Por Germano Xavier
Depois do almoço, o homem sem uma das mãos limpou sua única mão. Quis caracterizar-se de alguma coisa antes do próprio tempo. Com um asseio. A si mesmo. Uma questão de honra. Para ele. Mérito, talvez. Sua educação como processo social, falhada. Suspeitou dos comportamentos demonstrados através das aculturações, das comunicações e dos aprendizados assimilados no convívio humano. "Socialização primária ou secundária?", consigo mesmo, repetiu. Na primária a ciência conhece o mundo e a realidade social através das definições que a ela são dadas pelos familiares. A secundária não termina, segue o indivíduo por todo o resto da vida. E ele olhou para sua mão limpa. Mão-espelho. Mão de enxergar o passado, e o reflexo de uma coisa mais antiga que tudo o que ele poderia suspeitar. Um branco saído da palma envelhecida, porém firme. Um branco suspeito, meio medroso, mas verdadeiro, cobrindo o pasto da hora. "O que há de paradoxal na relação indivíduo e outro-olhar?" Mais vivo o branco da mão, e a falta do outro membro. Foi partindo do pressuposto de que o ser é moldado pela sociedade que imaginou, passaria a ser um ser estático, perdido em suas perdas, contrapartido. Um ser humano agindo no sentido de transformar-se, produzindo o meio em que vive. Só se tornando possível porque os vários processos de socialização nunca são totais. Como o mecanismo denominado controle social, ele agora era diferente dos controles individuais. O controle social, o branco da sua mão, não possui um agente específico, brilha e apenas, realiza-se por várias pessoas, positivo, "comportamentos aceitáveis", lembrou, elogios e negativo e ridículo e comportamentos inaceitáveis também. A mão cingida, partida, inexistente. A arma sem fogo, golpe sem técnica, força sem agilidade. Objetivou estudar a vida dos homens em sociedade, em suas inter-relações, sistematizou-se perante a transmissão de sua herança comportamental e, por fim, deduziu a importância que tem a falta de alguma coisa, em algum espaço de tempo, num dado momento, sob um certo ângulo insinuante por megeras verdades. Talvez estivesse certo. Quem sabe.
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"maos
by ~joatanluna"
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