLIP está fora das tendas e fora dos holofotes com ares elitistas: o melhor da FLIP é o repentista que canta um mote agalopado enquanto um grupo de punks passa em sua frente, o poeta sertanejo em cima de um tamborete tentando chamar a atenção do jovem que segura seu iphone de última geração, é o bando de poetas maloqueiros poetando nos cubículos mais improváveis, o circo aberto no meio da praça esperando cada um rir de si mesmo e da vida, os livros pendurados nas árvores, como que frutos adocicados aos olhos do leitor de todas as idades e classes sociais, os artistas de rua cantarolando suas artes e expressividades pelas esquinas coloridas de Paraty, sim... porque feira é isso, ou pelo menos até onde sei é isso, gente passando de lá para cá e entrando em contato com as cores das coisas e seus mais diversos sentidos. Existem duas FLIPs na FLIP, uma para poucos e uma para muitos - e mesmo assim para um muito muito pouco também. Pode parecer exagero meu, mas é tudo deveras perceptível. Talvez seja interessante rever este esquema já sedimentado, porque se tem uma coisa de que a boa literatura se gaba até hoje é a de fazer pouca sala para qualquer formato de segregação. E Drummond, homenageado deste ano, e que não tem nada a ver com isso, sabe bem do que estou dizendo. Literatura é para se gerar sentimento de mundo e o mundo, tal qual a literatura, o mundo é para todos.

P.S. Um dia após escrever este pequeno texto, soube que não é FEIRA, e sim FESTA LITERÁRIA INTERNACIONAL DE PARATY. Um verdadeiro lapso. Se Feira ou Festa, tanto faz, tudo aí está valendo.

Clique nas imagens para ampliar:








5 comentários:

Germano Viana Xavier disse...

Fotografias: Germano Xavier

Vilma Pires disse...

Como disse Drummond, a leitura é uma fonte de prazer,mas ainda é um prazer de poucos. A maioria ainda, talvez por falta de incentivo, não atentaram para a delícia que é ler. Prazer, prazer, inesgotável!!

Daniela Delias disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Fico com você caro Germano: no toque do repentista, nos livros pendurados nas árvores e no meio do povo que se poetiza nas ruas.

Belo evento, belas fotografias.

Grande beijo.

senhor efavirenz disse...

Porque vc não usa parágrafos para compor seu texto? Quando é a próxima Flip?