Por Germano Xavier
George Orwell, escritor britânico que ficou conhecido pela publicação de "A Revolução dos Bichos" e, mormente, "1984", logo após a hecatombe proporcionada pela Segunda Guerra Mundial, talvez fosse uma espécie de vidente, ou qualquer coisa que a isso se assemelhe, posto que ele terminou por revelar inúmeras facetas de uma ordem mundial que começaria a fincar fortes tendências e influências em todos os territórios, em todas as sociedades e em todas as classes. Tudo relacionado à, pelo menos, três expressões: Estado X Massa X Domínio.
Em "1984", é retratada uma sociedade onde o Estado faz-se operante e onipresente, capaz de habilitar e de transformar a história humana, de reprimir, prender e sufocar o povo, assim como de se rebelar contra a própria ordem imaginada e construir um conflito infindável, objetivando a manutenção de um arcabouço estrutural e ideológico inabalável. Tomando como exemplo as referências de Orwell, a questão que norteia a estas palavras é a seguinte: Até onde as forças ideológicas acabam por influenciar a maneira do homem de se interagir, aprender, relacionar-se com seus semelhantes e de produzir ou alterar modos reflexivos de enxergar a lógica do mundo?
É impossível tratar de tais assuntos, sem englobar a esses parâmetros, os conceitos de Indústria Cultural e Cultura de Massa, pontos alicerçantes para a concreta fundamentação de tais estudos. Num âmbito mais local, o exemplo do que está acontecendo com o Brasil não fica a dever absolutamente em nada ao restante do mundo. É o que o filósofo paulista Octavio Ianni chama de "rendição ao globalismo" ou, ainda, "desterritorialização" de espaços e esferas nunca antes invadidas e perfuradas pelo mal da unicidade.
Para Milton Santos, renomado estudioso e geógrafo baiano, "O Brasil é um dos países onde a Indústria Cultural deitou raízes mais fundas e, por isso mesmo, vem produzindo estragos de monta; tudo se tornou objeto de manipulação bem azeitada, embora nem sempre bem-sucedida". O conceito de identidade - ou de identidades - encontra-se em alígero processo de extinção. Procura-se, por todos os quatro cantos do globo terrestre, a figura indígena, a imagem do matuto, do negro sem simbiose, o branco "puro", a certidão de originalidade de um rapazote francês perante um adolescente norte-americano. Procura-se e, raríssimas as exceções, não se encontra.
A Indústria Cultural, os meios de propagação e difusão midiática, as forças manipuladoras de um Estado que abre as pernas para a unicidade ideológica, que vende suas tradições e, às vezes, seu próprio sangue, corroboram para uma "continuidade do mesmo" e para uma "proliferação do sem-valor". A arte morre, o indivíduo falece, o diverso se esfacela, o uno se dilui. Perece a vida, enterra-se a criatura. Desponta o padrão, o modelo total, a imagem vendida em instantaneidades e pressões, a linguagem com lepra, quase sempre debilitada e contagiosa. A massa derrete na boca, facilmente, como uma mini-bala de açúcar.
A televisão, o rádio, os periódicos e, principalmente, a Internet, capazes de envolver em um mesmo suporte a tríade Som-Imagem-Movimento, revolucionaram o modo de se viver, de se relacionar e, também, de receber das próprias ferramentas instrucionais as motivações e impulsos que funcionam em prol de um conceito que ultrapassa toda a nossa existência: a aprendizagem. Fatores, hoje, que formam civilizações em série, movidas pelo combustível da negligência do próprio eu, quase sempre produzindo obras humanas, e não seres humanos, como numa linha de montagem.
Os relatos comprovam: os hábitos mudaram, o homem mudou, o mundo mudou. E o motor de tudo isso, quem explica? Os ventos que sopram nesses arraiais, de onde surgem? As fendas e os abalos dos terremotos, onde se sucedem? Há explicações para o fim do homem enquanto homem? As respostas, talvez, encontram-se bem diante de nossos tão maculados olhos, na sala de estar, próximas ao sofá e ao toque de um macio botão de liga-desliga, ou melhor, de "On-Off". E, diante de tudo, continuamos. O "Menu" é o nosso cardápio. À degustação, avante...
3 comentários:
Crédito da imagem:
"Mummy Version 1.3
by =mofocrow"
DEviantart
...e Sísifo carrega impassível sobre os ombros seu Home theater...ops...sua ROCHA!
obras de uma linha de montagem que se preocupa, cada dia mais, com o resultado perfeito aos olhos cansados do mesmo.
Postar um comentário