segunda-feira, 18 de abril de 2011

Caleidoscópio hipnótico


Por Germano Xavier

VI


Aqui estou novamente. Um sonhador com sua sacola de sonhos. De tudo, até agora, ficou apenas uma lição: a de que é preciso continuar e nunca desistir. Não há mais tempo a perder. Eu sei de tudo que faz você perder a cabeça. Eu preciso de um livro de poesia! Quero me encontrar, mas a poesia só me distancia mais das coisas, das pessoas, desse mundo. É justamente por isso que sou poeta. Ah, e eu não estou preocupado com as razões dessa realidade fajuta, você sabe muito bem disso.

"Deixemos as mulheres belas para os homens sem imaginação", assim disse o Marcel Proust em um de seus delírios de homem. Os lírios são belos? Quem foi que disse isso? Quem falou que aquela flor é mais bela que esta? Quem inventou o julgamento? Os meus psicotrópicos já não fazem o mesmo efeito de antes. Acredito que está na hora de partir para uma espécie de terapia supervisionada. E homem é capaz de cuidar de homem?

Maldição!

A cratera está cada dia mais profunda. Lá embaixo o fogo torna insuportável o calor. Deus, como é possível sobreviver aqui? Para esta sensação de ardor não há remédio. O espelho, dono de toda a fraqueza do ser humano, é a dose diária de veneno que preciso. Adeus, meus "redondinhos"! Adeus, minha puçanga! A liberdade para os meus pássaros coloridos!

Só quem não quer ver a si próprio vê a beleza no Belo! Hipnótico caleidoscópio de ilusões. Onde devo pôr meu espelho? Qual a melhor altura? Qual a rotina dos meus reflexos de pequenez? E existe realidade? É frio o real? Não tente responder, você não sabe das respostas. Mas eu sei, eu sei de tudo que te fere. Eu só quero que você acredite em mim, pois eu não sou louco. Eu sou apenas um sonhador que anda meio perdido entre tantos espelhos e imagens do inexistente.

Deus, o que sou eu?

Deus deve estar dormindo agora. Já é madrugada e o sono... o sono se perde em imaginários. O chão é gélido e os ratos roem as páginas amarelecidas dos livros na biblioteca escura. Quantos mortos em um só lugar!? Quanta gente morta, quantos suicidas, quantos desencantos e quantos ratos! As bibliotecas deveriam se chamar cemitérios (palácios das almas). Morte, será esta a sina de quem escreve? É por isso que quero que vivam e que não se preocupem comigo. Eu só estou aqui de passagem. Vivam! Não deixem de gozar de seus pseudosorrisos por minha causa. Eu não valho uma parte de suas essências, de seus interiores.

E existe beleza?

Perdoa, Senhor, eles não sabem o que fazem.

Um comentário:

Germano Viana Xavier disse...

Crédito da imagem:

"sakura kawa "river" by *jyoujo"
DEviantart