Por Germano Xavier
Iraquara nasceu ao acaso, como muitas cidades brasileiras. Certo dia, pelos idos de 1860, quando de um lugar de nome Tijuco partiu para Canabrava (hoje Canabrasil – será que estou certo disso?) um homem chamado Manoel Félix da Cruz, filho de Geraldo Félix da Cruz e de D. Maria dos Anjos, inventou de achar um lugar para dar água aos animais e à cambada de tropeiros que vinham abrindo uma picada, caminho estreito no meio do matagal, na direção da Parnaíba, hoje Iraporanga. O primeiro nome de Iraquara foi Poço de Manoel Félix, batizado pelas mãos de seu próprio fundador.
Sem suspeitar do destino, casou-se com quatro moças - duas Marias, uma Clarinha e uma Silvéria-, e atrás do umbuzeiro viu nascer uma “ninhada” que o tempo se encarregou de ir alimentando, germinando, fortificando. Só do Manoel mesmo foram dez, sete meninas e três meninos. Aí é quando a gente começa a perder a conta. Os Félix, os Carvalho, os Araújo, os Souza Santos, os Deodatos. Um mundo de gente foi aparecendo nos arredores do “Poço” e a cidade sendo elevada, qual Torre de Babel.
Depois foi a pessoa da Ana criança, Antenor Marques da vendinha, Pedro Bispo dos Anjos e seu filho Sr. Isidoro da lojinha; João Esquivel de Athayde que preparava pomadas; Leolino Carvalho lá da Lapinha – que funcionava como uma espécie de bairro do "Poço"; Almir Braga, médico sanitarista; Dr. Brandão; Dr. Cutia Coelho; Dr. Eutrópio dos Santos Reis; Dr. Aurélio dos Santos Reis, o “doutor de dentes”, como o chamavam; Dr. Wood e Dr. Américo Chagas lá das bandas de Wagner-BA. Havia também o curandeiro Francisco Novaes, o “Chico Flor”; Justino, o primeiro padre; Euzébio Gaspar de Souza, doador da imagem de Nossa Senhora do Livramento à igreja católica da cidade; Joaquim Pires Maciel, o “seu” Quinqueira, proprietário do primeiro aparelho de rádio; Generaldo de Palmeiras, Agripino e João Rocha, donos dos primeiros Ford Fobicas e motivadores da idéia de que o fim do mundo estava próximo - a aparição dos primeiros automóveis trouxe sentimentos diversificados no restante da população, pois havia quem acreditasse que o mundo ia acabar.
Professor Francisco Aguiar e professor Ribeiro; Isa, Maria Ribeiro, Valdete, Maria Matos, Sisa e Eulina; Edite Alves de Souza, a Didi; Enedina Lopes e Grisela Neves; Anna Maria Félix, Dilza Cunha, Zélia Ribeiro, Marly Pereira, Alzira Rosa, Maria Torres, Robson Ribeiro, José Ferreira: primeiros do Centro Educacional Manoel Teixeira Leite; Simpliciano de Oliveira Lima do “oásis” Pratinha. Horácio de Matos coronel, Timóteo jagunço e a Coluna Prestes chegando! Manoel Fabrício, coronel Henrique de Oliveira, Jurandy Toscano de Brito, vereador Bolivar Sampaio, incentivador do esporte; José Alves de Almeida, o seu Juquinha, responsável pelas lâmpadas das ruas iraquarenses; Sá Preta, Maria, Natalina e Fone, carregadores de água; Rosalvo, Vavá, Edmundo nos transportes; Sílvio de Almeida, Otacílio Durães e Valter Azevedo Coutinho, primeiro prefeito de Iraquara.
Em 10 de julho de 1962 o registro no Diário Oficial dava Iraquara como emancipada. Aí foi a vez dos vereadores Ireno, José Catulé, Ângelo Matos, José Mendes; Dué, José Viana de Souza, Raimundo César Solon de Oliveira, Reinaldo Azevedo Viana, Haroldo Geraldo de Souza, Paulo Miranda Leles, Walterson Ribeiro Coutinho, todos prefeitos; Deocleciano, Abílio, João Lucido, Lió; Maria Marieta e Candinha, parteiras que retiraram das barrigas das mulheres centenas de filhos da terra que logo viriam a se juntar a outros tantos conterrâneos e formar, como de um só empurrão, o espectro identitário que hoje o município de aproximadamente 30 mil habitantes carrega em seus traços e trejeitos.
Iraquara que também é a Caiçara, a Zabelê, o Mulungu dos Pires, a Santa Rita, a Água de Rega, a Canabrava, a Várzea, o São José, a Queimada, a Quixaba, o Riacho do Mel, o Mato Preto, o Ponto Certo e tantos outros vilarejos de gente humana humilde e trabalhadora. Iraquara que também é a do meu pai pernambucano Carlos Adailton, a da minha mãe canaranense Irlan Pimenta, a do meu irmão Gustavo Xavier e também a minha. Iraquara tão pequena, Iraquara tão grande. Iraquara universo.
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Crédito da imagem:
"Baby Dispenser by ~spellbound7"
Deviantart
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