sexta-feira, 10 de agosto de 2012

A massa uniformizada e a comunicação do mal


 Por Germano Xavier

George Orwell, escritor britânico que ficou conhecido pela publicação de "A Revolução dos Bichos" e, mormente, "1984", logo após a hecatombe proporcionada pela Segunda Guerra Mundial, talvez fosse uma espécie de vidente, ou qualquer coisa que a isso se assemelhe, posto que ele terminou por revelar inúmeras facetas de uma ordem mundial que começaria a fincar fortes tendências e influências em todos os territórios, em todas as sociedades e em todas as classes. Tudo relacionado à, pelo menos, três expressões: Estado X Massa X Domínio.

Em "1984", é retratada uma sociedade onde o Estado faz-se operante e onipresente, capaz de habilitar e de transformar a história humana, de reprimir, prender e sufocar o povo, assim como de se rebelar contra a própria ordem imaginada e construir um conflito infindável, objetivando a manutenção de um arcabouço estrutural e ideológico inabalável. Tomando como exemplo as referências de Orwell, a questão que norteia a estas palavras é a seguinte: Até onde as forças ideológicas acabam por influenciar a maneira do homem de se interagir, aprender, relacionar-se com seus semelhantes e de produzir ou alterar modos reflexivos de enxergar a lógica do mundo?

É impossível tratar de tais assuntos, sem englobar a esses parâmetros, os conceitos de Indústria Cultural e Cultura de Massa, pontos alicerçantes para a concreta fundamentação de tais estudos. Num âmbito mais local, o exemplo do que está acontecendo com o Brasil não fica a dever absolutamente em nada ao restante do mundo. É o que o filósofo paulista Octavio Ianni chama de "rendição ao globalismo" ou, ainda, "desterritorialização" de espaços e esferas nunca antes invadidas e perfuradas pelo mal da unicidade.

Para Milton Santos, renomado estudioso e geógrafo baiano, "O Brasil é um dos países onde a Indústria Cultural deitou raízes mais fundas e, por isso mesmo, vem produzindo estragos de monta; tudo se tornou objeto de manipulação bem azeitada, embora nem sempre bem-sucedida". O conceito de identidade - ou de identidades - encontra-se em alígero processo de extinção. Procura-se, por todos os quatro cantos do globo terrestre, a figura indígena, a imagem do matuto, do negro sem simbiose, o branco "puro", a certidão de originalidade de um rapazote francês perante um adolescente norte-americano. Procura-se e, raríssimas as exceções, não se encontra.

A Indústria Cultural, os meios de propagação e difusão midiática, as forças manipuladoras de um Estado que abre as pernas para a unicidade ideológica, que vende suas tradições e, às vezes, seu próprio sangue, corroboram para uma "continuidade do mesmo" e para uma "proliferação do sem-valor". A arte morre, o indivíduo falece, o diverso se esfacela, o uno se dilui. Perece a vida, enterra-se a criatura. Desponta o padrão, o modelo total, a imagem vendida em instantaneidades e pressões, a linguagem com lepra, quase sempre debilitada e contagiosa. A massa derrete na boca, facilmente, como uma mini-bala de açúcar.

A televisão, o rádio, os periódicos e, principalmente, a Internet, capazes de envolver em um mesmo suporte a tríade Som-Imagem-Movimento, revolucionaram o modo de se viver, de se relacionar e, também, de receber das próprias ferramentas instrucionais as motivações e impulsos que funcionam em prol de um conceito que ultrapassa toda a nossa existência: a aprendizagem. Fatores, hoje, que formam civilizações em série, movidas pelo combustível da negligência do próprio eu, quase sempre produzindo obras humanas, e não seres humanos, como numa linha de montagem.

Os relatos comprovam: os hábitos mudaram, o homem mudou, o mundo mudou. E o motor de tudo isso, quem explica? Os ventos que sopram nesses arraiais, de onde surgem? As fendas e os abalos dos terremotos, onde se sucedem? Há explicações para o fim do homem enquanto homem? As respostas, talvez, encontram-se bem diante de nossos tão maculados olhos, na sala de estar, próximas ao sofá e ao toque de um macio botão de liga-desliga, ou melhor, de "On-Off". E, diante de tudo, continuamos. O "Menu" é o nosso cardápio. À degustação, avante...

3 comentários:

Germano Viana Xavier disse...

Crédito da imagem:

"Mummy Version 1.3
by =mofocrow"
DEviantart

Izabel Lisboa disse...

...e Sísifo carrega impassível sobre os ombros seu Home theater...ops...sua ROCHA!

Tatiani Távora disse...

obras de uma linha de montagem que se preocupa, cada dia mais, com o resultado perfeito aos olhos cansados do mesmo.