domingo, 22 de abril de 2012

Moço-palavra, homem-escrita


Por Iara Fernandes

Minha escrita tomba mole diante da tua. Não sei ser entrecortada com tanta amarração, nem interrompida com tanta sintonia. Todas as tuas palavras agem conforme querem e, não querendo a sequência, compõem exuberantes mosaicos. Eu não sei isso assim. Sinto tua densa sintaxe, porém não vejo o romantismo de sujeitos e verbos, as redundâncias expostas como únicas verdades. Teus versos não se carregam dessas mazelinhas... Aiai... Meu coração vai dispensar a mescalina pra se dopar de tuas dores. E se peiote houvesse pra entorpecê-lo, recusaria também. Contigo, quem carece disso? Serás tu o cara que conhece a solidão dos números primos? Isso eu não saberia, tá vendo? Misturar números com solidão. Tu infundes zona de sombra com garganta, teu verbo é conjugado com lama e é ele que te preenche e te faz acordar antes de todas as manhãs do mundo. Não quero escrever com tu, não. Mas eu prefiro a tua mão, a tua rédea. Gosto de me ler, não nego, entretanto queria mais desordem, caos, explosões e desmandos nos meus textos. Não precisa me dizer essa coisa de construir fantasia com ajuda do outro. Are!! Fantasia real tem que ser na solidão de dois, de três ou de nenhum. Tu neste universo paralelo, tudo aqui é um nadinha sem tua palavra. Eu também falo tanto por dentro e quando minhas milhões de pessoas querem falar todas juntas, me agarro a ler Germano, o homem eterno. O pensamento desanuvia e se entrega aos objetos, meninos, amadas e bad trips desse Xavier. Ele parte em águas quebradas e sabe direitinho ensinar que tudo se acaba, que nada se acaba. É o moço-palavras, o homem-escrita, um coração que rastreia o mundo, olhos que farejam azimutes e lábios que cantam, na desrima agreste, ácida, inquieta um universo provocante. Como te esquecer, Germano, como? Conhecer tua lavra é pau, é pedra.

2 comentários:

Germano Viana Xavier disse...

Crédito da imagem:

"SUNLOVE by ~AlexanderKucherenko"
DEviantart

Jullio Machado disse...

Pelo que captei: Uma resenha romanceada, sintetizada, de que tem propriedade,com conhecimento de causa do objeto vivente em questão.
Seguimos, magno poeta!