segunda-feira, 11 de abril de 2011

A voz que dita


Por Germano Xavier

Quando o governo brasileiro monta, na Praia Vermelha, Rio de Janeiro, uma estação de rádio que transmitia programas literários, musicais e informativos, em condições precárias, ainda não se imaginava o poder que a propaganda iria exercer nos diversos meios de comunicação de massa, mormente no que concerne aos meios televisivos e radiofonizados. Historicamente, foi com Waldo de Abreu que os primeiros anúncios de rádio aconteceram, nos idos de 1932. Waldo, no "Esplêndido Programa", da Rádio Clube do Brasil, do Rio de Janeiro, juntamente com outros locutores, usou o rádio como instrumento para conseguir a adesão popular frente à Revolução Constitucionalista de 1932. É deveras a partir desse momento que, no rádio, dá-se a implantação de uma nova política de viabilização comunicacional. E com a televisão não foi diferente. A influência exercida pela publicidade, no que diz respeito à linha editorial, pôde ser percebida de maneira gradativa e constante, chegando hoje à clara evidência de que é quase que impossível enxergar a existência de uma imprensa sem o apoio externo de patrocinadores. A imprensa, esteja ela em qualquer uma de suas modalidades, é extremamente comercial. A própria notícia, material da literatura jornalística, por vezes é tida como uma mercadoria como qualquer outra. Vende-se a idéia, o pensamento, a conveniência, a troca de favores, entre tantos outros aspectos, modulando assim, muitas vezes, a qualidade do conteúdo que é mostrado. O próprio Estado utiliza-se desse artifício, e bem, para passar a idéia "rebocada" das "coisas" que são do "interesse" da sociedade. O Estado é, hoje, um dos setores que mais investem - senão o maior investidor - no poder da comunicação, despejando, anualmente, milhões e milhões nos cofres das empresas do ramo comunicacional. Trata-se, com isso e a partir disso, de efetivar uma defesa à ideologia do governo, seguindo os seu interesses, os intentos do modo de produção vigente e dos segmentos mais influentes do corpo social. A relação existente entre meios de comunicação de massa, poder econômico e Estado, é bastante estreita. Pode-se respaldar a presença de uma dependência mútua entre os diversos aparelhos de ordem. Há um aproveitamento de ambas as partes para com o desenvolvimento generalizado das idéias que, porventura, almejem advogar. A manipulação de interesses é marca também expressiva dessa ligação e consequência imediata de um modelo padronizado que acaba agregando valores "desonestos" ao que condiz com a área educacional - só para citar um exemplo - e, por conseguinte, de caráter cognitivo do cidadão. Serve-se a um sistema segregador que, por notórias vezes, faz da imprensa, e da comunicação em si, mais um instrumento de cunho oficial, deliberando aquilo que é, somente e só, do interesse único da máquina-mor de um país.

2 comentários:

Germano Viana Xavier disse...

Crédito da imagem:

"radio by ~TiViD"
Deviantart

Caca disse...

Perfeito, Germano. Esta relação estreita chega a ser por vezes (e muitas) promíscua. De tal forma que mesmo para quem tem uma crítica menos ingênua da formação e das relações sociais, oscila entre amor e ódio do sistema de comunicações. Abraços. Paz e bem.