sábado, 7 de abril de 2012

Casa Afrânio Peixoto preserva a memória de baiano ilustre


 Por Germano Xavier

Se você é um apaixonado por literatura, ficcional ou científica, ou se você é simplesmente um curioso para com as riquezas edificantes do Brasil, mais especificadamente da Chapada Diamantina, não pode deixar de conhecer a Casa Afrânio Peixoto. Sediada à cidade polo das Lavras Diamantinas, Lençóis-BA, o referido centro de cultura tem por missão principal a preservação da memória de um de seus cidadãos mais ilustres. Sueli Seixas, diretora da Casa, relata que o local foi reconstruído em 1970 e abriga informações raras e especializadas no autor, funcionando também como museu, além de possuir um auditório para eventos culturais que também leva o nome do médico e escritor chapadense. Afrânio Peixoto foi membro da Academia Brasileira de Letras, um exímio escritor, médico atuante e um pesquisar incansável. “Aqui é a Casa Afrânio Peixoto, escritor que nasceu nesta casa em 17 de dezembro de 1876, morou aqui até os 9 anos de idade, foi para Canavieiras, de Canavieiras foi para Salvador, Rio de Janeiro e daí ele ganhou o mundo. Foi uma pessoa que, numa época em que ainda não havia aviões, atravessava o Atlântico e chegava à Europa com muita frequência e facilidade. Afrânio conheceu praticamente a Europa inteira, tendo Portugal como sua segunda pátria, pois descobriu que sua origem era diretamente atrelada ao povo português e ele foi lá buscar essa sua origem, identificou-se bastante com o passar do tempo, tanto que se tornou professor honorário da Universidade de Coimbra, tendo deixado no acervo desta universidade várias de suas pesquisas”, conta Sueli. Ainda segundo a fala da diretora da Casa, infelizmente poucas pessoas daqui mesmo da região procuram o Afrânio para ser o mote de algum de seus prováveis trabalhos acadêmicos. Recebemos mais visitas de pesquisadores ligados a universidades e institutos de cultura de outras regiões do país, assim como de algumas vinculadas a universidades estrangeiras. “Tive contato com uma pesquisadora que estava elaborando sua pesquisa de pós-doutorado e tivemos em conjunto um projeto para repatriar a pesquisa de Afrânio que se encontra em Coimbra, mas por motivos financeiros acabou não dando certo. Um acervo que, sem dúvida, tem a sua importância e precisa vir ao Brasil. Apesar de Afrânio ter sido um escritor da área ficcional, foi médico, trabalhou intensamente na área científica, trabalho este que está relacionado com as duas vertentes que ele mais se enveredou: ciência e ficção. Aqui nós guardamos, conservamos, preservamos e buscamos tentativas de reeditar e restaurar livros de autoria de Afrânio. Estamos sempre entrando em editais para buscar retorno. Ele escreveu exageradamente 140 títulos, entre separatas de revistas, artigos, livros, além de material de cunho jornalístico. Para você ter uma ideia, ele autocriticava os seus próprios livros e ainda publicava isto nos jornais”, reforça. Sujeito atípico, muito organizado, colecionador nato de imagens, mapas, pedras da região, Afrânio destacou-se em tudo o que fez. “Muito meticuloso. Ele viajava e sempre fazia uma lista dos gastos. Era muito elegante também, viajavam ele, a esposa, o filho e a governanta, sempre. Aqui também temos objetos, óleo sobre tela, o violino que ele tocava nas horas vagas, seu fardão da Academia Brasileira de Letras, a escrivaninha que ele utilizou para escrever toda a sua obra. Era ambidestro, possuía uma vida intensa, foi professor e exerceu vários cargos, ajudou a criar a Universidade do Brasil com Anísio Teixeira, exerceu a medicina, ele era da área da medicina legal... foi ele que fez a autopsia de Euclides da Cunha. Também clinicava, teve sete biógrafos, e um deles disse que Afrânio fez pacto com Jeová para alargar suas horas diárias, pois achava impossível uma pessoa fazer tudo o que Afrânio fazia em 24 horas”, relata Sueli. Pesquisador intenso, quando lançou sua obra intitulada Rosa Mística, em 1900, antecipou Freud em 14 anos no tocante a temas como o inconsciente, o incesto e o narcisismo. Psicanalista, foi também diretor do Hospício Nacional de Alienados, onde criou uma biblioteca interna com livros em vários idiomas. “Certa vez chamou um internado para lhe propor sua alta. O paciente disse: “Não me tire daqui, que vou fazer lá fora?!, lá fora eu não tenho crédito de razão alguma”. Ele ajudava a quem podia psicologicamente. Em cada cargo ele produzia livros sobre suas experiências vividas. De 1911 a 1940, ele foi o escritor mais lido da língua portuguesa, tanto no Brasil como em Portugal. Foram 600.000 livros editados em todas as áreas”, reforça. O século XXI é o século do resgate, o momento propício à valoração da memória, e é justamente por isso que iniciativas como a da Casa Afrânio Peixoto se mostram tão importantes. “O nome de Afrânio está espalhado por todo o Brasil em hospitais, ruas, avenidas, etc. Trabalhamos a 425 km de Salvador, onde ficam as outras bibliotecas que são mantidas pela Fundação Pedro Calmon, órgão que nos direciona. Essa distância dificulta muito o nosso trabalho, mas não vamos nunca desistir”, reflete Sueli.

Um comentário:

Vilma pires disse...

Lendo esse texto e pesquisando outros, fiquei com vontade de conhecer mais sobre a vida e obra de Afrânio Peixoto!!!