terça-feira, 6 de novembro de 2012

A prática da leitura


Por Germano Xavier

É inegável a fundamental importância da prática da leitura dentro e fora da escola, visto que, embasados nesse ato, tornamo-nos aptos a participar ativamente do processo de reconstrução da sociedade. Somos conscientes do quanto é difícil ler neste país, especialmente os bons livros, não apenas pelo alto índice de desinteresse do estudante. Desinteresse que, na maioria dos casos, é gerado pela irregular seleção e quantidade insuficiente do material de leitura colocado à disposição dos alunos, como também pela inadequação da metodologia usada pelo professor. Este, vítima, também, do processo de manipulação da classe dominante, que de um modo ou de outro o impossibilita de crescer culturalmente, via leitura ou outros meios de incentivo, tem como conseqüência a inviabilidade de mudar sua prática de ensino, posto que o material de leitura adequado é extremamente deficiente.

A leitura é a ponte que liga o leitor à realidade que o circunda, fazendo-o perceber claramente suas contradições e, diante destas, adquirir um posicionamento crítico diante da vida, buscando alternativas de melhoras para si e para a coletividade.

Cabe ao leitor, tanto aluno como professor:

Ler criticamente a realidade através dos autores que a leram criticamente. E mais: transformar essa realidade a partir daquilo que foi conhecido e construído no prazer da leitura (SILVA, 1991, p.31).

Posto que a leitura é o alicerce necessário diante do processo educacional, mediante os obstáculos em propagá-la, sendo que esse trabalho não depende somente dos professores, mas, também, das classes dominantes.

Podemos constatar que:

Numa sociedade constituída de classes com interesses antagônicos, a leitura se apresenta como uma questão de privilégio e não de direito de toda a população; por isso mesmo, a classe dirigente, através de diferentes manobras políticas, não só bloqueia o acesso aos livros, como também distorce e fragmenta o conteúdo das obras, de modo que a gênese dos fatos do real não seja descoberta através da leitura (SILVA, 1991, p.15).

Apesar dos impedimentos aqui ressaltados, o professor tem se tornado cada vez mais consciente do seu papel na sociedade e motivado por sua vontade de crescer profissional e intelectualmente, buscando sempre construir sua prática no tocante ao ensino da leitura e, com muito esforço, incutir na mente de seus alunos a extrema necessidade de se adquirir competência de leitor crítico, porque somente munido de muita reflexão, sagacidade e fundamentação teórica é possível transformar a sociedade desigual na qual vivemos, e acreditamos que essa bagagem cultural que necessitamos com tamanha urgência, procede, mormente, da leitura.

Sendo que somos convictos de que:

As possibilidades do exercício da crítica através da leitura do livro (ou similares) são bem maiores do que aquelas proporcionadas por outros veículos de comunicação (SILVA, 1991, p.12).

Os professores estão sendo obrigados a se desdobrar, diante do estado e do tamanho das exigências sociais, fato que anda ao lado e com a mesma velocidade da necessidade de dar continuidade a sua formação. Ainda sobre a relação do estado de perplexidade do professor diante das constantes obrigações sociais e da sua necessidade de formação continuada. NÓVOA, (2005, p.29) diz que:

Os professores encontram-se numa encruzilhada: os tempos são para refazer identidades. A adesão a novos valores pode facilitar a redução das margens de ambigüidade que afetam hoje a profissão docente. É contribuir para que os professores voltem a sentir-se bem na sua pele.

Tais mudanças, somadas aos desafios já existentes, impostos pela atual ordem e modelo da economia globalizada, vem causando cada vez mais a concentração de riquezas em uma minoria, em discordância do empobrecimento de uma maioria. O profissional que trabalha na área das ciências humanas e sociais, colocando em destaque o profissional da educação, percebe-se num ambiente fechado e inseguro quanto à sua função de educador, e, em conseqüência, impotente para fazer exercer o seu papel de condutor de mudanças e promotor de importantes transformações sociais.

O professor, ancorado por esses obstáculos, por vezes intransponíveis, vê-se na enorme dificuldade de revelar que o exercício da leitura não “dói”, e que, por sua vez, é demasiado saudável. Até porque:

Ninguém gosta de fazer aquilo que é difícil demais, nem aquilo do qual não consegue extrair o sentido. Essa é uma boa caracterização da tarefa de ler em sala de aula: para uma grande maioria dos alunos ela é difícil demais, justamente porque ela não faz sentido. Devemos lembrar que, para a maioria, a leitura não é aquela atividade no aconchego do lar, no canto preferido, que nos permite nos isolarmos, sonhar, esquecer, entrar em outros mundos, e que tem suas primeiras associações nas estórias que a nossa mãe nos lia antes de dormir (KLEIMAN, 2004, p.16).

Após compreender a língua como “aparelho de comunicação”, o professor direciona o trabalho com questões da língua como se essa fosse um “objeto”, algo imótuo, estático, porém, completamente ou parcialmente abstrato, por vezes até mais sublime que o próprio homem. Os leitores, ou os usuários, a partir desse ponto de vista, tornam-se meros emissores e receptores, submissos ao “complexo língua”, posto que:

A prática de sala de aula, não apenas da aula de leitura, não propicia a interação entre professor e aluno. Em vez de um discurso que é construído conjuntamente por professor e alunos, temos primeiro uma leitura silenciosa ou em voz alta do texto, e depois, uma série de pontos a serem discutidos, por meio de perguntas sobre o texto, que não levam em conta se o aluno de fato o compreendeu. Trata-se, na maioria dos casos, de um monólogo do professor para os alunos escutarem. Nesse monólogo o professor tipicamente transmite para os alunos uma versão, que passa a ser a versão autorizada do texto (KLEIMAN, 2004, p.24).

Os benefícios proporcionados por uma boa leitura são inumeráveis. Instrumento de inclusão e, por conseguinte, de exclusão social, a prática ou não da leitura reflete diretamente na vida de cada indivíduo, seja ele negro ou branco, rico ou pobre. Todavia, com o advento da implantação e funcionamento massificado das diversas tecnologias midiáticas, o exercício dessa prática sofreu transformações relevantes nas últimas décadas, principalmente com a explosão da internet.

A escola deveria desempenhar esse papel de incentivadora, mas não tem o feito da melhor maneira. A escola não tem despertado o prazer pela leitura, o livro paradidático ficou sendo um instrumento de avaliação e os professores passaram a cobrar resumos e fichas de leitura. Mesmo crianças gostavam de ler na primeira infância perderam o prazer na escola, porque os alunos têm de responder a questões chatas sobre os livros. E, certamente, estamos elucidando erros facilmente perceptíveis, ou tidos como “naturais”.


Este texto faz parte do Projeto de Pesquisa intitulado de "A prática da leitura na 5ª série do Ensino Fundamental: Construtora de Conhecimentos". O texto foi escrito em parceria com Elainy Cristina da Silva, colega de Letras, em 2007.

Um comentário: