quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Numa manhã, escrevemos, eu, sem e com...


Por Germano Xavier

Mas cada volta tua há de apagar
O que esta ausência tua me causou
Eu sei que vou sofrer a eterna desventura de viver
A espera de viver ao lado teu
Por toda a minha vida
(...)

Vinícius de Moraes


Eu sei que vou te amar por todo o tempo que me for de vida, Alice. Eu sei que vou te amar, porque tudo aconteceu. “Sim”. Tudo aconteceu, Alice. Absolutamente tudo. Você aconteceu. O mundo aconteceu. Depois de você, eu aconteci. O amor, o amor, Alice!, o amor aconteceu! “Sim”. Sim. “Eu também”. Sim, você também. Acho que tudo, Alice. Absolutamente tudo. “E o livro que te mandei, baby, quando vai ter de se mudar?” No fim do mês. Está perto. Já estamos perto do fim do mês. “Sim, desta vez coloquei no seu nome”. Sim. Todo mundo já sabe mesmo. Até o carteiro, meu amigo, o bedel, meu irmão, a namorada do meu irmão, o cachorro atropelado semana passada da mulher do térreo, a poeira da mesa lá da garagem, as silenciosas e pequenas aranhas embaixo da mesa, todo mundo. Você não tem jeito mesmo, Alice. “Como assim?” Gastando o seu dinheiro. Sabe, eu fico sem jeito. Não sei se mereço tanto. Você não tem jeito, Alice. “Não é com. É para você ler por nós. E dinheiro e nada, para mim, é tudo igual. Não quero perder você”. Você sabe que não perde. Só se quiser mesmo. Amo você, escritora. Amo você, Alice. “Eu fiz algumas mudanças no penúltimo texto. Só falta o último”. Sim, vou ver depois. Você está bem? “Não muito. Penso no que tem passado, e desmorono. Carrego suas dores em mim”. Apesar de minhas quedas, você me ensina a ser forte. Você me ensina coisas, mesmo não querendo. Você é minha professora. “Não pode sofrer, baby. Você é Ulisses”. Sim. “E eu amo por eternidades”. Você sempre me leva ao Olimpo. Você sabe disso. Eu também te amo eternamente. Eu também. Muito. E quero você, como desde que te conheci. Já temos história, Alice. Já temos a nossa história. Nosso livro existe. E eu não sei que fada ou que mago me fez aportar em teus cais. Aquele dia de fevereiro, lembra? “Sim. O problema é que a gente tem medo um do outro. De tanto amar, a gente tem medo”. Sim. “Aí ficamos nos machucando”. Sim e não. “Mas eu peço perdão. E abraço você e não deixo chorar”. Eu sei. Obrigado por tudo, Alice. Obrigado mesmo. Você sempre salva a nossa história. É a minha heroína. Nossa melhor memória está em ti e no vôo das libélulas azuis. “Tem que agradecer não. Eu sempre salvo”. Sim. Você sempre salva. Você sempre, sempre. Devo a você minha vida, Alice. “Não fala assim!” Antes éramos a palavra distante, como se a distância no espaço nos mostrasse nossas reais fraquezas. Éramos impedidos por qualquer coisa que não nos pertencia, mas tudo mudou. Você sabe, Alice, tudo aconteceu. O plano das idéias foi demolido e hoje o que guardo de ti é o teu cheiro real, a tua boca real, teu gosto, tua malícia de mulher, tua preguiçosa armação de dizer do amor, de dizer que queria tanto o amor. Perdi as reminiscências de quando não tive você por completo. Arrumei as gavetas do meu peito só para pôr nelas o máximo de tua carne e de teu espírito. “Porque eu quero, salvo. Ontem nós morremos”. Sim. “Me viu chorar pela vida inteira”. Sim, Alice. Vi teu pranto e vi o quanto nos amamos quando não queríamos deixar transparecer o nosso sentimento um ao outro, no quarto que foi nosso, nosso jardim. Não gosto de ver você chorando. “Mas, sou assim. É forte demais, baby”. Muito. Você é minha fortaleza. Desde o começo. E veio para me fazer mais forte. E eu beijei teu corpo e senti isso. “Como está hoje?” Melhor. “Sou sua”. Há dias em que o telhado cai e a chuva vem toda. “Sou um livro seu. Sim”. Sim. Amor meu, preciso escrever. “Eu sei”. Estou por aqui. Você sabe onde me encontrar. Você nunca me atrapalha. “Eu não vou perder você. E não quero pontes”. Eu quero te namorar. “Fazer amor”. E ainda somos jovens demais para pontes. “Eu sei”. Vamos viver muito ainda. E deixaremos alguns papéis para alguém ler depois. “Sim”. Nascemos para isso. Para deixar papéis. “Eu nasci para olhar você, baby”. Para vivermos dos amores que escrevemos, que vitalizamos. “Escrevo para você ler. Só”. Eu também. Amo-te. “Te amo. Escreve!” O que você quer hoje? Poesia, texto chato, prosa... retalho? “Quero o seu texto mais perfeito”. Diz! “Esses todos que você escreve sem medo, que escreve sem pausa”. O texto perfeito estou ainda a escrever, Alice. E preciso de você para continuar. “Você me quer?” Sim. “Tá. Escreve livre, baby”. Sim. Vou começar. “Escreve, sim. E depois faz amor comigo”. Sim. Faço sempre. “Beijos”.

“Algo surpreendente. É só o que posso dizer agora. Jamais conseguirei colocar em palavras o que senti naquele dia. A semana toda, uma agonia, bem dentro. A contagem regressiva, depois de muita espera e ansiedade. Uma espera de meses. O ônibus que não chegava. Um frio curto dentro daquela rodoviária. Um frio curto e cortante. Eu olhava o relógio, as horas passando, as pessoas com caras de sono passando, simplesmente, os vendedores de água de côco gelada, os de produtos importados, a dona da lanchonete no centro se escondendo do frio, o doido olhando as luzes lá fora. Ela estava vindo. Ela viria. Eu na noite, jogado. Eu na madrugada iniciada, em ruínas, sem sinal. Creio que dei mil voltas dentro daquele lugar. A mulher que me possuía estava vindo. A mulher que eu amava, sim, estava vindo”.

“Te amo”. Sim. “Sempre sim”. Nunca não. “Sim. Você está bem?” Bem. Mal por não acordar te olhando. “Fiquei na cama um tempão pensando em você. Agora pela manhã. Lembrei e pensei muito”. Sim. Eu amo você, Alice. E dói o peito meu. “Eu amo você, baby. Sim. Nem me fala. Ontem fui dormir com um aperto. E fiquei lendo sem paciência”. Eu preciso tanto de você. “Eu acordo pensando nisso. Vivo pensando nisso. Quando não estou escrevendo ou falando bobagem, ou dormindo, ou na casa da minha mãe... só penso nisso. Nessa necessidade mútua”. Te amo. “A gente precisa um do outro para sentir vida”. Muito. Você me faz vivo. “Você também... viva e mulher”. A gente já tinha feito muito amor hoje, se você estivesse aqui. “Sim. E eu já teria tomado banho e estaria escrevendo”. Sim. “E eu já estaria de novo querendo você”. Sempre. Eu também. “Beijando você, baby. Olhando você”. Eu estaria te apertando. E te cheirando. “E com a voz rouca me falando de amor”. Te amo, amor. “A gente se perde um no outro”. Preciso escrever. “Eu também. Não quero atrapalhar. Escreve e lembra que esse tempo é só uma vírgula”. Eu sei. Vamos morar juntos o mais logo e vamos namorar muito antes de cedermo-nos às pontes. “Sim”. Estou aqui. “Tá”. Beijos, meu diamante.

“O telefone tocou. Um número esquisito. Era ela. Não poderia ser outra pessoa. Era ela. E era. Uma voz sonolenta me dizendo que se eu demorasse mais um pouco, pegaria um ônibus qualquer, e voltaria. A voz. Aquela voz, mais perto. Ela já estava lá há muito tempo. Mas, onde? Meus olhos não a enxergavam. Meu corpo buliçoso, fervilhando. Um misto de aturdimento com tristeza. Eu sem saber o que fazer. Ela ligou de novo. Disse de um rio atravessado. Falou que estava além do rio. Pensei. Ela deveria estar na outra extremidade das águas. Fui correndo. Apareceu uma mulher me oferecendo conselhos. Não, não era a velha do Restelo. Acreditei mais nela que em mim. Não era hora para vaidades. Eu estava aturdido e triste. Aceitaria qualquer opinião, faria qualquer coisa para chegar até ela. Pensei novamente. Fui com o coração, agora tentando capturar o ar difícil. Fui”.

E a mulher mandou um bom dia para mim, hoje. Não vou responder. “Ela inveja o que somos, baby”. E fica olhando toda hora. “O quê?” A gente. Sim. “Eu imaginei. Ela quer o que somos”. Sem saber que só a gente existe e pode ser. “Não quero ninguém entre nós. É sagrado o nosso amor”. Muito. “E ela provou que sente inveja. Só não entendo o motivo desse interesse todo na gente”. Nem eu. “Parece doença. Vai ver ela quer o amor que a gente tem”. Está precisando de alguma coisa. “Mas ela tem pessoas. Só não sabe amar. Sofre por não ter motivos”. Entendo. Nunca vai ser feliz. “Sabe, eu não posso te afastar das pessoas. Mas, tem que saber... fiquei triste e decepcionada”. Não faço mais questão. Te amo. “Eu amo você. E quero que saiba que tem maldade nas pessoas. Ela me fez ficar mal”. Eu sei. “Não quero mais falar sobre nós com ninguém. Vai... vou te deixar em paz”. Sim. “Te amo”. Te amo. “Sim”.

“Parti com a moto cortando o prenúncio de chuva instaurada na viseira do meu capacete. Gotículas beijavam o plástico negro. Parecia uma eternidade. Quanto mais eu abria o giclê através de meu punho direito, mais longe se tornava o local onde apostei minhas comendas .Uma ou duas grandes retas, outras passagens curvas e logo estava lá, eu estaria lá, ao pé das pilastras ferrosas do ponto de apoio do transporte interestadual rodoviário. Alguns ônibus estacionados, outros partindo ou chegando. Não reparei em nada. Meu olhar estava fixado em algum lugar. Meu olhar buscava alguém. Meu olhar a buscava, mesmo ainda sobre a motocicleta. Apertei o freio dianteiro, a moto apoiou-se sobre o amortecedor fazendo um movimento parecido com o de uma gangorra. Rapidamente, fiquei de pé e comecei os passos. Ela estava ali. Tinha de estar”.

“Desse amor minguado eu não quero. Canso de coisinhas. Não sou criança. Escrevo e vivo. Não enfeito nada”. Que foi, Alice? Hum? Coisinhas? “Eu sei que tem falado com ela. Tinha coisas naquele texto. Coisas íntimas”. Nunca mais falei. “Não me vem com desculpa. Sei...” Desde que você me disse... lembra? “Aí ela te manda um... eu não mando em você. A maior prova foi essa ligação entre... aproveita! Não divido palco”. Que é isso, Alice? Não acredita em mim? Pergunte a ela que dia foi que andei falando com ela. “Eu não vou perguntar nada. Não preciso. Só reli o texto. E liguei coisas. Não sou burra, embora aparente ingenuidade. Se acredito em você? Sim, mas você mentiu. E isso quebra minha crença”. Menos! Por favor. “Tudo seu é menos”. Nunca mais dei bom dia àquela mulher. Nem quero. “Nunca explode? Nunca fica com raiva? Que merda de amor é esse?” Tudo bem. Se você acha que eu tenho alguma coisa com aquela mulher, não posso fazer nada. “É sempre assim”. Continue acreditando nisso. “Você sai da conversa e a culpa é sempre minha. Sempre o mesmo teatro. A culpa é da minha neurose”. Que significa isso agora, Alice? “Raiva. Pura e simples”. Eu não minto para você. Não escrevi coisa com coisa naquela merda de texto. Você sabe muito bem disso. “E por que aquela porra te mandou aquele recado?” Eu não sei. “Fico feito tonta vendo mulher se desmanchando nos seus poemas. Só tem mulher”. Essas coisas só acontecem quando tudo tende à felicidade. “Só semi-analfabetas”. Mulheres são mulheres. Homens são homens. Não sei o que significa. São mundos diferentes. “Significa: ciúmes de uma mulher que ama você. Isso é o meu surto e eu tenho direito. E fiquei com raiva, sim. E fico puta da vida. Dei tudo o que tinha. E acredito em você. Mas teatro não é o meu forte. Desculpa ter tomado o seu tempo. Não vai acontecer de novo”. Mais alguma coisa? Você venceu. “Eu nunca venço. Nunca. Já me acostumei. Estou sempre errada. Vendo coisas. Neurótica. Uma louca. Você venceu porque amei você de verdade. Amo. E deixo o amor em você. Vou lembrar...” Obrigado por tudo. Desculpe por ser só isso. Vou deitar.

“Meus olhos virando para os lados. Uma sensação estranha. Eu estava próximo. Não sei resumir meu sentimento. Palavras são apenas palavras nessas horas. Eu estava nascendo, parecia isso. Era o fim de minha morte constante. Vida era o meu nome. Em algum lugar, em todos, onde?, segui procurando. Mais alguns passos em linha reta. Tinha de ser ali, agora. Perto da loja de artesanatos. Era ali. Era agora, para ser de verdade. Mais um passo com a perna direita e uma presença forte, sentada, ali, encostada, junto à bagagem... uma luz mexeu com a minha retina. Ela, viva, real, e em minha frente”.

“Tá conversando com quem?” Com ninguém. “Saudades demais, baby”. Poxa, senti tristeza. “Viver longe de você, estar longe, me faz sofrer. Eu fui à casa da minha irmã ontem. É vizinha à casa da minha mãe. Acabei dormindo lá. Cheguei quase agora”. Você sumiu. “E minha irmã acabou de se mudar. Eu sumi e você escreveu um monte de texto. E saiu para tomar vinho”. Você me mata assim, Alice. Está tudo bem. “Eu estava na casa da minha família. Sim. Ontem conversei com o meu irmão. E ele disse no meio do nada que você escreve bem. Só eu e ele. Aí ele disse que você era legal e inteligente e tinha barba. Eu fiquei sem saber o que dizer porque não sabia que ele sabia. Ele viu nossa foto. E disse: Você esteve com ele, não foi? Eu disse que sim... e que te amava. Aí ele me perguntou por que eu tinha escondido isso dele. Disse que me entenderia e que a hora que você quiser vir passar uns dias aqui já tem onde ficar. Disse que você tem cara de homem”. Fico feliz. “E eu fiquei feliz”. Muito mesmo. “Porque ele é o meu irmão mais velho e sempre o respeitei muito. Ele bebeu umas e começou a dizer que lia você. Disse que somos escritores da mesma geração. E eu amo você e não parei de pensar um só minuto”. Eu te amo. Fico feliz de verdade sabendo disso. Que bom que ele sabe. “Sim”. Mais um. “Ele foi descobrindo. E agora você tem um amigo aqui. Ele é como você. Ele lê tudo e não fala muito. É comunista”. Sim. “Tem barba”. Sim. “Sim”. Eu gosto dele sem conhecê-lo. “Ele falou ontem sobre o “Escrever não compreendido”, de Lacan. Eu adoro falar sobre isso. E quando ele falou: E ele? Eu pensei que fosse alemão, mas ele tava falando de você. E depois falou tudo”. Sim. Você é linda, Alice. E sou eu. “Você é o único na minha vida, baby. Pensa coisa ruim de mim, não. Foi reunião de família mesmo. Fiquei lá e só pensava em você. E queria que você fosse lá comigo”. Minha cabeça transborda. Eu pensei em ligar ontem, mas pensei que talvez ficasse com raiva. Por eu não te dar atenção. Eu amo você. Forte e de verdade”. Eu só te amo. “Sim”. A novidade era essa?. “Amo de um amor que não é amor somente. Sim”. Sim. “Não gostou?” Muito. Muito mesmo. Sim. “Eu sou sua e logo estaremos juntos. Não sei imaginar minha vida sem você. Quero. Preciso. Não traio o meu amor”. É bom que seu irmão já vá se familiarizando com o moço que ama a irmã dele. “Sim. Porque, mesmo que um dia você não me queira mais, eu amarei sempre. Do meu jeito”. Vou te querer sempre, Alice. Eternamente. Já fiz esse pacto com você. “Sim”. Você é a minha mulher. “Sou sua. E daria tudo por um beijo demorado”. Eu também, Alice. Saudade. “De morrer, baby. Queria passar noites e dias. Só olhando. Sou muito apaixonada, baby. Amo de verdade”. Eu também. Muito. Só sei você. “Agora eu sei que você deve estar escrevendo. Vou ler você. E, se quiser, volto mais tarde”. Sempre quero. “Porque viver sem você é sufocante”. Sim. Te amo. “Te amo, baby”. E morro de imaginar. “Me deixa não”. Deixo não. Volta mais tarde. “Sim, eu volto”. Beijos.

“Era ela. Inteira. A mulher que eu tanto esperei. Ocorreu-me uma sensação estranha. De repente, todos os meus planos de aproximação que eu havia traçado não funcionavam mais, não funcionariam nunca. Como fui ingênuo arquitetando planos de amor. Um momento. O momento mais incrível de toda a minha vida. Ela permaneceu sentada, enquanto eu observava, em êxtase, aquela beleza tão madura, tão maior que eu”.

“Você é cheio de mulheres”. Só tenho você, Alice. A única mulher que amo. E que quero. “Eu sei. Quer dizer... amo. E não posso contra o mundo”. Hum? “Sim... não posso fazer com que parem de ver sua beleza”. Não sou belo, amor. Sou normal, como você é. “É sim, baby”. Eu odeio a beleza numa mulher. “Não tem o contrário”. É plástica. Não é vida. Você tem o que eu amo. A face de uma mulher de verdade. Com traços, riscos, sinais... eis a beleza para mim. Uma mulher bela é horrível. Não tem graça. “Sim. Como um livro velho”. Isso. “Eu sou o livro velho”. Como um bom e insubstituível livro velho. Você é linda. E eu não minto. “Eu sei que não”. Hoje foi um dia produtivo, amor. Escrevi uma vida inteira. “Eu vi”. Dois contos e três poemas. E ainda escrevi o nosso livro. E li muito. “Eu li”. E aprendi coisas. “Parece a gente fazendo sexo. O final”. E fiquei com ciúmes de você. “Sim”. Somos nós dois. “Sim”. Eu e você. Nosso tempo. “Nosso suor bom”. Nossa vida única. Nossa voz. “Somos ciumentos demais. E você me deixa maluca com a sua poesia, prosa, tudo”. Eu vou romper com minha colega amanhã. Já estou vendo a cara dela. “O quê?” O romance. Vou ficar com minha parte e seguir sozinho. “Mas é seu trabalho”. Tive uma idéia aqui. “Sim”. E vou seguir sozinho. Ela não vai gostar. Mas vou tentar explicar. “Imagino. Mulheres e suas saias”. Te amo e queria te dar um beijo demorado de língua e ficar do teu lado. “Nem me fale”. Eu te amo, Alice. Vivo por você. “Eu também. E até quando morro. Porque todo dia a gente morre. Morro por você”. Sim. Vou com você até o fim. “Não temos fim, baby. Se um decidir esquecer, o outro continua. Ou o tempo continua por nós”. Deveras. “Deveras”. Sou louco por você. E não escondo isso de ninguém. “Quero sua voz”. Sim. “Posso ligar?” Sim. “Te amo”. Muito.

“Quis um abraço que não veio. Quis qualquer coisa e veio apenas um olhar feminil me estudando sem pressa. Eu ali. Ela, ali. Agitei-me e quis logo levá-la para casa. Estava frio. Uma chuva fininha precipitava-se. Um dia num mês bom. A sensação do Éden. Fantasia e realidade. O fim da distância. O fim de qualquer coisa ruim e o início de um medo professor. Era a hora de sofrer com mais qualidade”.

“Já li seu texto. E comentei. E reli”. Minha vida, eu te amo. Eu estou aqui preocupado. Meu pai acabou de ligar. “O que houve?” Não está bem. Está na capital. Os médicos ainda não disseram. O resultado sai sexta-feira. Ainda continua sentindo as dores. “Mas ele está internado?” Não. Fez uma bateria de exames. Minha mãe foi também. “Baby, seja lá o que for, nessa hora só temos que ter fé. Eu imagino”. Ele me ligou e a voz estava triste. Eu conheço meu pai. “Porque é triste sentir o corpo fraco, baby. Gente te cutucando e fazendo exame e pergunta. Aí é que a gente sabe que tudo foge do controle. Mas tem muito tratamento, baby. E se for o que pode ser que seja, tem cura”. Eu estava na faculdade. As aulas começaram. Ele ligou no intervalo e resolvi vir para casa. “Eu imagino”. Disse que se chateou com o meu irmão também. Que está preocupado com ele. “Não pode ir lá ficar com eles?” Não posso. “Ele é equilibrado, isso ajuda”. Disse que meu irmão está muito nervoso ultimamente. “Por quê?” Teve uns excessos ontem. Não sei. Ele sempre foi temperamental. Ele é muito preocupado. “Eles estão na casa de quem?” A namorada perdeu o emprego ontem. No apartamento da gente. “Sei”. E tiveram uma discussão ontem. “É normal se alterar por isso”. Meu pai fica sem saber o que fazer. “Pessoas são assim. Família é assim”. Sim. “Queria ir ficar com você. Mas eu te ajudo no que precisar”. Vai ficar tudo bem, Alice. “Eu sei. Mas você, mais que eu, sabe que gente perde o controle. Não é assim. Seu irmão deve estar sobrecarregado”. Demais. “Quantos anos ele tem?” Trabalhando muito e ainda a monografia. Vinte e seis. “É, mas não importa a idade. Vocês são apegados e família é sempre um laço forte”. Eu falo isso porque meu pai é muito preocupado, Alice. “Que seu pai fez? Biópsia?” Ele não gosta de ver alguma coisa saindo dos trilhos. “Sei”. Um monte de exame. Nem sei te falar. “Meu avô teve a mesma coisa e ficou bom”. Sim. “Fez muito exame e coisas que o plano não cobria. Tem exame muito caro”. Todos os irmãos do meu pai tiveram isso e estão bons hoje. “Dinheiro pesa muito também”. Sim. Acho que o plano do meu pai cobre tudo. “Sim”. Vai dar tudo certo, amor. Eu queria você. “E por que não conversa com seu irmão?”. Ele está na casa da namorada. Ontem liguei para ele. Meu pai exagera demais também. “É normal. Minha mãe é assim”. Sim. “Que ele falou?” Que está tudo normal. Brigas normais. Os dois sempre foram assim. “É a convivência”. Vivem discutindo. “Acaba com tudo. Se eu morasse com meu pai, já tinha morrido de tanto discutir”. É normal. Eu mandei um beijo para você porque eu queria mandar. “Eu sei. Eu amo você”. Alice, eu não consigo ficar bem imaginando que não terei você comigo um dia. Hoje pensei muito. “E quem disse que não vai ter?” E comprovei que você é muito importante para mim. Que não vivo sem você. Que eu te amo. “O que faço é imaginar uma forma de fazer tudo ficar bem”. Sim. “Nós e nossas vidas”. Eu quero isso, amor. Que não haja tanta quebra. “Eu vi seu recado falando sobre eu ir de vez em quando. Não quero viver assim. Principalmente com você e meu filho. Sim. Filho não é pedra no caminho. Amo meu filho e acho sacanagem abandonar. Maldade mesmo”. Sim. “Não posso fazer isso. Não sei com que cara eu iria viver. Mas também penso em você. Não vivo sem você. Quero um amor completo. Vamos brigar, vai faltar grana, vou sentir ciúmes, mas quero viver com você”. Eu também, minha escritora. Na alegria e na tristeza. Eu te amo. “Sim”. É que as palavras da sua amiga sempre me surgem. “Que palavras?” Mas tem hora que eu acho elas sensatas demais. Mas vejo que ela tem razão em algumas. “São as minhas que você tem de ouvir”. Sim. Eu sei. Por isso mandei aquele recado. “Eu amo você e sei que tudo é difícil para você, como também é para mim”. Sim. “Aquele recado me fez pensar que seu amor amorna”. Eu sei. Imaginei que você ia sentir isso. Não é nada disso. Acho que você entende. “Então você me conhece”. Sim. Eu te quero, Alice. E venha com força. Eu sei. Quero você para mim. “Sou forte e fraca. Depende do dia. Mas quando penso em você, fico feliz. Mesmo triste. E não gosto quando você se acomoda”. Eu sei. Desculpa. Escrevi e na mesma hora quis apagar. Mas deixei lá. É para você ver que penso em nós dois. Sempre. “É porque você não pensa daquela forma”. Sim. “Eu sei o que você pensa”. Deveras, amor. “Penso também. E procuro formas”. Procure, Alice! “Penso no tempo. Na sua solidão”. Sim. “Em você se deparar com outra mulher como aquela do seu texto que li hoje. Penso nisso”. Sim. Venha viver comigo. A gente come o pão do diabo no começo, mas depois o gosto melhora. “E só eu sei quando você surta. Eu sei”. Sim. Eu ainda continuo te querendo como para ontem. “E agora está fragilizado. Eu sei. E escreve me atacando mesmo sem saber”. São textos velhos, amor. “Aquele texto é parte da sua memória. Eu sei”. Sem nenhuma serventia, senão a de ocupar espaço. “Mas fazemos isso um com o outro. Não faço isso para magoar você. “Escrevemos para nos exibir, para nos machucar também”. Eu odeio também quando vejo coisa antiga sua, que me deixa distante. “Eu escrevo e conheço. Eu sei”. Mas meu desejo é o de escrever um livro novo com você. E a gente faz isso e faremos. Porque eu te amo. “Sim”. E você é a mulher que eu quero. “Porque é amor e não um beijo apenas ou uma transa de fim de semana”. Não, não é, amor. “É coisa que arde. Vai lá no fundo. E mexe com a alma. Não gosto de imaginar ficar indo e vindo e fazendo sexo com você, como se fosse resolver algo”. Sim. Não quero isso. Quero acordar e dormir sem tempo. Sem olhar relógios. “Não quero porque parece aluguel”. E nós temos braços e sabemos andar. A gente consegue viver sim. “Sim. E podemos fazer coisas com calma”. Não somos doentes. Sim. “Porque não sou de outro. Nem se preocupe em me perder”. Nem eu de nenhuma. “Não ouço homens, não os quero. Leve o tempo que levar. Você vem ontem. Vou ontem. Eu vou de verdade”. Se eu disser que não te quero logo eu estarei mentindo, amor. E sua amiga, que também amo, que me desculpe. Eu quero você logo. “Queria que largasse tudo e viesse para mim. Queria sim. Ficar comigo. Fazer vida, juntos. E ver meu filho como seu também. Não posso separar meu filho do nosso amor. Sabe. “Não minto para você”. Eu vou, Alice. Como ficar melhor para você, eu vou. “Se não tivermos filhos, o meu filho será seu. Não é melhor para mim”. Sim. É começo de tempo para os dois. É começo de vida para nós dois. Não quero prender. Mas também não te largo. E digo que a gente tem que agüentar a distância que mata. Fazer algo, escrever muito, conversar. Porque tem que pensar também. Você tem que saber o que quer. Te dou tempo para imaginar sua vida longe daí. Entendo as mudanças. Não quero romper sua vida”. Você acabou dizendo o que eu disse no recado. “Não. O que disse foi: amo você e quero você comigo. Em outras palavras, do meu lado sabendo que carrego bagagem e ao mesmo tempo, só tenho...” Não sei se agüento o tempo, Alice. “Eu sei que é difícil largar nossa liberdade. Já fiz isso. Faço por você. Mas vou ser livre com você. E não te dou prazo. Sou você e serei sempre. E não perdemos tempo. Estamos construindo tudo. Não vê?” Sim. “Sim sempre, baby. “Eu vou ou você vem e sim, pelo que sinto vou ter que ir te ver sim. Porque precisamos. Porque é sério e perfeito. Sim. E palavras não cansam de ser ditas”. Quero te ver sempre, o tempo que pudermos, antes da gente ficar junto. De vez. “Mas já estamos juntos. Como soldados e namoradas. Só você não vê. Estamos no meio de uma guerra de tempo. E escrevo para você e alimento o meu amor. E vou sim, assim que eu puder. Sabe que vou”. Venha, amor... E quando der para eu ir e se você se sentir bem, eu não meço esforço para ir te ver também. “Me sentir bem? Eu amo você. Será que é difícil entender isso?” Eu sei. Eu te amo. “E agora vou escrever e ver se crio o amor que só você não vê que tenho. Eu volto mais tarde. Volto porque amo você e não sou uma menina de universidade”. Sim. Te amo. Muito. “Muito. Beijos”. Beijos.

“Para você...

Eu preciso escrever. Preciso fazer isso verdade nem que seja só para mim. Só para eu ler. Páginas de diário ao vento. Penso em você como presença do sol. Mesmo chovendo, há sol. Amo você da forma mais humana que se possa amar. Defeitos expostos e seu sexo exposto e vejo perfeição até em sua inércia. Hoje faz pouco mais de uma semana e eu sabia - o tempo iria dizer o que realmente havia acontecido. Desde que sai de casa e tomei o caminho para encontrar você, pensei em todos os detalhes. Durante a viagem, não avisei sequer onde estava e você sabia que eu estava chegando. Quando liguei já era quase hora e quando cheguei, você me apareceu sorrindo tímido e gelado e era mesmo o urso polar que eu havia desenhado. Em minha ansiedade, me tranqüilizei em cigarros e você odiou. Eu sabia que você odiaria. Eu também sentiria o mesmo. Mas não pude evitar. Era eu, Letícia sozinha caminhando para ver alguém que talvez eu já conhecesse ou não. Era uma aposta do tempo. Eu e o tempo. Sem personagem para me esconder, agi como sou. Largada e preguiçosa. Complicada e simples. Frágil e trêmula. Como usei em um de meus textos, sou uma bola de neve ao sol. Amei você desde o primeiro texto que li. Seus poemas carregados de linguagem esquisita para mim, eram meu refúgio. Eu entendia seus poemas e os odiava. Porque falavam de um amor que estava em mim desde tanto tempo. E quando o vi - lá parado me pedindo um abraço, fui eu sorrindo e achando engraçado. Era engraçado ter me entregue a um homem que não sabia ser real ou apenas poesia bem escrita. E fomos juntos para o tempo que se consumia a cada segundo. E eu analisei seu gesto desde o início. Sua forma de andar, seus livros, sua cômoda cheia de coisas e também as formigas que caminhavam entre nós. Vi tudo e você era gigante no meio do quarto e do apartamento. Nossa primeira conversa, assim que larguei minha mala no chão e me sentei ao seu lado foi sincera. Eu não usei disfarce ou maquiagem para dissimular. E nos beijamos. Meio tortos, mas beijamos. Eu descobri seu gosto e você soube de mim. Depois do banho, conversamos mais e então os corpos tiveram o que há muito queriam. Você me rasgou como quem abre um envelope. Se enfiou em mim e suou em meu rosto e queria sempre olhar nosso sexo um com o outro. Fomos animais. Desde o início. Sou mulher e usada pelos dias. Eu conhecia movimento de homens, mas o que você fazia sobre meu corpo, não era humano. Era animalesco. Era o nosso sexo que estava escondido. Você sabia manipular - soube. Usou de seu corpo e fez tudo o que quis, eu acho. Eu amei sua bagunça. Sou mulher e criança, você sabe. Conheço línguas e livros e nunca havia sido penetrada com tanta força e raiva. Eu vi também que você se inaugurava em mim. Estava fazendo poesia ou conto. Sempre tentava se inaugurar. Seus olhos eram tímidos e a boca era silenciosa e os braços me moldavam e machucavam. Você deve ter procurado em mim resquícios de outros homens ou semelhanças com outras mulheres. Eu fiz isso. Eu analisei sua semelhança. E não havia semelhança. Era um monstro me devorando com amor de criatura que não sabe as profundezas da água. E você viu que sou feita de água. Por isso me entorto e fico gelada ou quente demais. E nós brigamos como antigos e você me fez chorar como antigos e eu fiz você se arder como antigos. Estávamos em um duelo para amar mais e explorar mais um e o outro. Não havia como isso não acontecer. Vivemos analisando paredes, borboletas e fraquezas. Nós sabíamos que éramos inimigos amando um ao outro. E a cada dia seu beijo me arrancava mais pedaços e eu tentei ser o que sou. Beijei você como beijaria a mim mesma e contorci meu corpo em orgasmos que eram violentos de amor e vontade. Eu queria você o tempo todo. Ficava úmida só de ouvir sua voz. Mas aí comecei a fingir não querer porque já havia me deitado com você tantas vezes e meu corpo pequeno não acompanhava a força. Mas eu quis e me machuquei. E era a melhor dor que se pode ter. Não sei que força machista levou você a me querer tanto e tão ferozmente. Você quis me comer, devorar e nos sufocamos. Não por estarmos enjoando um do outro, mas porque havia algo acontecendo. Não era simples e nós sabíamos que, desde o início, não era simples. Estávamos engolindo um ao outro e em essência de incensos. E o quarto era o mundo. E passamos dias sem perceber. E era sempre na hora de dormir que a diferença surgia. Assistimos filme juntos - eu dormi. E você tomou conta de mim e saía e eu sentia saudade. E doía só de olhar para você. Seu corpo imenso me agredindo e eu aprendendo que amor também machucava. E você sentiu o mesmo. Aquela sensação que temos quando terminamos de escrever um texto bom. Sabíamos que era diferente. Seria só uma semana de culto e veneração, mas não foi bem assim. Nunca pensei que seria assim. Você teve uma mulher para você - fui inteira e voltei em metade. Porque você me arrancou pedaços e eu trouxe parte sua também. Tenho ainda seu gosto em minha boca. Minhas mãos sentem sua forma. Quantas vezes amei você com minhas mãos e olhei você me ver diferente. Vi que você se assustou também. Algo estava nos modificando. Não seríamos mais os mesmos. Não somos. Voltei pra casa e para minhas obrigações. Cuido do meu filho e cuido do meu corpo que anseia pelo seu. Me tornei sua mesmo. O tempo fez isso conosco. Minha literatura parafernália anda perplexa com a minha nova voz. Você me fez mudar. E sei que mudei você também. Você teve medo. Era eu que estava ali e não a sombra ou a imagem. Eu viva em você. E cuidamos um do outro e brincamos de amor e agora é verdade. Sempre foi de verdade. Eu falei pra você que só faria diferença com o tempo. Tudo teria que voltar ao normal para sabermos o efeito. E foi devastador. Não adianta dizer que minha mudança em meu casamento não está ligada a você. Está sim. Não sei amar versos diferentes. Não adianta dizer que não fui louca indo até você porque fui maluca mesmo. Encontrei o senhor de mim. O homem que me devastou e chorou quando leu um texto meu. E agora somos metades. E sei que fui diferente pra você. Talvez não um corpo inédito ou sexo diferente. Fui apenas quem sou e sei que sou diferente. Isso ninguém rouba de mim. E você também é singular. O tempo pode adiantar os dias e fazer tudo parecer pequeno e tudo que escrevi pode se tornar antigo, mas não iremos sumir. Porque foi violento, como você uma vez disse. Você é estranho, silencioso, não escreve diretamente pra mim - não responde e-mails. Sou estranha também. Não gosto de sair. Não sou temperada pelo sol. Por isso somos unidos. Por isso não iremos sumir. Fomos alimento e ainda somos”.

"Vocês sabem,
amar demais nos torna
seres frágeis,
quebradiços."


“A gente tá fazendo amor, baby”. Sim. “Eu sinto. Dentro de mim”. Você tirou as palavras de minha boca. “Eu sinto você me abrindo e me beijando”. Eu sou teu filho que mora dentro de você, amor. “Sim”. E eu te perfuro toda hora. “Eu sei”. Você é linda. Meu diamante. “Você me perfura. Sou tua”. Minha esposa. Sim. “Somos o contrário de tudo. E por isso morremos um no outro. Eu quero você. Você é o poema que não sei escrever”. E tu minha prosa ainda feto. A jazida do meu ouro. “Você sente que somos sangue?” Sou teu garimpeiro, Alice. Sim. Sinto. Sou teu minerador. “Em nosso corpo. E você me come mesmo longe de mim”. Sempre. Você sabe que eu não deixo você sem amor. E com fome. “Eu sei. Você me consome. Preciso de você, meu bem. Quero ser sua mulher e sou. Viver com você. Amando e odiando”. Eu te juro amor eterno. Como a onda ama o mar. “Eu queria tanto agora você me comendo”. É o mesmo em mim o teu querer. Viveremos nos comendo. Nos chupando. Bebendo a gente. Você é e sempre será a mulher que amarei. “Eu gozo por você, amor”. Eu bebo a tua água, amor. “Eu não sou de outro. Você me tem. Você sou eu”. Eu te amo. Quero tanto! “Eu também”. Que sofro. E dói. “Quero por vidas”. Mil delas, amor. “Quero amor e sexo e sua poesia me fodendo”. Quero a saúde do meu corpo para poder furar a minha mulher toda hora. Vou comer você sempre, minha vida. “Sim. Eu ouço a sua voz me dizendo isso. Aqui... do meu lado”. Meu pau ama a boceta e o cu da minha mulher. “Enfiando as mãos em mim”. E tudo. “Sim. E sinto você me abrindo. Eu me masturbo por você, amor. E gozo pensando no seu pau me fodendo toda”. Queria você batendo punheta em mim até a gente dormir, como daquela vez. “Sim. Eu faço. Eu chupo você e engulo tudo”. Eu sei. Eu vivo dentro de você, minha escritora. “E deixo você gozar nos meus seios. E no meu cu que ama o seu pau grosso me fodendo”. Sim. Amo. E eu via e você enxergava sentindo. “Sim”. Tão lindo, amor. “E como é, baby?” A gente. “Me fala”. Lindo, amor. Eu entrando em você. Invadindo. Abrindo a parede. E dizendo que meu amor é o maior por você. Você deixava meu pau duro. Como uma pedra. “Sim”. Você ficava linda de quatro. “E, baby, você só gozava porque eu pedia?” Eu pegava em teu bumbum. Não. “Ou você explodia porque não agüentava?” Gozava porque eu te amo. Eu queria sempre mais, mas eu sempre renasço para comer você de novo. “Sim”. Coisa de um minuto e eu já renasço para comer minha mulher. “E você gozava e deixava seu corpo pesado em mim. Eu sei. Me ama! Com esse amor nosso que é mais do que amor”. Amo sim, com esse amor que é boca que lambe, que é pau que entra e sai, que é boceta aberta e sedenta, que é cu fodido com amor e fogo e nossa lança de matar. “Até nosso sexo perverso tem amor”. E que é o sono de criança depois. Querendo colo e quentura. A gente vive uma vida inteira num dia só, Alice. “E nós sofremos um pelo outro”. De criança, passamos à fase adulta, envelhecemos, morremos, e nascemos de novo. Amor meu da minha vida, preciso ir tomar banho e comer alguma coisa. Vejo você de noite. “Sim”. Eu te quero. “Eu te amo”. E não deixo você sozinha no mundo. Eu não te largo. “Eu sei. Sim”. E me caso com você. “Sim”. Te amo, amor. “Sim”.

“O quarto estava a poucos passos. Noite e um táxi. A carga da menina, da mulher tão linda. Desculpe, mas não consigo. Depois que fechamos a porta... depois que fechamos a porta... desculpe... imaginem um piano caindo do segundo andar, imaginem... Foi assim”.

“Eu liguei e você não atendeu. Amanhã você vem, lê tudo e vê se mereço ou não compreensão. E talvez perdão .Sei do amor. Sei da distância e quando digo certas coisas é porque dói ver você sozinho. Sei que me entende. Não gosto de imaginar você aí nesse quarto sozinho. Sei que você não é um coitado... vi que você é forte. Mais forte que eu. E sim, tenho ciúmes, mas é normal. O cansaço de ler tanto e escrever levam a gente a isso. A brigar por bobagem. Você tem essa coisa de sair e me deixar sozinha. Eu entendo. Nunca te falei que não era ou sou complicada. Sou sim. Complicada e me precipito. Meu amor por você amadurece a cada dia. Quero ver você feliz. Comigo e feliz. Penso no amanhã e sei que ele chega porque há uns meses eu nem te conhecia e agora amo. Nos conhecemos, amor. Nos machucamos. Você me entorta com suas idéias e eu respeito. Sua literatura é meu espelho embora nada seja tão exato. Você me traduz e amo você por isso. Não por um pênis ou boca que me beija, mas por sua forma exata de ser o homem que quero viver meus dias. Eu perco você ... ganho você e sempre assim me machuco e durmo imaginando o seu sono. Não há dinheiro que me faça esquecer você. Você me conhece. Esteve dentro de mim. Dentro de mim como almas que se encontram. Choro agora porque amo. Sou assim. E sinto saudades. E quando acordar e me ler aqui, lembra: Sou a mulher que fez amor com você como quem descobre um mundo. Você me faz feliz. Sei que faço você feliz. Sei que somos o mesmo livro. Amo você. E não por leituras... mas escrevemos de outra forma agora porque estamos um no outro. Você mudou e eu mudei também. Amo você como você me ama. E assim vivo e acredito que sou sua. Sempre serei”.

Imaginem um piano caindo do segundo andar! Imaginem...
Amor trançado numa máquina de escrever que temos aqui dentro, bem dentro.

4 comentários:

Germano Viana Xavier disse...

Crédito da imagem:

"Post mortem2 by ~LostCaradelNeil"
Deviantart

Artes e escritas disse...

Não imagine nada com o piano, por favor. O mesmo piano que toca arranjo em acordes diminutos e aumentados para a música Eu Sei que Vou Te Amar. Ao menos esse arranjo cifrado eu toco. No mais, que a Alice que seja feliz com o seu amor. Parabéns pelo texto. Abraços, Yayá.

Ana Lucia Sorrentino disse...

Bonito, Germano.

Flor de Lis disse...

Demasiadamente profundo.