quinta-feira, 5 de abril de 2012

O amor que eu nunca tive


 Por Germano Xavier

seria céu
o amor que eu nunca tive
seria seu ou meu
espadachim
seria poesia em forma de arbusto seco
manipularia o inerte
afogaria a hora longa
faria o som das músicas imaginárias
tão somente céu e seu
um lundu verbal
dito e arte
seria
o amor que eu nunca tive

teria o perfume que já senti em outros ombros
nas plácidas noites das cidades ribeirinhas
a tenra carne do órgão da mais improvável dama
(aquela que me amou sem dizer palavras)
sentiria saudade como você sentiu
e nasceria

educar-se-ia enquanto semente
viajando num crescendo por dentro de mim
faria oposição ao governo vigente
carregaria a mesma revolta silenciosa
liberta na voz sem fala

seria o amor que nunca tive
uma espécie de solista de dança moderna
uniformizada pela nudez
um último resíduo
como uma flor gerada no betume
fátuo fogo modelado sem guia de consumação
seria assim o amor
o amor que nunca tive

solar-celeste
como um poema noturno de Borges
fênix incrédula e monumental ave, asa, partida
voo

4 comentários:

controvento-desinventora disse...

Já tens o amor, se dele faz poema e de sua possível imagem poesia...

Anônimo disse...

Muito inspirador lindo.

Beijos.

Jullio Machado disse...

Sei lá, essa "parada" é tão intimista. Tem coisas ocultas indivisíveis...
Sabe aquele lance de saudade; saudade não se sabe de quem, saudade de algum lugar, mas não se sabe , ao certo, de onde. Pois é, "o amor que eu nunca tive", será? Brother, essa é mais uma daquelas coisas, "sem respostas", que dá o que pensar.
Abraços!

Jacqueline disse...

"...educar-se-ia enquanto semente
viajando num crescendo por dentro de mim
faria oposição ao governo vigente
carregaria a mesma revolta silenciosa
liberta na voz sem fala"

Que retrato bonito! Singelo e sonhador. Porque todos almejamos um amor que corresponda o nosso amor e as nossas paixões na vida...
Abraço!