Por Germano Xavier
“Eu escrevo porque não sou feliz. Basicamente, escrevo porque é uma maneira de lutar contra a infelicidade”. É com esta resposta, dada pelo escritor peruano Mario Vargas Llosa em meados da década de 80 do século passado, que o jornalista Ricardo A. Setti finaliza uma grande entrevista (a maior até então concedida por Llosa) com um dos maiores ícones da literatura contemporânea da América Latina e mundial. A entrevista, que depois tomou a forma de livro, foi realizada durante três dias e adentra em inúmeras facetas de um Vargas Llosa no auge da carreira e, à época, esbanjando seus cinqüenta anos de vida.
O livro é, por um lado, uma aula de jornalismo, um belo exemplar de como se fazer uma entrevista, de como se portar diante de um nome tão consagrado e ao mesmo tempo retirar-lhe valiosas respostas, incitar o desabrochar das emoções, entre tantos outros aspectos, tudo para que o conjunto das perguntas e respostas possa somar-se, formando um bloco único e objetivo dotado de uma harmonia inspiradora. Por outro, também funciona como uma proveitosa exposição sobre o fazer literário, no caso o do fazer literário intrínseco ao romancista peruano e, segundo ele, seguido com fervor disciplinar desde o momento em que se descobriu com habilidade para produzir textos literários, servindo principalmente para os aspirantes a escritores – e aqui me incluo -, pois apresenta um panorama considerável sobre as práticas diárias utilizadas pelo respectivo literato no tocante ao trabalho que envolve desde a fomentação da idéia até a redação propriamente dita.
Mas o livro “Conversas com Vargas Llosa” não é somente isso. O autor o organizou em cinco capítulos, justamente para tentar abarcar um maior contingente de assuntos ligados ao entrevistado e ao mesmo tempo facilitar a leitura do conjunto de idéias e posicionamentos que o escritor defende e expõe. Os capítulos são intitulados respectivamente de: 1) Amigos e não-amigos (nos livros e na vida); 2) Os livros:como foram feitos (e projetos para o futuro); 3) Como é o ofício (e a paixão) de escrever; 4) Assunto pessoal: a fama, o sexo, a família; drogas, dinheiro, lazer; 5) A política: marxismo, liberdade, democracia; Peru, Cuba, Nicarágua.
Seguindo a linha empreendida pelo entrevistador, ficamos inteirados sobre o que lê o escritor, suas preferências, episódios vividos com outras personalidades, tais como Jorge Amado, Julio Cortázar e Pablo Neruda, seus amigos em outras áreas, seus inimigos, as desavenças com Gabriel García Marquez, seus livros favoritos, o modo como trabalhou cada livro que escreveu, suas andanças pelo nordeste brasileiro para escrever o que considera sua obra-máxima, o romance “A guerra do Fim do Mundo”, que trata da Guerra de Canudos, a sua disciplina na hora de escrever, o humor em suas obras, se existe ou não a tal da inspiração, a sua relação com o seu país de origem, o lado funesto da fama, seus casamentos, a paixão pelas coisas sensuais e espirituais da vida, o trabalho, o lazer e, por fim, enveredamos pelo campo político pelo qual Mario Vargas Llosa também se pontuou polemicamente durante toda a vida, partindo de seu desencanto pelo marxismo, passando pelas ameaças de morte possivelmente feitas por lideranças do Sendero Luminoso, e indo até seus sonhos relacionados à democracia enquanto indivíduo amante do continente sul-americano.
Como o próprio jornalista registra no prefácio da entrevista, Llosa apresenta-se como um sujeito que “tem com seu País, o Peru, uma relação especialíssima”, segundo o escritor, “mais adúltera do que conjugal, cheia de suspeita, paixão e fúria”. Apesar de o livro ter já 25 anos de publicado, para nós, brasileiros, fica a importância do relato devido à proximidade e até à igualdade de problemas vividos por parte do povo peruano que, indubitavelmente, também presenciamos nos dias atuais. Mario Vargas Llosa nasceu em 1936, em Arequipa, sul peruano, viveu parte da infância na Bolívia e morou muito tempo na Europa, onde trabalhou como professor e jornalista. Ricardo A. Setti nasceu em São Paulo, viveu no Paraná até a adolescência, cursou Direito e produziu esta entrevista para a revista masculina Playboy de maio de 1986. Excelente convite para uma iniciação nas obras do autor.
4 comentários:
Crédito da imagem:
"Mario Vargas Lhosa II
by ~marcelosam"
Deviantart
Mario Vargas lhosa e Gabriel Garcia Marques, são dois dos escritores de que mais gosto.
MUito bom,sempre aprendendo com seus textos!!
Olá!
Gosto muito deste autor, no entanto peco por o ler pouco, enfim é uma lacuna a remediar no futuro.
Abraço, fica bem.
Amigo esta confirmação de palavras ...
vou te contar !!!
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