segunda-feira, 30 de abril de 2012

Circo Tihany encanta em 3 horas de espetáculo


 Por Germano Xavier

Não, sinceramente não é um espetáculo para todos. Nenhuma novidade nisso, infelizmente. Como bem sabemos, cultura de qualidade no Brasil nunca foi um objeto para todos. Os preços dos ingressos são altos, com alguns lugares custando mais de 100 reais, mas é daqueles eventos que valem a pena cada centavo investido. Estou falando do espetáculo Abrakadabra, realizado pelo Circo Tihany Spectacular (antigo Circo Mágico Tihany), que está aportado na Avenida Paralela há algumas semanas, em Salvador-BA. A organização revela-se presente em todos os detalhes, a atmosfera mágica faz brilhar os olhos do mais insensível ser humano, o ar condicionado climatiza todos os calores internos antes de o início se dar. O público, enfileirado, é convidado a entrar para bem perto do picadeiro uma hora antes da apresentação inaugural. Aí uma chuva de funcionários dão o tom da espera, oferecendo as mais diversas guloseimas, como pastel, pizza, pipoca, algodão doce, maçã-do-amor e até brinquedos, a preços também bem salgados, como não poderia deixar de ser. Um depoimento audiovisual de Franz Czeisler, fundador do circo, serve de marco inicial e abre as três horas de fantasia e muito riso. Após isso, o que se vê é uma série de números de acrobacia, malabarismo, contorcionismo, dança, ballet, ilusionismo e palhaçadas. Infelizmente nos é proibido tirar fotos no interior do circo durante as apresentações. Fiquem aí com as poucas fotos que deu para tirar de um mísero aparelho de celular. Gostei mais do palhaço, dos acrobatas voadores e dos equilibristas. Há muita coisa para ser vista e para todos os gostos. Fica o convite. Quem puder, não deixe de prestigiar este time circense multinacional que é o Tihany. Circo com C maiúsculo.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Edição 1 digital do Jornal O Equador das Coisas

Para quem não pode ler a Edição 1 do Jornal de Literatura e Arte O EQUADOR DAS COISAS no formato impresso, está aí a versão digital. Mais um trabalho belíssimo-informático de Carolina Piva. Boa leitura a todos!


Jornal Literário O Equador das Coisas



Edição Nº 1/Março de 2012

O EQUADOR DAS COISAS, blog de literatura e arte em geral com mais de 5 anos de existência na internet, agora também é um Jornal Literário em versão impressa no formato Tablóide, com edições bimestrais contendo 10 páginas em papel reciclado. A proposta não tem fins lucrativos, mas receberemos apoio de empresas e pessoas interessadas que queiram colaborar para com as despesas gráficas. Em contrapartida, divulgaremos suas respectivas marcas/logomarcas no corpo do jornal. O objetivo principal é a difusão da arte literária e a divulgação dos trabalhos enviados por colaboradores. O Jornal Literário O Equador das Coisas custará o valor simbólico de 2 Reais, será distribuído em grande parte da extensão da Chapada Diamantina, Bahia, Brasil e, quiçá, Mundo. Toda a renda adquirida com a venda dos exemplares, será transformada em alguma ação de cunho social em prol de famílias carentes do município baiano de Iraquara-BA e, também, para auxiliar na circulação do jornal. Para a Edição Nº 2, vamos preparar um dossiê com o tema TRABALHO. Você que é contista, cronista, poeta, jornalista, professor, entre outras ocupações, que esteja interessado em colaborar com o projeto, leia as informações abaixo e saiba como participar:

Quem pode enviar material para avaliação?

Todos aqueles que escrevem. Embora tenhamos a intenção de convidar alguns autores, o Jornal Literário O Equador das Coisas será alimentado, principalmente, pelos textos enviados por escritores que (ainda) não são conhecidos da maior parte do público leitor.

O Jornal Literário O Equador das Coisas é impresso?

Sim. Inicialmente, com tiragem de 1.000 exemplares, com edições bimestrais, em formato Tablóide, com 8 páginas em papel reciclado de ótima qualidade. Esperamos uma ampla divulgação e, em um futuro próximo, conforme haja demanda, tentaremos viabilizar tiragens cada vez maiores.

Qual a periodicidade da publicação?

O Jornal Literário O Equador das Coisas será publicado a cada dois meses. Acreditamos que, bimestralmente, teremos tempo o suficiente para avaliar todos os trabalhos e preparar uma edição de boa qualidade.

Qual a melhor maneira de entrar em contato com o jornal?

Para solucionar quaisquer dúvidas, o e-mail para contato é: germanoxavier@hotmail.com


Prazo final para envio de materiais a serem publicados na Primeira edição:
25/04/2012


Publicação da Segunda edição: Maio/2012




NORMAS PARA ENVIO DE MATERIAL

Os trabalhos deverão ser apresentados em arquivos de Documento Word (.doc, .docx) e enviados para germanoxavier@hotmail.com

Em relação ao arquivo:

- As obras deverão ser anexadas ao e-mail em um arquivo (as mesmas não deverão ser coladas no corpo da mensagem).

- Preferencialmente, os trabalhos deverão ser enviados em um único arquivo - independente da quantidade de textos presentes nele.

- Não há limites para o número de textos enviados em um arquivo. O autor pode selecionar quantos textos desejar para submetê-los à avaliação.

- Identificar o conteúdo do e-mail no campo “Assunto”.

- Além das obras, pedimos para que os autores nos enviem uma minibiografia (de, no máximo, 4 linhas), podendo acrescentar, ainda, endereços para contato (e-mail, blog, site). (Observação: caso a minibiografia não seja enviada, a publicação divulgará apenas o nome do autor)

Em relação aos trabalhos:

- As categorias pré-definidas pelo jornal para envio de material, bem como as especificidades em relação aos textos, são as seguintes:

Contos – Crônicas - Poemas - Haicais - Resenhas - Charges/Tirinhas/Caricaturas – Fotografias – Ensaios - Indicações Literárias

Observações:

- Outras obras que não discernidas dentre as categorias supracitadas poderão também ser enviadas, desde que concernentes ao assunto basal do jornal – ou seja, literatura e arte.

- O não cumprimento das normas acima, a priori, não fará com que nenhum trabalho seja desconsiderado. Consideraremos as especificidades de cada trabalho, associando-as à viabilidade de publicação/edição do jornal.

- Todos os trabalhos serão avaliados e os autores receberão uma resposta no que tange à publicação.

Em relação aos patrocinadores:

- Para a empresa ou pessoa civil que tiver interesse em colaborar com as despesas gráficas, o Jornal Literário O Equador das Coisas, em contrapartida, divulgará em suas páginas a marca/logomarca da empresa, seguindo as seguintes especificações:

Publicidade Tamanho Básico (9x5cm): 50 Reais
Publicidade Tamanho Duplo: 90 Reais
Publicidade Tamanho Triplo: 130 Reais
Publicidade Um Terço/Página: 200 Reais
Publicidade Dois Terços/Página: 350 Reais
Publicidade Página Completa: 500 Reais

Para qualquer outro tamanho, os preços serão combinados.


Esperamos a participação de todos!

Modelo normativo baseado no utilizado pela Revista Macondo.

domingo, 22 de abril de 2012

Moço-palavra, homem-escrita


Por Iara Fernandes

Minha escrita tomba mole diante da tua. Não sei ser entrecortada com tanta amarração, nem interrompida com tanta sintonia. Todas as tuas palavras agem conforme querem e, não querendo a sequência, compõem exuberantes mosaicos. Eu não sei isso assim. Sinto tua densa sintaxe, porém não vejo o romantismo de sujeitos e verbos, as redundâncias expostas como únicas verdades. Teus versos não se carregam dessas mazelinhas... Aiai... Meu coração vai dispensar a mescalina pra se dopar de tuas dores. E se peiote houvesse pra entorpecê-lo, recusaria também. Contigo, quem carece disso? Serás tu o cara que conhece a solidão dos números primos? Isso eu não saberia, tá vendo? Misturar números com solidão. Tu infundes zona de sombra com garganta, teu verbo é conjugado com lama e é ele que te preenche e te faz acordar antes de todas as manhãs do mundo. Não quero escrever com tu, não. Mas eu prefiro a tua mão, a tua rédea. Gosto de me ler, não nego, entretanto queria mais desordem, caos, explosões e desmandos nos meus textos. Não precisa me dizer essa coisa de construir fantasia com ajuda do outro. Are!! Fantasia real tem que ser na solidão de dois, de três ou de nenhum. Tu neste universo paralelo, tudo aqui é um nadinha sem tua palavra. Eu também falo tanto por dentro e quando minhas milhões de pessoas querem falar todas juntas, me agarro a ler Germano, o homem eterno. O pensamento desanuvia e se entrega aos objetos, meninos, amadas e bad trips desse Xavier. Ele parte em águas quebradas e sabe direitinho ensinar que tudo se acaba, que nada se acaba. É o moço-palavras, o homem-escrita, um coração que rastreia o mundo, olhos que farejam azimutes e lábios que cantam, na desrima agreste, ácida, inquieta um universo provocante. Como te esquecer, Germano, como? Conhecer tua lavra é pau, é pedra.

Carta aberta à comunidade iraquarense


 Por Germano Xavier

Os professores da rede estadual vêm, por meio desta, informar a todos os iraquarenses, e principalmente aos seus mais de 1.100 alunos, sobre a adesão à greve dos professores estaduais da Bahia. Reivindicamos o cumprimento do Piso Salarial Nacional para Professores Licenciados, e também a não aceitação do projeto de lei encaminhado à Assembleia Legislativa do Estado da Bahia, que tem como objetivo incorporar as gratificações ao piso salarial. Nós acreditamos que uma boa educação demanda maior comprometimento do governo e requeremos melhorias nas condições de trabalho do profissional da educação. Uma escola redesenhada para as novas preocupações da comunidade, capaz de funcionar de maneira mais flexível, e preocupada em revelar os melhores caminhos para a construção do conhecimento em cada indivíduo é, sem dúvida, a meta a ser alcançada com esta paralização. Nenhuma sociedade se constituirá bem sucedida se esta não favorecer o direito à educação de qualidade a todos os indivíduos. E o melhor caminho para isso é investindo seriamente na educação. O professor merece e exige ser mais valorizado!

sábado, 21 de abril de 2012

Objeto a falha no que me atualizam resoluções


Por Germano Xavier 

Para Mariza Lourenço

tome um café
sinta, senta (será que você sente?)
café esperta a alma
(o mundo tão down...)
sem alma
tá danado viver
prum cara que nem deveria ter nascido
imagine a dureza

eu gostei do cachecol dobrado assim
no teu pescoço
você ficou uma puta charmosa

- vieni qui, bambino

nossas línguas quentes
não pelo café
pela dor de tudo
o amor de tudo
olha só aquele que vai por lá
vai carregando o mundo

sabe, italiana, sabe
tá me faltando punch
cimento crueza cinza mortalidade
me contorce
nenhum mito existe
eu que acredito tanto

senta aqui
meu colo pode ser o único lugar possível
o espaço aliado
o front vivo
não me deixes sem tua pele

eu pedi um drink vermelho porque é a oportunidade estou aqui debruçado na janela olhando o mundo lá fora o mundo aqui dentro é tão irreal o mundo lá fora é tão fotográfico quanta miséria hidrantes sem água calçadas sem 

bueiros

vê se te manca
caia fora enquanto podes
não adiantará nenhum relatório
posso sentar aqui?

sexta-feira, 20 de abril de 2012

saiu, saiu O Equador das Coisas!


Por Carolina Piva

Orgulhosa, agraciada, e tudo quanto o mais-de – naquele bom do maravilhamento-a-gente, pois que duplamente em tim-tim! É que saiu semana passada, impresso, o nosso O Equador das Coisas, jornal de literatura e arte. E não é pra ir mesmo na comemoração em deliciuras várias? Hein-hein? 

Assinamos (digo assim, “editorialmente”, sabem?) este primeiro número do jornal, e as edições daqui-pra-frente todas com prazer sempre-além: Germano Xavier (escritor-poeta e idealizador do projeto), Karime Limon (poeta estadunidense de grandeza sem-palavras-eu-pra, que será nossa correspondente por lá, na Califórnia, pra assuntos poéticos “versing far but also nearby”) e eu-Carol Piva (com uma coluna n’O Equador, vocês vão ver lá, vixi!, e também como designer-diagramadora dele). 

A gente está mesmo em festa! O Equador teve, nesse primeiro número, textos incríveis – crônica, resenha, conto, poema e mais... Pressinto água na boca mesmo, você vão v(l)er só! E o segundo número, pra maio, já está sendo preparado... 

Os agradecimentos todos e tudo o que de mais lindo enfim dito estão em bastantes ditos pelo Germano-equador, lá em blogue dele. É assim, ó: oequadordascoisas.blogspot.com. Em breve, a edição virtual do jornal estará por lá e também por cá, prometo! Por enquanto, pra gente ir vendo a lindeza (ai, como somos mesmo corujinhas, haha!, mas é pro bem, viu?), e porque eu mesma estou aguardando, lindamente ansiosa, me chegarem os exemplares direto da Bahia... 

Opa, preciso fazer pausa pra explicar... É que é e vai sendo assim: O Equador é projetado em muitos cantos-mundo diferentes: chega dos colaboradores-escritores; passa pela Califórnia, nos Istatis, de onde nos escreve a Karime; vai pra e vem de lá correndo de novo pra Bahia; chega aqui nas Gerais nossas (que é de onde eu vou “desenhado” ele). Pronto, o jornal segue novamente pra Bahia, que é onde ele tem, digamos, a “morada” dele e de lá também onde ele é impresso. 

Então, como eu ia dizendo, estou na expectativa boa pra me chegarem aqui nas Alterosas alguns exemplares impressos que o Germano vai pra mim, sabem? Daí que, chegando, ponho imagens dele, d’O Equador, aqui pra gente também – prometo! Enquanto isso, era o que eu dizia, fui no atrevimento pro bem de pegar essa foto emprestada no blogue do Germano, que é do jornal já impressozinho... Cá está, equador em nós. Sigamos, meus queridos! Tim-tim!

Cutucando o bucho das coisas


Por Germano Xavier

VII


forte das pernas lá ia doró
do mesmo modo ensimesmado
a cutucar o bucho das coisas
a roer as unhas das lerdezas

adiantava não o milagre de Vozinha-Mãe
nem chá dos verdes pra calmaria
que o mundo ele rodava brincando
fazia dele era era uma bola de pano
e dava de bicuda
e dava de bandinha
que o que é na gente sempre volta
pros outros em rodopios
e bom se fosse em rodopios de bola
e de bola de pano suja de lama
poesia de meninice aguda
e eterna

que assim é que era bom
"sabê dus mundão de cada um
das puisia desenredadas
das puisia de semente
que de nóis as fruta se amoldura
e lambuza boca de doce
e só assim nóis véve
só assim"

eita Grandeza que esse menino era uma fonte!

parava não de chutar o que coisava ele
batia forte com o pé e com jeito
que tudo tem o seu jeito
e na sua manha sabida pontapeava num tiro
a pança do mundo e saía espoletado
feito um relâmpago o moreninho do mato
num caminho descaminhado que só ele sabia
que só ele sabia

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Jam Session em Lençóis empolga amantes da boa música


 Por Germano Xavier

Aconteceu na última noite de sábado, uma Jam Session na Casa Afrânio Peixoto, situada à cidade de Lençóis-BA, Chapada Diamantina. O evento foi promovido pela respectiva Casa em parceria com a ONG Grãos de Luz e Griô e alguns músicos brasileiros e norte-americanos, que deram o ar da graça com execuções belíssimas de canções em Jazz e Blues, ritmos e estilos musicais onde a capacidade de improvisação é um de seus maiores trunfos. Sueli Seixas, diretora da instituição que serviu de palco para o encontro, declarou que “desde 2008, quando foi inaugurado o Auditório Afrânio Peixoto, conserva uma intensa parceria informal com a Associação Grãos de Luz e Griô, para realização de eventos culturais variados, como o Jam Session que ocorreu no dia 14 de abril, e que foi simplesmente adorável". O público interagiu desde o início das apresentações e, ao final, foi todo para a frente do palco para uma despedida deveras empolgante. Douglas Adair (violão e voz), Cobblestone (bateria) e Mike Fansler (saxofone) completaram a banda formada na própria localidade chapadense. “Mike é maestro e tem o projeto de fazer um festival com bandas de sopro em 2014; mas eles também vieram para conhecer um pouco mais sobre os projetos sociais daqui da região. É a primeira vez que estamos aqui e tudo isso é muito mais um intercâmbio e uma abertura de perspectivas para futuras parcerias. Passamos em Nazaré primeiro, conhecemos uma filarmônica lá, depois viemos para cá”, disse Breno Pádua, gaitista da noite. Douglas Adair, que mora em Salvador já há alguns anos, mais conhecido pelos amigos como Doug, afirmou o interesse em promover pesquisas em prol do desenvolvimento social da população local. “O objetivo maior é atingir os jovens. E hoje é o início desta conversação. Fui músico em meu país por muito tempo, compositor, e agora venho desenvolvendo projetos sociais, econômicos, turísticos, entre outros”, disse. Luís Chaves, líder da banda Grãos de Luz e Griô, e também um dos violonistas da noite, corroborou a ideia de que o evento faz parte de um estudo que a associação da qual faz parte já vem trabalhando há algum tempo, e que se refere às origens da música negra no Brasil e no mundo. “A gente precisa saber melhor de que forma essas influências ajudaram a criar o que a gente chama hoje de Música Popular Brasileira e de que forma elas interferem em nossas vidas. Já fazemos exposições em escolas, assim como rodas de estudo e de debate por todo o município com essa finalidade. Produzimos Aulas-Espetáculo, ou seja, ensinamos tocando. A gente quer mostrar que a Black Music tem influências da África. Em nosso show, há imagens e sons desde a África até a formação do Blues nas mãos dos negros norte-americanos e que, com o passar do tempo, viu explodir um outro ritmo, o Rock’n Roll, que vem dessa raiz, mas que já simboliza a mistura de negros e brancos num país altamente racista. Nas aulas, a gente também enfoca o estudo dos sistemas sociais e econômicos, ou seja, a gente mostra como os Estados Unidos, a partir da Segunda Guerra Mundial, invade o resto do mundo, traz suas influências e como era a sociedade norte-americana, com aquele tradicional e canceroso ranço racista, principalmente no sul, onde surgiu o Blues, e como essa música ajudou a quebrar singelamente o racismo e como ela entra no Brasil e contribui para isso também. De forma didática, contamos histórias, fazemos dançar e ao mesmo tempo instruímos”, falou. Luís ainda destacou o trabalho da ONG que representa, que tem como meta criar e estabelecer um diálogo com a cultura tradicional, o presente e o passado, de trazer as sabedorias e os conhecimentos das parteiras, dos cantadores, dos reiseiros, dos tocadores e de pessoas que contribuíram para a sociedade, integrando nisso tudo a escola. “A gente pega mestres da tradição oral e local para expor um pouco de suas vidas aos alunos. Às vezes, as vidas dessas pessoas acabam se tornando o conteúdo que será trabalhado nas próprias salas de aulas por alguns professores”, finalizou.

Oaristo cantado para as aves que os pássaros têm


Por Germano Xavier 

Para Daniela Delias 

um passo há para o torvelinho
com gosto e o mar de fronte,
torrentes albas, nuvens pensas
fazem frente à mente alinhada
ao que de dentro voa.

que augusta quimera refrata-me
candente plasma de asas mansas?
ó, ausência em banquete!

fosse um norte e eu iria, resguardado,
mar aberto, em fúria, intenso.
porque a liberdade quando à sombra
alerta sobre o perigo de estar.

(chegar ainda é uma dádiva para quem navega)

remadas bruscas, luxações ignoradas
nos braços que se cansam, gaivotas, o mar, o mar...
o artista na Galera te ilustra no sonho do suor
escorrido na branca tez; o escravo da dor também ama
imaginando chegar quando chegar não é fim.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Sem ponto ou fim


A escritora paulista Jacqueline Collodo Gomes 
me presenteou ontem estas belíssimas palavras... 


Porque quando estou tudo faz sentido
e eu chego ao local que sempre sonhei existir

Queria viver uma sucessiva aventura
sair por aí, estar, conhecer
tocar pessoas, alcançar emoções
ver flores diferentes e o céu em diferentes posições

Fazer as malas, e dar prumo à vida
Não me preocupar com nada, ter pão e descanso
e assim andarmos abraçados jogando o outro braço,
num riso a enternecer

Ser turista e no meu guia só ter a felicidade
Brincar sem ter vergonha, esteja onde estiver
Sentar à uma sombra pra te apreciar
sem pressa, deixar o dia acontecer...

E não pensar em nada. E não buscar
ter tudo na presença entregue a mim
Você dá nome a um peixe, eu a uma jangada
E o horizonte é a nossa história, sem ponto ou fim.

Olhar de Bela Tarr


 Por Germano Xavier

“É incrível toda a poesia que temos para descrever um olhar que nunca se cruzou, apenas se sonha. Eu não sei exatamente em que converto esses olhares imaginativos. Só consigo pensar no olhar de Janus à baleia, o do olhar da baleia a Janus. É de um filme de Bela Tarr, Harmonias de Wch... Algo assim. Como sempre minha memória me apunhala. Assiste essa cena e me diz se eu não tenho toda a razão em falar da intensidade desse olhar.” 

Ela, a menina dos tsurus.

Você tem razão, branca mulher. O olhar é também voz.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Feuille d’album


Por Letícia Palmeira

Germano, 

Ontem eu li um conto que me fez sentir como se você estivesse ali, bem perto. Nunca uma história te revelou tão claro para mim. O título é Feuille d'album e foi escrito por Katherine Mansfield. Acho que, após ler tantas escritoras, encontrei uma que se tornará minha favorita. A história fala de um homem pelo qual as mulheres sentem algo similar ao sentimento materno: vontade de cuidar, de amar e fazê-lo feliz. O personagem é um tanto estranho aos olhos de todos. Sempre quieto e sem jeito. Uma criatura fora de qualquer padrão de convivência social. E esta ideia permanece até o ponto em que o narrador (ou narradora) permite que o leitor adentre a vida do personagem para enxergar como ele vive. A forma como KM descreve a casa do rapaz, seus hábitos e seus silêncios, transforma o personagem em um homem diferente. Não é mais um simples estranho por quem mulheres sentem compaixão e amor. É um homem que olha paisagens, faz desenhos ao observar o mundo de sua janela e vive em seu pequeno apartamento sempre limpo e organizado. Certo de que não fora moldado a viver perto de todas as pessoas que tentaram cuidar dele, ele permanece saindo de casa sempre vestido da mesma forma, frequenta um café e retorna para sua janela e olha o mundo. É através deste observar o mundo que ele vê uma mulher em outra casa. Uma figura comum, sem aparência espetacular. Apenas uma mulher que limpa sua cozinha e veste sempre um avental. Ele se sente ligado a ela. A mulher é tão solitária quanto o homem. Limpa a cozinha, conversa com alguém que no conto não é revelado e sai para fazer compras sempre no início da noite. Um dia o homem decide seguir a mulher enquanto ela vai ao mercado, ao açougueiro, à quitanda. Ele a segue e não deixa que ela o veja. Ela compra ovos e escolhe aqueles que ele também escolheria. Ele sorri e a segue até em casa. Mas antes ele compra um ovo e caminha até a casa da mulher, sobe escadas e entrega nas mãos dela o ovo dizendo: você deixou cair. E é claro o sentimento de ter encontrado alguém como ele. Alguém que não pertence ao mundo comum. O mundo que ele (o personagem) não conseguia fazer parte. E é assim que te vejo. Alguém que não fora descoberto ainda. 

Leia o conto se encontrar. 
É um romance em quatro páginas (em minha opinião). 
Está no livro Aulas de Canto e outros contos, de Katherine Mansfield. 
E esta leitura é o meu presente ao homem que conheci.

Pasolini e o velho desespero



Por Germano Xavier

no dia do seu enterro,
um homem no bar engoliu um trago,
levantou uma das mãos,
ofereceu o corpo líquido rubro
que ladeava o interior do copo
ao amigo que jamais conhecera,
num gesto de lindíssima projeção:

- O mundo, Paolo, o mundo é bárbaro! A luta ainda está entre a velha e a nova caturrice ortodoxa, e eu sei que foi por isso que você partiu, meu amigo. Foi por isso que você partiu, meu velho amigo, porque você quis estar fora do jogo.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Posfácio do futuro-meu-livro Sombras Adentro


Por Cláudia de Souza lemos 
Mestre em Ciência da Literatura (Semiologia) – UFRJ e docente no Ensino Público. 


A sombra do meu corpo ia sempre adiante, comprida, muito comprida, tão comprida como um fantasma, muito colada no chão, seguindo o terreno, ora andando em linha reta pelo caminho, ora subindo o muro do cemitério, como quem quer assomar-se. Corri um pouco; a sombra correu, também. Parei; a sombra também parou. Olhei para o firmamento; não havia uma só nuvem a toda volta. A sombra acompanhar-me-ia, passo a passo, até chegar.¹

Onde há muita luz, as sombras são mais profundas, diz Goethe, em Sombras Adentro, a poesia iluminada, na subjetivação paradoxal, e por isso abissal, da tessitura provocativa e inteligente de Germano Viana Xavier, leva o leitor às vias submersas de uma leitura leve, mas extremamente reflexiva, dialógica e meta-narrativa. Esta maravilhosa seleção de contos é um mergulho de coragem pelos vales obscuros do si mesmo. Uma aventura que toma o fluxo consciente, para alcançar o inconsciente do refluxo. É uma sinfonia que premedita na busca fragmentária, o encontrar-se inteiro para fechar a porta, percebendo o eu, estancado sob a soleira. Margens de escuridão, luz duvidosa, brilho revelador, acompanhados pelos sons de uma atmosfera misteriosa, que provoca o silêncio no escuro de todos os entes noturnos, elementos profanos e sagrados que coabitam as zonas sombrias pessoais ou impessoais do ser humano. Discurso inquietante tecido por um viés de luz e sombra. Há uma sombra que não se quer parda, e uma luz que não se quer neon. Pelos contos adentro, os trajetos das palavras vão construindo, pelas entrelinhas e os intrasignos, o sentido da leitura e uma enorme cumplicidade de dimensão criativa entre o texto e o leitor. Composição inteligente que recorta e cola personagens, desviando o olhar do leitor entre cenas, falas e interferências narrativas, o texto oferece a surpresa, como um vulto inesperado que aparece e desaparece, através de parágrafos e finais inusitados. A tensão entre a escritura e a escrita, o poeta que escapa ao narrador, o jogo de poder entre a criatura e o criador, a gaveta como cemitério de todos os textos, personagens-sombras que nasceram à luz da criatividade, mas sem jamais negarem influências iluminadoras, fazem do caos a literatura, a narrativa de tantas narrativas tecidas pelo talento, olhar e discurso original do autor. Sombras Adentro declara uma dor inquieta no âmago do texto, que grita pelo campanário denunciador do discurso insano, posto que nascido de uma natureza lúcida e fronteiriça que esbarra a luz e a escuridão. Os contos alimentam as sombras e penetram-na, sem resistências, contenções, ou medo de encontrarem a luz que os gerou. Nesses bosques de sombras, o leitor adentra o texto, à medida que se projeta como sombra na contraluz da busca, que o lança e faz interagir, construindo o intertexto, próprio da dialógica. E por detrás das palavras projetam-se sombras a serem decodificadas, à luz da leitura. Há uma administração de sombras e silêncios, com hábil dosagem de claro-escuro, uma boa parte de mistério, provocado pela obscuridade fecundante, que recusa saber dos seus personagens aquilo que, provavelmente, nem eles mesmos sabem. Há uma abstenção em penetrar nas consciências, que necessita sempre de uma zona de sombra e de ambiguidade. Tudo começa no próprio título do livro, que é um jogo de sentidos, convidando o leitor a penetrar nas sombras alheias ou suas. Esse fenômeno transcorre em toda a leitura, através de opostos e símbolos que estão dispersos, em tal profusão nos textos, que se torna supérfluo apresentar comprovações para isso. No entanto, diante da ambiguidade da linguagem da alquimia (Tanto poética, quanto fisicamente!), vale a pena aprofundar-se um pouco mais na maneira como são tratados os opostos, em função de um exercício meta-literário rico e inteligente. Os pares de opostos formam, muito antes, a fenomenologia paradoxal, que é a totalidade humana do texto literário, em sua realidade fictícia e há um tempo e espaço circulares, em que o texto gera outros textos e contextos, que amarra as oposições com maestria, assim como complementares pilares da produção literária: o criador e a criatura nos bastidores do texto, consagrados em contos como “Nós, ele e as Persianas azuis”: 

“Tenho vontade de ir até ele e assoprar uns dizeres, dar-lhe algumas dicas acerca das coisas que somente quem está na dimensão do fictício conseguiria enxergar, falar do que ando vendo nos bastidores do conto que ele escreve, poder de alguma forma fazer com que o seu trabalho não lhe seja tão duro como penso estar sendo. Porém, ao mesmo passo em que todas estas maneiras de pensar me ocorrem em consciência, acredito mais fielmente que ele é um homem forte por demais para se deixar abater pelas naturais adversidades de sua profissão. O poeta está mais preparado do que eu posso imaginar, disso nutro quase uma certeza.” 

A sombra do autor adentra o texto, que promove reflexões através do personagem, a respeito do próprio criador, escritor, poeta. A independência do personagem, no entanto, não o impede da insegurança de deixar de existir se o escritor não continuar a história, matá-lo no contexto da mesma, ou se, simplesmente, ele - o personagem- abandonar o texto, lançando-se a sua margem e liberdade: as persianas azuis: 

“Pensei ruidosamente no que seria de mim a partir de agora, no que faria, assim, destituído do ser de quem mais precisava. Para não sofrer muito, sentei-me novamente no mesmo lugar e preferi pensar na possibilidade de o poeta ter saído para comprar um pacote de café ou um maço de cigarros para a prometida noite de exercício da literatura. Eu não podia, sob nenhuma circunstância, aproximar-me daquelas persianas azuis. Era a minha liberdade que estava em jogo. Era o conhecimento das razões da morte da mulher que mais amei em toda a minha vida que me queimava a alma. Era a sabedoria dos pensares que se passavam pela mente maquiavélica do Sr. Carvalhaes sacudindo meu ser. Era eu, mais do que nunca, dependendo. E como sempre quis crer, o fim era algo impossível de ser pensado. Por isso não movi um centímetro dos meus medos, e ali persisti, na gélida e temente espera das gavetas."

Torna-se sedutor esse jogo de elementos da narrativa, essa troca de papéis, essa subversão textual, causadas pela dúvida do personagem em libertar-se, ou não. Essa manifestação criativa, em Sombras Adentro, remete-nos à citação de Jacques Derrida, sobre Lacan, feita por J. Kristeva²: 

A psicanálise (Lacan) já tinha notado: o sujeito da enunciação vem sempre mascarado de sujeito do enunciado (e reciprocamente). Quais são as consequências desta mutação, operada manisfestadamente na cena histórica do discurso pela máscara? Pelo fato de apagar a pessoa, fazer parar a temporalidade e bloquear o enunciado de uma mensagem, o mecanismo da máscara anunciava um espaço de pensamento OUTRO que o da recitação vocal e do relato narrativo. Esse espaço OUTRO não é o da comunicação (troca de um objeto discursivo entre sujeitos). É o espaço da elaboração lenta, permutante, nascente e moribunda do pensamento, antes de sua definitiva constituição no sujeito, no tempo, no enunciado. É o espaço dos “bastidores”, o único lugar do jogo, sem aquela RIBALTA que consagra a morte do jogo no espetáculo. 

A leitura do conto ressaltado é uma demonstração da composição deste conjunto de textos. O livro revela uma escrita madura, criativa, que revela consistência literária e representa um bom nível de ficção. Não há pretensões, neste posfácio, em estabelecer axiomas sobre este livro, ou tecer intensões vaidosas, típicas de críticas literárias, quer-se antes enaltecer a fecundidade desta produção e da condição talentosa de seu autor. E mostrar que, para tanto, basta uma análise do primeiro conto desta obra, como couvert, para principiar essa leitura saborosamente literária, que merece ser digna de tamanho prazer. Embora, pareça incoerente, não se deseja aqui concluir, terminar, ou dar fechamento a leitura de um livro, mas oferecer um olhar para infinitas releituras que poderão acontecer, promovendo a circularidade, onde o fim não existe, como no filosófico epitáfio de Tristan Corbière3: 

Salvo os amorosos principiantes ou findos que querem principiar pelo fim há tantas coisas que findam pelo princípio que o princípio principia a findar por estar no fim o fim disso é que os amorosos e outros findarão por principiar a reprincipiar por esse princípio que terá findo por não ser mais à eternidade que não tem nem fim nem princípio e terá findo por ser também finalmente igual à rotação da Terra onde se findará por não distinguir mais onde principia o fim de onde finda o princípio o que é todo fim de todo princípio igual a todo princípio final do infinito definido pelo indefinido. Igual um epitáfio igual a um prefácio e vice-versa. 

A transformação decorrente da pós-escrita, pós-leitura, promove uma escritura pós-cênica em que o texto que se leva, na alma e no olhar, passa a engendrar uma permutação e uma recursão que nos faz, como uma sombra, escorrer para fora do palco, renunciando ocupar a ribalta. Portanto, retirar-se de cena, neste momento da obra é seguir, adentro, na infinitização do pensamento e afora, provocando da plateia uma salva de aplausos ao seu criador. 

1. CELA, Camilo José. La família de Pascual Duarte. Pág. 195: Escritor Espanhol da genuína traição picaresca.

2. KRISTEVA, Julia. O texto do Romance: Estudo Semiológico de uma estrutura discursiva transformacional. Horizonte Universitário, 1984. Pág. 181.

3. CORBIÈRE, Tristan(1842-1875). Epitáfio citado in: abc da Literatura de Ezra Pound, cultrix, SP, 16a ed. 2010.

sábado, 14 de abril de 2012

O animal sonhado


Por Germano Xavier 

Para Iara Fernandes

o animal sonhado vive sob uma banca
num buraco de fundo negro, liberto na escuridão.
com uma cauda improvável, olhos vulpinos,
nunca adormece, nunca adormece
o animal sonhado.

algo de besta tem o animal dos sonhos,
algo de celestial e bruto esconde o animal
com dentes de marfim.

quando com a face do mal,
usa do ardil das brincadeiras de enganar.
o animal sonhado me derruba da cama todas as noites
em que corvos pousam em minha janela sem frestas.

a impressão que tenho quando acordo,
suado em não conter o impossível,
é que o animal sonhado tem meu rosto
e me escapa, sempre,
no primeiro vão especular das manhãs.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Sorteio de uma Ecobag Cult


 Por Germano Xavier

O Blog O EQUADOR DAS COISAS está perto de alcançar a marca de 700 seguidores e, para comemorar este marco, fará o sorteio de uma ECOBAG CULT, com a seguinte frase estampada: "EU ME LIGO EM CULTURA". Para participar, é simples. Basta comentar esta postagem com os seguintes dizeres: "Eu quero ganhar a ECOBAG CULT sorteada pelo blog O EQUADOR DAS COISAS", juntamente com o nome completo e sua cidade. A pessoa que mais comentar esta postagem (só vale se for esta postagem) até às 24 horas de domingo, dia 15 de abril/2012, ganhará a ecobag. Depois de identificado o vencedor do sorteio, entrarei em contato com o mesmo para pegar o seu respectivo endereço e enviar o material pelos correios. Se o ganhador for da cidade de Iraquara-BA ou localidade próxima, pode vir pegar a Ecobag Cult em minha residência.

Incêndios se alastram no Parque Nacional da Chapada Diamantina


 Por Germano Xavier

Há cerca de 10 dias que a região central baiana vem ardendo em chamas devido a incêndios na região do Vale do Pati, pertencente ao Parque Nacional da Chapada Diamantina. Equipes da Polícia Militar, do Corpo de Bombeiros, do Instituto Chico Mendes e brigadas tentam, de todas as formas, amenizar os prejuízos causados pelo fogo nesta que é uma das regiões mais bonitas e turísticas da Bahia. Segundo Silas Neves, brigadista voluntário e morador da localidade de Campos de São João, o trabalho de combate ao fogo já vem sendo feito há quase dois meses no entorno de Palmeiras, Andaraí, Mucugezinho e Pai Inácio. “A situação ficou crítica de uns cinco dias para cá. O morro do Pai Inácio pegou fogo completamente, até em cima dele está tudo queimado. O Vale do Capão também. Depois de muito esforço, conseguimos eliminar o fogo lá, mas agora é a Serra da Bacia que está pegando fogo. É muita serra para pouca gente, a gente cansa só de chegar aos locais onde o fogo está atacando. Precisamos de mais gente envolvida, de mais apoio. A gente trabalha se revezando. Tem uma linha de fogo enorme lá. Uma outra turma de brigadistas vai passar a noite trabalhando lá. A gente leva bomba d´água nas costas, muito cansativo, viu. E o pior de tudo é que ainda não estamos na época do fogo. A época de incêndios aqui é geralmente agosto e setembro”, diz Silas, que retornava de mais uma etapa de trabalho. O coronel Miguel Filho diz que todos os envolvidos na operação de combate ao fogo estão passando por muitas dificuldades. “O acesso aos locais é complicado, muitas fendas. Tem lugar que não dá para ir andando, só mesmo de helicóptero ou avião. Por isso mobilizamos o Grupamento Aéreo da Polícia Militar para fazer o lançamento deste pessoal nos locais mais afetados. O helicóptero faz o lançamento e recolhe o pessoal após o turno de trabalho. A jornada de trabalho começa às quatro horas da manhã e termina no início da tarde, quando o sol está muito intenso e as condições serem as mais desfavoráveis para o combate, temperatura muito alta, o que torna o trabalho quase inoperante. Os brigadistas trabalham mais na parte da noite. Ao todo são 15 bombeiros, 10 integrantes do Grupamento Aéreo, equipes de solo e cinco brigadas de cinco locais diferentes daqui da Chapada”, afirmou o tenente- coronel, comandante do 11º Grupamento de Bombeiros. Miguel diz ainda que não foram identificadas as causas para todos os incêndios, mas que se acredita em acidentes, ou seja, incêndios involuntários. “Não nos interessa estar combatendo o fogo. A gente quer fazer é um trabalho de prevenção. Mas, infelizmente, estas coisas ainda são recorrentes aqui na Chapada. Tem gente que não entende o perigo de se sair queimando coisas por aí. Apelo a todos para não atearem fogo em locais inapropriados, pois as condições climáticas não estão favorecendo esta prática. Tomem mais cuidado, por favor”, apela. Os dois aviões do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade estão saindo do aeroporto de Tanquinho/Lençóis-BA carregados de água, numa incessante rotina que não tem dia para terminar. Não há registro de morte e as atividades turísticas continuam normalizadas na maior parte do Parque.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Festa dos Caretas é marco cultural em Canarana-BA

Fotografia de Mathias Pimenta

 Por Germano Xavier

As ruas e praças da cidade de Canarana, situada a menos de setenta quilômetros de Iraquara-BA, serviram de palco, mais uma vez, para a tradicional Festa dos Caretas e, também, para aquilo que representa o seu desfecho, a Malhação (Queima) de Judas. De origem ibérica, a manifestação popular que mistura elementos sagrados/religiosos e profanos vem sendo realizada desde as primeiras décadas do século XX no pequeno município localizado no centro-norte baiano e, já há algum tempo, é considerada sua maior e a mais esperada festa cultural. Um costume que, com muita dificuldade, ainda pode ser presenciado em solos brasileiros, principalmente em localidades interioranas. “Os caretas são formados por pessoas da própria comunidade e alguns interessados vindos de outros lugares. Eles usam uma vestimenta típica, produzem suas máscaras e saem por toda a cidade ao som de seus chocalhos e do estalar de seus chicotes de caroá causando um certo tipo de alvoroço bem peculiar nas pessoas, principalmente no imaginário das crianças, mas tudo feito de forma sadia e organizada, com o intuito maior da brincadeira”, diz Paulo Gomes, morador da cidade. “Antigamente havia o estigma de que os caretas violentavam as pessoas que demonstrassem sentir medo diante deles e até que saqueavam as casas que porventura adentrassem, mas hoje está bem mais tranquilo”, reitera. O festejo anual, que acontece no Sábado de Aleluia, já conseguiu agregar um total de aproximadamente 3.000 mil pessoas que, no calor do evento, mostram-se bem animados e acompanham a tradicional folia com bastante desenvoltura. As máscaras dos caretas são confeccionadas do modo mais rústico possível, artesanalmente, utilizando-se de papel e cola, geralmente produzida nos quintais das casas dos participantes. A face da máscara recebe um molde de barro e os chifres ganham suas formas quando modelados em chifres reais de bois, depois são tingidas e personalizadas ao gosto do careteiro, como é conhecido a pessoa que usa uma dessas máscaras. Atualmente, há até competição com prêmios para aquele que fizer a maior máscara de careta. “Faltam mais incentivos da parte das autoridades de nossa região para que se mantenha cada vez mais viva esta parte belíssima de nossa cultura. As crianças das novas gerações precisam ver os caretas, saber o significado deles para todos nós”, reivindica Paulo.

domingo, 8 de abril de 2012

Comunicação Comunitária – Uma pouca abordagem


 Por Germano Xavier

• Tipo de TVs Comunitárias e Legislação Específica 

Em princípio, as Tvs Comunitárias se ramificam em UHF, VHF, TV de Rua, TV Móvel e TV Comunitária à Cabo. A UHF, a TV de Rua, a Móvel e à Cabo são legalizadas. Todavia, utilizam de diferentes artifícios para exercerem os seus papéis. A VHF atua como uma rádio livre, discutindo temáticas concernentes às políticas de concessão por via da participação do Estado. A UHF tem caráter local (15% do espaço de produção própria e o restante reprogramando propostas educativas). A de Rua e a Móvel são legais e dependem da aparelhagem básica para se constituírem. 

 • As distinções nos Movimentos Sociais no Brasil, presentes entre 1980 e 1990/Com que propósitos a sociedade civil recorreu à comunicação comunitária? 

A sociedade civil, espaço demarcado onde surgem e se desenvolvem as propostas de mudança social recorreu à Comunicação Comunitária com um fundamento básico: dar voz às camadas mais populares (minoritárias), para que seus anseios fossem ouvidos. E é justamente dos Movimentos Sociais Populares que a comunicação comunitária vai emergir; estes, por sua vez, são constituintes dos Movimentos Sociais, que não necessitam obrigatoriamente de dialogar ou levantar bandeira das camadas populares, já que podem significar “levantes” de origem no empresariado/camada patronal. 

• Avaliação da legislação referente à Rádio Comunitária no Brasil, a partir das observações e críticas de Armando Coelho Neto, no livro “Rádio Comunitária não é crime - Ícone Editora, 2002”. 

A legislação referente às Rádios Comunitárias no Brasil reflete a atual democracia em que vivemos. Uma democracia onde a liberdade de expressão só funciona para os detentores do poder (em sua maioria políticos). Empresas controladoras, como a Anatel, servindo-se do apoio da Polícia Federal, gerem a disseminação destes meios de maneira brutal, em todos os sentidos, tanto na abordagem final como na formulação dos requisitos que legitimam tal ação, como, por exemplo, pregar que acidentes aéreos podem ocorrer devido à interferência causada por este tipo de transmissão, o que é muito contestado.

sábado, 7 de abril de 2012

O dia do acabamento


 Por Germano Xavier

no dia do acabamento
a musa hollywoodiana do último filme do Bond foi engolida por um bueiro
enquanto passeava na Travessa do Ouvidor, no Rio de Janeiro.
todos os ministérios se calaram em suas insignificâncias de gravata.
os aviões supersônicos caíram de bico quebrando dentições avulsas.
as gaivotas boiaram nos oceanos formando uma nuvem sem paz.
todos os papéis escritos por todos os escritores viraram féculas negras.
o dinheiro não serviu para absolutamente nada.
as vangloriações cor de ouro desceram correnteza abaixo
 pelos poucos rios que sobreviveram à catástrofe.
a televisão de 98 polegadas com sistemas nanotecnológicos do meu vizinho revelou ser frágil.
a esteira não rolou.
o quadro da bicicleta de 21 marchas derreteu.
todos os carimbos destintaram-se.
o homem que comia katchup na mercearia ao lado do cineclube falido deixou de ser homem
para se transformar em Gregor Samsa.
Cioran permaneceu no submundo.
nenhum Kamasutra foi revisitado.
a doença virou mito.
só o relógio continuou.

Casa Afrânio Peixoto preserva a memória de baiano ilustre


 Por Germano Xavier

Se você é um apaixonado por literatura, ficcional ou científica, ou se você é simplesmente um curioso para com as riquezas edificantes do Brasil, mais especificadamente da Chapada Diamantina, não pode deixar de conhecer a Casa Afrânio Peixoto. Sediada à cidade polo das Lavras Diamantinas, Lençóis-BA, o referido centro de cultura tem por missão principal a preservação da memória de um de seus cidadãos mais ilustres. Sueli Seixas, diretora da Casa, relata que o local foi reconstruído em 1970 e abriga informações raras e especializadas no autor, funcionando também como museu, além de possuir um auditório para eventos culturais que também leva o nome do médico e escritor chapadense. Afrânio Peixoto foi membro da Academia Brasileira de Letras, um exímio escritor, médico atuante e um pesquisar incansável. “Aqui é a Casa Afrânio Peixoto, escritor que nasceu nesta casa em 17 de dezembro de 1876, morou aqui até os 9 anos de idade, foi para Canavieiras, de Canavieiras foi para Salvador, Rio de Janeiro e daí ele ganhou o mundo. Foi uma pessoa que, numa época em que ainda não havia aviões, atravessava o Atlântico e chegava à Europa com muita frequência e facilidade. Afrânio conheceu praticamente a Europa inteira, tendo Portugal como sua segunda pátria, pois descobriu que sua origem era diretamente atrelada ao povo português e ele foi lá buscar essa sua origem, identificou-se bastante com o passar do tempo, tanto que se tornou professor honorário da Universidade de Coimbra, tendo deixado no acervo desta universidade várias de suas pesquisas”, conta Sueli. Ainda segundo a fala da diretora da Casa, infelizmente poucas pessoas daqui mesmo da região procuram o Afrânio para ser o mote de algum de seus prováveis trabalhos acadêmicos. Recebemos mais visitas de pesquisadores ligados a universidades e institutos de cultura de outras regiões do país, assim como de algumas vinculadas a universidades estrangeiras. “Tive contato com uma pesquisadora que estava elaborando sua pesquisa de pós-doutorado e tivemos em conjunto um projeto para repatriar a pesquisa de Afrânio que se encontra em Coimbra, mas por motivos financeiros acabou não dando certo. Um acervo que, sem dúvida, tem a sua importância e precisa vir ao Brasil. Apesar de Afrânio ter sido um escritor da área ficcional, foi médico, trabalhou intensamente na área científica, trabalho este que está relacionado com as duas vertentes que ele mais se enveredou: ciência e ficção. Aqui nós guardamos, conservamos, preservamos e buscamos tentativas de reeditar e restaurar livros de autoria de Afrânio. Estamos sempre entrando em editais para buscar retorno. Ele escreveu exageradamente 140 títulos, entre separatas de revistas, artigos, livros, além de material de cunho jornalístico. Para você ter uma ideia, ele autocriticava os seus próprios livros e ainda publicava isto nos jornais”, reforça. Sujeito atípico, muito organizado, colecionador nato de imagens, mapas, pedras da região, Afrânio destacou-se em tudo o que fez. “Muito meticuloso. Ele viajava e sempre fazia uma lista dos gastos. Era muito elegante também, viajavam ele, a esposa, o filho e a governanta, sempre. Aqui também temos objetos, óleo sobre tela, o violino que ele tocava nas horas vagas, seu fardão da Academia Brasileira de Letras, a escrivaninha que ele utilizou para escrever toda a sua obra. Era ambidestro, possuía uma vida intensa, foi professor e exerceu vários cargos, ajudou a criar a Universidade do Brasil com Anísio Teixeira, exerceu a medicina, ele era da área da medicina legal... foi ele que fez a autopsia de Euclides da Cunha. Também clinicava, teve sete biógrafos, e um deles disse que Afrânio fez pacto com Jeová para alargar suas horas diárias, pois achava impossível uma pessoa fazer tudo o que Afrânio fazia em 24 horas”, relata Sueli. Pesquisador intenso, quando lançou sua obra intitulada Rosa Mística, em 1900, antecipou Freud em 14 anos no tocante a temas como o inconsciente, o incesto e o narcisismo. Psicanalista, foi também diretor do Hospício Nacional de Alienados, onde criou uma biblioteca interna com livros em vários idiomas. “Certa vez chamou um internado para lhe propor sua alta. O paciente disse: “Não me tire daqui, que vou fazer lá fora?!, lá fora eu não tenho crédito de razão alguma”. Ele ajudava a quem podia psicologicamente. Em cada cargo ele produzia livros sobre suas experiências vividas. De 1911 a 1940, ele foi o escritor mais lido da língua portuguesa, tanto no Brasil como em Portugal. Foram 600.000 livros editados em todas as áreas”, reforça. O século XXI é o século do resgate, o momento propício à valoração da memória, e é justamente por isso que iniciativas como a da Casa Afrânio Peixoto se mostram tão importantes. “O nome de Afrânio está espalhado por todo o Brasil em hospitais, ruas, avenidas, etc. Trabalhamos a 425 km de Salvador, onde ficam as outras bibliotecas que são mantidas pela Fundação Pedro Calmon, órgão que nos direciona. Essa distância dificulta muito o nosso trabalho, mas não vamos nunca desistir”, reflete Sueli.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

O amor que eu nunca tive


 Por Germano Xavier

seria céu
o amor que eu nunca tive
seria seu ou meu
espadachim
seria poesia em forma de arbusto seco
manipularia o inerte
afogaria a hora longa
faria o som das músicas imaginárias
tão somente céu e seu
um lundu verbal
dito e arte
seria
o amor que eu nunca tive

teria o perfume que já senti em outros ombros
nas plácidas noites das cidades ribeirinhas
a tenra carne do órgão da mais improvável dama
(aquela que me amou sem dizer palavras)
sentiria saudade como você sentiu
e nasceria

educar-se-ia enquanto semente
viajando num crescendo por dentro de mim
faria oposição ao governo vigente
carregaria a mesma revolta silenciosa
liberta na voz sem fala

seria o amor que nunca tive
uma espécie de solista de dança moderna
uniformizada pela nudez
um último resíduo
como uma flor gerada no betume
fátuo fogo modelado sem guia de consumação
seria assim o amor
o amor que nunca tive

solar-celeste
como um poema noturno de Borges
fênix incrédula e monumental ave, asa, partida
voo

1ª Edição Impressa do Jornal O EQUADOR DAS COISAS


Por Germano Xavier

Quem diria, heim?! Um blog que nasceu de uma atividade na faculdade de Jornalismo, hoje já com quase 5 anos de existência e agora com uma versão impressa, ganhando novos leitores e amantes da boa literatura pelo mundo agora. É com muito prazer que apresento a Edição Nº 1 do Jornal Impresso de Literatura e Arte O EQUADOR DAS COISAS, recém-saída do forno e pronta para ser degustada, lida, colecionada, reverberada por todos os iraquarenses, chapadenses, brasileiros e cosmomundiais. Meus agradecimentos sinceros aos poetas, escritores e artistas em geral que enviaram seus textos para a seleção da edição primeira. Os publicados foram: Romulo Martins, José Inácio Vieira Melo, Leonardo Valesi Valente, Mateus Dourado, Sinvaldo Júnior, Lisa Alves, Maria Aparecida Mello, Jacqueline Collodo, Lorena Nogueira, Dauri Batisti, Suzana Duraes, Uianatã Alecrim, Paulo Sousa, Flávia Amaro, Germano Xavier (idealizador e coordenador editorial), Carol B. Piva (projetista gráfica e diagramadora), Karime Limon (nossa correspondente internacional, da Califórnia-EUA) e Juraci Dórea. As pessoas/textos que não foram publicadas (os) nesta edição, continuarão sendo analisados para a segunda edição. Agradecimentos especiais aos nossos patrocinadores, que acreditaram no projeto e não fizeram cerimônia: Revista MACONDO, Site O BULE, MEGA SOM, CASA DE BISCOITOS QUIXABA, MARILZA - BRINQUEDOS E VARIEDADES, ELETROGIL e COOI ODONTOLOGIA. Agora, meus agradecimentos especiais vão todos para Carol B. Piva, menina-mineira-super-e-estrela-cadente-da-minha-vida, que deu o tom de todo o jornal. Carol, esta primeira edição é em tua homenagem! Os exemplares já estão circulando por aí ao preço de 2 reais a unidade. O jornal tem 10 páginas em formato tablóide. Informo que também enviamos pelos Correios para todo o Brasil, sendo cobrado também a taxa de envio. Quem tiver interesse, basta me procurar ou ir à clínica COII - ODONTOLOGIA, em Iraquara-BA para adquirir o seu. Já estamos preparando a segunda edição. Tenham uma boa leitura!

Clique nas imagens para ampliar:



terça-feira, 3 de abril de 2012

Alice e os sinais



 Por Germano Xavier

Alice quis falar de amor quando, no telhado de sua casa, atirou em minha direção o que sobrou da velha antena parabólica. Falar de amor, para ela, era falar de tudo o tanto, feição das horas. O que acabava tinha de ser amor, mas poderia ser chamado de avental, ou de cabide. Talvez o nome de um país. Inglaterra, quiçá! Alice era amante, e falava sempre no total das vestes do amor. A parabólica não passava de um mito. A captação dos sinais era feita por um receptor interno potentíssimo. As mensagens tanto chegavam como se despediam. A lama era sempre nova. Alice quis falar de amor até na vez em que fez dos longos canudinhos de alumínio da antena parabólica a letal arma contra a estupidez humana. Ela seria assim, biscoito de se quebrar. A maquininha da boneca de plástico, o motorzinho de dentro a pulsar o sangue que havia. O coração de Alice batia no giro da pá do catavento. Batia girando, girava de brincadeira. Era sempre uma carinha de alegre o semblante da menina. Ela amava, assim, como o vento ama a caminhada longa e sem barreiras. Amava sem pressa, sem cor o amor de Alice, sem cera, sincera. Amar era a palavra de Alice. Amar era o verbo de Alice. Amar fazia de Alice a menina mais bela, porque era ela o amor. O amor era Alice, era sua palavra e o seu verbo, seu verbo materializado, vivo no papel, esperando longe a ânsia de ser. Foi Alice quem descobriu que para amar basta dobrar o fio da tomada e amarrar com o aramezinho do saco de pão, que o amor é volátil como o litro de álcool que ela trouxe do supermercado para ajudar na feitura das unhas, que para amar é preciso desligar a televisão e deixar a caixinha de fósforo do lado esquerdo do fogão, para acender na véspera do vendaval. Alice amava abrindo potes e lavando os pratos, em exercício de cozinha. O tempero do amor era o caldo do feijão verde, com cebolas tostadas, alho e um pouco de sal. O amor corado, borbulhando a incerteza das horas e o próprio estado de efemeridade que é amar... Alice pegava as facas e ia cortando as carnes, esquartejando-as. O osso ficava para os cachorros. Todo o resto não combina com o amor. Amar é cortar, lâmina afiada de aparar fagulhas. Depois, Alice era máquina de moer, pois amar é moer, é pisar na carne, amassá-la, apertá-la, comê-la. Porque Alice era menina de pular do telhado, sem medo de cair de rosto no chão, e sangrar o sangue das enfermarias...

Violência e assaltos assustam população iraquarense

Fotografia de Nicole Palmares

 Por Germano Xavier

As cidades do interior brasileiro e baiano, mais especificadamente, como é o caso das localidades pertencentes à região da Chapada Diamantina, antes conhecidas por serem pacatas e muito tranquilas, já não são mais as mesmas nem os seus moradores desfrutam da paz de outrora. Está ficando cada vez mais frequente a percepção de que a violência, metamorfoseada em suas diversas modalidades, vem se tornando, ano após ano, num mal rotineiro e de difícil assimilação. Em Iraquara, não obstante os recorrentes assaltos às agências do Banco do Brasil e dos Correios, que causam medo e intranquilidade em todos, ainda somos impelidos a presenciar atos de crueldade dignos de revolta, como o caso relatado a seguir por uma fonte fidedigna que preferiu não se identificar: “Ontem, minha mãe ligou falando a barbaridade que aconteceu na Várzea, em Iraquara. Lugarejo onde minha avó mora. Um grupo de cinco homens, pra não dizer monstros, bateu num rapaz com problemas mentais chamado ZÉ. Eles bateram até desfigurar o menino e deixá-lo em estado crítico, muito perto da morte. Se um senhor não chegasse para o socorrer, eles tinham matado. Trouxeram ele para Salvador. Está no HGE, não estava conseguindo lugar na UTI. Esse rapaz era uma pessoa normal, aliás bonito e bem inteligente. Quando adolescente, a mãe morreu atropelada em Iraquara. E depois de adulto, quando procurava o pai que era desconhecido, soube que o pai havia sido assassinado em Mulungu do Morro. Trouxeram a foto do homem morto para ele ver. Depois disso, ele começou a desenvolver problemas mentais. Não fazia nada com ninguém, mas dizia que ia fazer e acontecer.... papo mesmo de gente com problemas assim. Ele morava sozinho na Várzea, num lugar lá chamado Pita. Pois foram moradores do Pita que fizeram essa barbaridade. Minha família está arrasada. Ele foi criado na fazenda ao lado da fazenda da minha avó e então ele e os irmãos quando pequenos viviam lá. São pessoas que minha avó tem muito carinho, sabe. Ela, que hoje tem 85 anos, está arrasada com isso. Nós todos estamos, principalmente porque a única parente do menino que mora por lá nem deu queixa na polícia, com medo dos monstros e também por comodidade. Fico pensando quanto vale a vida de uma pessoa. Sabe aqueles casos de colocar fogo em mendigo e índio no sudeste? É a mesma coisa o que fizeram.... um grupo de homens covardemente espanca até quase causar a morte de um inocente, é covardia, é muita maldade... eu já chorei horrores... eu quero fazer alguma coisa e não sei o que, sabe? Estou pensando em escrever uma carta, digitar, imprimir centenas de cópias falando que a justiça de Deus não vai falhar e um dia cada um deles irá pagar caro por isso. Pagar alguém para numa madrugada passar lá jogando os papéis pela Várzea inteira! Eu preciso soltar esse grito, porque alguém tem que fazer alguma coisa! Esses monstros estão achando que fizeram o certo e que tanto foi certo que ninguém apareceu para julgar nem nada... o sobrenome dele não sei...”, disse. Para aumentar a lista de acontecimentos, hoje a vila de Iraporanga viu dois homens armados darem voz de assalto ao posto dos Correios e depois a um mercado local. A bem da verdade é que, se nada for feito por parte dos órgãos competentes em termos de melhoria na segurança da população, haja vista o enorme déficit encontrado neste setor em toda a extensão de Iraquara, decerto que tudo isto vai voltar a acontecer. E, o pior, sabemos que é meramente uma questão de tempo.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Não deixe de escrever



Por Germano Xavier 

Para Ana Lúcia Sorrentino

não deixe de escrever
pelo simples fato do seu melhor amigo discordar
de tudo o que você disse em sua última coluna
(a interpretação é um problema dos outros, não seu)

não deixe de escrever
imaginando que isto não vá levar você a lugar algum
(escrevendo, vamos aonde queremos ir)

não deixe de escrever
por causa de algum aborrecimento vão
ou porque o seu povo ainda não aprendeu
que é preciso ler e ler e ler cada dia mais e melhor
(vamos juntos matar os presidentes, os gerentes, os gestores e etc?)

não deixe de escrever
ao saber que o retorno financeiro será mínimo
(com exceções, claro... mas não dá para levar a cobertura com latrinas banhadas a ouro para o além-morte, fato... então, deixe este detalhe de lado)

não deixe, jamais, de escrever
se você ama realmente a palavra, o verbo
e, principalmente, se você ama o substantivo do verbo
(ninguém que ama a palavra consegue viver sem ela, está dito)

não deixe de escrever, eu peço, não deixe
têm deuses que ainda esperam por algo brotado de suas mãos