segunda-feira, 2 de abril de 2012

Cigarras e formigas esópicas



Por Germano Xavier


- Tem alguma coisa pinicando o meu pé!

Do jeito que estou, é completamente impossível saber do que se trata. Aqui dentro é muito apertado e sem nenhum conforto, sem contar a falta de ar puro. Minha respiração fica prejudicada. Isto irrita! Há bem pouco moro aqui. A bem da verdade é que não queria sair de onde eu morava. Era um sitiozinho muito tranquilo, repleto de verde, onde eu criava galinhas e galos, patos e patas, pavões, gansos e pássaros, muitos pássaros. Todos coloridos e cantantes. Vocês precisavam ouvir o canto do meu sofrê! Era incrível e quase que inacreditável que um "serzinho" daquele tamanho pudesse ser tão imponente e belo. Tenho muita saudade do meu sofrê. Aquele laranja radiante de sua plumagem, aquele bico preto feito agulha...

- Essa formiga já está me dando nos nervos!

Tenho a impressão de que já não é mais uma formiga apenas, mas sim um formigueiro inteiro. As formigas caminham por todo o comprimento de minha perna e eu não tenho como afastá-las. Devem ser os meus fantasmas da infância, que me acompanharam durante toda a minha vida. Pois é, eles acham que eu estou morto, mas eu não estou. Eles acham que, depois que paramos de respirar, tudo se acaba, tudo desmorona e vaza no vazio. O que eles não desconfiam é que existem outros ares para serem respirados, inalados.

- Sai, formiga!

Para ser mais sincero ainda, vou dizer que estou até começando a gostar daqui. O mais desconfortável de tudo são estas formigas que não largam do meu pé e, também, o frio que faz durante todo o dia. É um frio de matar, de congelar pedra, como se diz por aí.

Tenho saudade é do sol. E mais ainda da lua. Ah, eu amava olhar para a lua quando a noite caía. Era tão lindo ver as estrelas no firmamento, claras, cintilantes, luminosas. Elas me traziam paz, muita paz.

- Sai, formiga desgraçada!

Essas formigas parecem muito com os... Tempo enlameado de sentimentos e de expressões revoltosas... Elas agem da mesma forma, as formigas! Não largam do meu pé.

- Mas... um bom dia para você! É dia aí fora? Noite?

É difícil sentir-se cego de uma hora para outra. A realidade aqui é muito escura. Na Terra, tudo é mais diáfano, mais límpido. Mas, será? Será mesmo que os espinhos não mancham a beleza ingênua das rosas? Será você mesmo a alma que pensas possuir? E as surpresas, elas estão mortas? Estão? Figuras em outra dimensão que não a da caixa-preta, selada, escura e mórbida? O meu nome é Morto, e o seu?

5 comentários:

Germano Viana Xavier disse...

Crédito da imagem:

"Formiga 2
by ~DeliriumCordia"
Deviantart

Alexandre Pedro disse...

Nossa....perfeito...adorei....
Seu blog é excelente...vc escreve muito bem...Parabéns!
abraço

Tatiana disse...

xô formiga! Um texto delicado, verdeiro e doce. Deve ser por isso q as formigas não te deixam!
abraços

Camilla disse...

Xavier,
Primeiro pensei hermético, conforme fui lendo me identifiquei com as formigas. São elas as vilãs. Eu também tenho formigas pelo corpo..
Ai Deus, acabe com as formigas!
Tebet

Orvalho do céu disse...

OLÁ,
Estive ausente pela Quaresma...

Páscoa é:

"Coragem é a resistência ao medo,
domínio do medo,
e não a ausência do medo."
(Mark Twain )

SAIR DO PRÓPRIO TÚMULO

Jesus libertou-me... enviou-me anjos para me soltar das amarras que me prendiam...

Apóstolo Pedro: “precisamos dar razões que justifiquem a nossa Esperança” (1Ps 3,15).

FELIZ PÁSCOA PARA TODOS NÓS!!!
Abraços fraternos de paz